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Brasília

Mercado imobiliário tenta voltar ao equilíbrio

Arquivo Geral

29/03/2018 7h00

Atualizada 28/03/2018 23h32

Dados foram apresentados em painel da imobiliária Lopes Royal, no edifício do Sindicato da Indústria da Construção Civil. Foto: João Stangherlin

Eric Zambon
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O mercado imobiliário do DF vive um desequilíbrio causado pela superoferta de unidades em 2010 e 2011. Assim, as empresas do setor lidaram com quantidade de vendas de 3,8 mil imóveis no último ano, resultado cinco vezes pior em relação ao período de ouro, e acumularam um estoque de pouco mais de 4 mil produtos, menos da metade do que é costumeiro para Brasília.

Os dados foram apresentados em um painel da imobiliária Lopes Royal, voltado a empresários do ramo no edifício do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-DF), no SIA, na manhã de ontem. Os números são mais amplos em relação aos obtidos pela Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), pois foram colhidos junto a uma gama maior de agentes, não apenas aos sócios da entidade.

De acordo com o levantamento, na melhor cidade para o ramo no DF, Águas Claras, 885 unidades, entre residenciais e comerciais, pertencem a empreendedoras, enquanto mais de 3 mil estão no mercado de revenda, composto por investidores independentes, grosso modo. Na visão da Lopes Royal, essa realidade incomoda e pode fazer com que, até o fim de 2018, as empresas especializadas não tenham nenhum exemplar de dois e três quartos para vender.

Papelada prejudica

A falta de oferta pode ser explicada e reverbera na indústria local. O Índice de Desenvolvimento Econômico do DF (Idecon-DF), calculado pela Codeplan, revelou retração de 3,1% na atividade da Construção Civil em 2017, na comparação com o ano anterior. É o segmento mais dependente da boa continuidade do mercado imobiliário.

“Foi a burocracia que atrapalhou novos lançamentos e inibiu a indústria da Construção Civil”, crava o presidente da Ademi, Paulo Muniz, presente ao evento. Na visão dele, a morosidade do Governo de Brasília em liberar cartas de Habite-se foi o grande entrave para o setor criar gordura, seguida pela recessão que aumentou o desemprego e tirou o poder de compra dos consumidores em 2015 e 2016.

“Enquanto isso, vimos a proliferação do mercado paralelo. Em Vicente Pires, por exemplo, há 700 prédios”, acrescenta Muniz, que revela indignação com a situação. “Até que enfim o Ministério Público resolveu agir e mandou derrubar dois edifícios e constatou mais de 200 irregularidades”, dispara.

O empresário e ex-governador interino do DF, Paulo Octávio, também bate na tecla de que as ilegalidade minam a atuação dos empreendedores. “Quem está formalizado sofre todos os constrangimentos, paga IPTU e outros tributos. Enquanto isso, vemos os informais se consolidarem em uma cidade sem que se faça muita coisa a respeito”, critica, referindo-se a Vicente Pires.

O painel da Lopes Royal também tentou apresentar um cenário melhor para 2018, como um bom corretor faria para convencer um interessado a adquirir um imóvel. As chaves para o desentrave, na visão da imobiliária, passam pelo fortalecimento do Noroeste, com foco na alta renda, e de Samambaia, com escopo na linha econômica.

A zona de luxo ao norte da cidade é tratada como uma joia não lapidada. Apenas este ano obras prometidas desde 2010, como quadras poliesportivas e áreas comuns arborizadas, estão em andamento. Os pequenos progressos, no entanto, são tratados com entusiasmo pelo setor, que prevê pelo menos 12 novos lançamentos por lá até dezembro, com metro quadrado vendido, em média, a R$ 12 mil.

“A Terracap não investiu dinheiro na infraestrutura de lá, como acordado, para colocar em outros lugares, como o Estádio (Mané Garrincha)”, reclama o sócio-diretor da incorporadora Apex, Eduardo Aroeira. Ele adota um discurso otimista ao projetar o desenvolvimento contínuo da região e também aposta no fortalecimento em Samambaia, com potencial para vender muitas unidades de dois quartos.

“As condições estão sendo dadas ao consumidor. A taxa Selic (juro básico) está baixa, a demanda também, e isso, somado à retomada econômica do País, gera a tendência de recuperação”, discursa. Ele lembra que os juros baixos favorecem a volta do armazenamento de recursos em cadernetas de poupanças, o que, indiretamente, torna as instituições financeiras mais propensas a aceitar financiamentos e empréstimos, principais meios de pagamentos de imóveis.

“Uma lei que nunca vai ser revogada é a da oferta e da procura, então o mercado vai ser aquecido por isso”, conclui Aroeira, que ainda vê na exploração da DF-140, uma área com 65% de terras comercializadas, um caminho sustentável de expansão para a cidade. Se a previsão é concreta ou se é papo de corretor, descobriremos a curto prazo.

Saiba mais

  • Conforme o levantamento da Lopes Royal, o Noroeste tem uma população estimada de 14 mil pessoas atualmente, sendo que 74% dessas pessoas vieram do Plano Piloto.
  • Os dados da imobiliária apontam que 34% dos compradores de unidades no setor moravam na Asa Norte anteriormente, 13% no Lago Norte, 10% na Asa Sul, 10% no Sudoeste e 7% no Lago Sul.
  • Samambaia é a segunda região do DF com maior estoque, em números absolutos, ficando atrás apenas de Águas Claras. A cidade tem 806 imóveis em oferta, entre residenciais e comerciais, à frente do Noroeste (664), inclusive.
  • O Gama tem o maior estoque proporcional de unidades, com 520 produtos em oferta.

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