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Brasília

Mesmo com dificuldade, dia de Cosme e Damião no DF é marcado pelos doces

Arquivo Geral

28/09/2016 7h00

Criançada se esbaldou no dia em que as gostosuras são liberadas. Foto: Josemar Gonçalves

João Paulo Mariano
Especial para o Jornal de Brasília

Todos os anos, os preparativos para o dia de Cosme e Damião na casa da professora Sheila Teixeira começam dias antes. Ela compra os doces, junta a família e arruma os pacotes para deixar tudo pronto para as crianças que batem à porta com a intenção de pedir as guloseimas. Ela faz da mesma forma há 20 anos: atende cada um dos “amados” com um sorriso.

A entrega dos doces é símbolo de caridade, cuidado e carinho com os pequenos. Apesar de o burburinho na cidade indicar que a distribuição é bem menor do que anos atrás, a tradição continua – e, se depender de algumas pessoas, deve durar por muito tempo.

Sheila explica que o costume começou com a mãe. Não era promessa, apenas uma forma de ter contato com as crianças e proporcionar a felicidade delas. A professora comenta que seguiu o hábito quando morou em Goiânia, mas a distribuição dos doces em homenagem a Cosme e Damião não é tão forte na capital goiana. “Dava o dia, eu ia para a praça e distribuía (os doces). Eu era conhecida como a louca da praça”, brinca.

A bombeiro civil Suellen Regina é moradora do Cruzeiro, amiga de Sheila e segue a tradição há seis anos. Tudo começou depois de uma promessa. “Não posso falar o que foi. Mas, enquanto for abençoada, vou continuar com esse propósito”, afirma.

O presidente da Aruc, Moacir Oliveira Filho, conhecido como Moa, faz questão de manter a prática, seguida pela escola de samba há 55 anos. “Nós acreditamos que, se não tivesse a distribuição de doces em Cosme e Damião, não seria um bom Carnaval no próximo ano. A organização do Carnaval começava nessa data”, comenta.

Nem todo mundo conhece a história de Cosme e Damião. Eles eram dois irmãos gêmeos médicos que viveram na Ásia Menor, entre os séculos III e IV. Eram reconhecidos por suas habilidades de curar pessoas sem cobrar. Foram mortos no ano 300, depois da perseguição de Diocleciano. O dia deles é comemorado em 26 de setembro. Mas, devido à influencia cultural de religiões de matrizes africanas no Brasil, são lembrados no dia 27, quando ocorre cerimônia dedicada aos orixás Ibejis, também gêmeos.

Não é mais como antes

A distribuição de doces é um símbolo do cuidado que as entidades religiosas tinham com as crianças. Porém, atualmente, a ação é menor que outrora. “Hoje (ontem), a gente viu pessoas correndo atrás das crianças, não os meninos atrás dos doces”, compara a bilheteira Patrícia Matias. Ela estava na escola de samba da Aruc com as duas filhas, Daniela e Hingrid, e a sobrinha, Maria Eduarda.

Para Patrícia, durante sua infância, a distribuição era muito maior e as famílias se envolviam mais na entrega. Pela manhã, ela distribuiu doces na sua quadra. À tarde, foi para a tradicional entrega de guloseimas na Aruc.

Se depender de algumas pessoas, não há crise que faça as crianças ficarem sem doces. Dário Augusto Arantes é funcionário público e distribui as guloseimas há cinco anos por achar importante. Para ele, o gasto não é incômodo nenhum e “o retorno, muitíssimo maior, em especial o emocional”.

Mel Bispo é gerente de uma loja de doces na área central do Plano Piloto e garante que, apesar dos maus bocados pelos quais os comerciantes passam, a loja conseguiu um bom número de vendas.

No comércio

Apesar disso, o Sindivarejista informa que a categoria amargou uma diminuição de pelo menos 10% nas vendas em relação a anos anteriores. O dia de Cosme e Damião é a segunda data mais importante para o ramo, perdendo para a Páscoa. A gerente complementa que a loja investiu no bom atendimento e em promoções para atrair os clientes. Para ela, deu tão certo que os últimos dois dias foram bem intensos.

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