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Brasília

Metrô: greve evidencia a precariedade

Arquivo Geral

05/12/2017 7h00

Foto: John Stangherlin

Raphaella Sconetto
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Trens parados, usuários andando nos trilhos e bilheteria depredada. A confusão que aconteceu ontem, na estação Praça do Relógio, após pane em um equipamento da Companhia do Metropolitano do DF (Metrô-DF), expõe problemas ainda maiores, que se intensificam durante a greve: déficit de servidores, manutenção precária e uma malha metroviária que não atende todas as regiões do DF.

Por volta das 6h30 de ontem, um problema técnico na máquina de chave fez com que os trens circulassem em velocidade reduzida. Mais tarde, com os vagões lotados por conta do horário de pico, usuários começaram um tumulto, quebrando janelas e vidros, e alguém acionou o botão de emergência. Com o carro parado a cerca de 100 metros da Estação Praça do Relógio (Taguatinga), as portas dos vagões se abriram e os usuários foram caminhando até a estação. Ali, alguns quebraram a vidraça da bilheteria.

“A manutenção é uma porcaria”, acusa o especialista em transporte Carlos Penna. “É um trabalho a ser feito continuamente, senão todo o sistema vai se deteriorando. Existem 32 trens e o presidente da empresa diz que em horário de pico consegue colocar 24 em funcionamento. Oito não funcionam. Eu teria vergonha de dizer isso. Ano passado eram 26 em horário de pico. Ou seja, em 2017 mais dois ficaram encostados”, ataca. Por ano, o Metrô gasta R$ 1,5 milhão com todos os tipos de manutenção, realizada por empresa terceirizada.

O especialista elenca outras dificuldades. “Há déficit de pessoal. Era para ter 2,1 mil funcionários para poder funcionar direito, e no último dado que tive acesso eram 1,1 mil no quadro atual. Os números de trens e de estações são baixos. Tem estação pronta e que não abre. É uma empresa que não consegue fazer o sistema funcionar como um todo”, dispara.

A contratação de servidores é uma das principais reivindicações do Sindicato dos Metroviários (SindMetrô). Pelas contas dos sindicalistas, em 2016 a companhia deixou de arrecadar R$ 3,1 milhões com a abertura das catracas pela falta de funcionários. De janeiro a julho deste ano, foram R$ 2,2 milhões.

A diretora do Sindmetrô Renata Campos afirma que a categoria espera o cumprimento do acordo assinado em 2015, que prevê reajuste salarial e convocação dos concursados: “Estavam previstos 320 servidores mais 301 para cadastro reserva. Esse é o número que precisamos para que o metrô funcione”.

“Temos diversas situações-problema: descaso da empresa com o sistema, manutenção precária, quantitativo baixo de funcionários. Estamos reivindicando uma causa justa”, completa.

A companhia reconhece o déficit de pessoal, que afeta principalmente os serviços de operação – segurança e estações. Por isso, em nota, o Metrô informou que deu início às contratações dos 232 aprovados no concurso de 2013. “Já tomaram posse 120 concursados. O cronograma atenderá mais 126, que tomarão posse em fevereiro e maio de 2018. Estão sendo chamados mais candidatos do que o previsto inicialmente no concurso”, alega.

Usuários destacam insatisfação

A estimativa é de que 160 mil pessoas utilizem o metrô diariamente, e elas não poupam críticas. O estudante John Douglas Taiwan, 21 anos, conta que ontem, após as falhas, a velocidade estava normal. “O problema é a demora para embarcar. Esperei mais de 30 minutos fora do horário de pico”, conta.

Para o estudante, a greve veio para complicar ainda mais os serviços. “Em geral já deixa muito a desejar. Tem que aumentar a frota para não ficar tão lotado. Além do que o metrô não chega a todas as regiões. Brasília carece disso”, aponta John.

A mesma visão tem o bombeiro militar Diovani Martins, 48 anos. “A greve piorou tudo. É uma passagem muito cara para a gente não ter resultado, não ter comodidade”, alega. Segundo ele, uma solução viável seria diminuir o intervalo entre os trens. “Ajudaria a amenizar os problemas”, completa o bombeiro.

O casal Mônica e Alex Alves, 38 e 43 anos, respectivamente, também utiliza diariamente o transporte. As reclamações são as mesmas: lotação e demora. “O transporte público aumentou o preço, e a qualidade não é vista. Nós, usuários, sentimos falta disso, de um cuidado maior”, afirma o militar.

Greve continua

Não há nenhuma previsão de término da greve dos metroviários, que já dura 27 dias. Segundo a diretora do Sindmetrô Renata Campos, a categoria ainda não recebeu nenhuma proposta do GDF nem da empresa. “Continuamos da mesma forma. Nós nos colocamos à disposição para conversar sobre as tratativas da greve, mas não quiseram”, alega.

O desembargador Pedro Luís Vicentin Foltran, do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (TRT/10), determinou um esquema de operação do serviço durante a greve. No horário de pico – das 6h às 8h45 e 16h45 às 19h30 -, 75% da frota têm que rodar, ou 18 trens. Fora deste horário, 30% dos trens têm de prestar o serviço.

No fim de semana, os números são diferentes: no sábado, a quantidade mínima de trens é modificada – 11 durante o horário de pico e entre três e quatro no restante do tempo. No domingo, devem circular entre dois e três trens.

Saiba mais

  • No Distrito Federal há 42 quilômetros de trilhos, duas linhas, 24 estações e 32 trens, que transportam cerca de 160 mil pessoas diariamente. O metrô liga o Plano Piloto a Ceilândia e Samambaia, passando por Asa Sul, Setor Policial Sul, Estrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA), Guará, Park Way, Águas Claras e Taguatinga. Cinco estações estão fechadas, sem inauguração, há décadas. Na Asa Sul, as estações 104 Sul, 106 Sul e 110 Sul e Estrada Parque, em Taguatinga, estão fechadas há 19 anos. A estação Onoyama, em Ceilândia, está há 11 anos fechada para o público.

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