Menu
Brasília

Meio ambiente: a cidade cresce, e o Cerrado desaparece

Arquivo Geral

04/06/2013 9h00

Nos próximos 20 anos, Brasília pode ficar conhecida como o deserto brasileiro. A previsão é do Programa Cerrado, promovido pela organização Conservação Internacional (CI). A omissão do governo em proteger e fiscalizar o Cerrado torna o futuro do bioma cada dia mais dramático. O rápido desmatamento da região, que hoje chega a três milhões de hectares destruídos por ano, devastou 54% da vegetação original do Distrito Federal. É o que mostra hoje a primeira de uma série de reportagens em alusão à Semana do Meio Ambiente.

 

Enquanto isso, áreas que deveriam estar preservadas, perto de nascentes e córregos, são alvo do crescimento urbano desordenado e, até mesmo, acumulam entulhos. Exemplos disso são Vicente Pires, Setor Habitacional Sol Nascente e a própria Estrutural. Basta uma rápida passada pelos locais para ver a   destruição da natureza. 

 

E é justamente a falta de planejamento que preocupa especialistas em meio ambiente. Originalmente, Brasília foi planejada para abrigar 600 mil habitantes. Entretanto, hoje conta com mais de 2,5 milhões de moradores. Esse crescimento desordenado prejudica todo o bioma, cuja extensão reduziu, conforme mostram os mapas, assustadoramente nos últimos anos.

 

 “O Cerrado, no DF, hoje vive uma situação triste. O processo de ‘desbravamento’ e ocupação desordenada está acabando com a fauna e flora. O pior problema  é a falta de órgãos especializados na fiscalização das áreas que deveriam estar preservadas”, alertou o professor da UnB Eleazar Volpato, especialista em Cerrado.

 

Desmatamento

 

A atividade agropecuária  também é uma das responsáveis pela degradação do bioma.  “A Lei Florestal foi violada e quem desmatou, desmatou. Não acontece nada com essas pessoas”, apontou o especialista.

 

A falta de atenção à preservação do Cerrado, segundo estudo da ONG Conservação Internacional, trouxe  ao longo dos anos grandes danos ambientais, como fragmentação de habitats, extinção da biodiversidade, invasão de espécies exóticas, erosão dos solos, poluição de aquíferos, degradação de ecossistemas, alterações nos regimes de queimadas, desequilíbrios no ciclo do carbono e possivelmente modificações climáticas regionais.

 
 
 
Proteção ao bioma em lei
 
 
 
 
Pela Constituição, apenas a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal mato-grossense e a zona costeira fazem parte do patrimônio nacional. A inclusão do Cerrado, que é um debate atual de ambientalistas, pode garantir a essas áreas um planejamento sobre uso sustentável e mais rigor na fiscalização. Por enquanto, a única garantia de preservação do Cerrado no DF é a ultrapassada legislação ambiental da região. Criada em 1989, a Lei  41  estabelece, entre outras regras, a necessidade de controle, fiscalização, vigilância e proteção ambiental. 
 

EMENDA

 
“Temos uma proposta de emenda constitucional há 14 anos pedindo esse reconhecimento. Se tivéssemos uma Lei Federal, seria possível criar legislação específica, como aconteceu com a Mata Atlânica. O Brasil é um dos maiores produtores de commodities como algodão, soja, milho e carne. É necessário associar produção com sustentabilidade e nos tornarmos melhores produtores. O País investiu muito em desenvolvimento nos últimos 30 anos, mas sem plano de agregar qualidade e sustentabilidade”, acrescentou o biólogo Ricardo Machado, da UnB.
 
 
 
 
Riquezas naturais
 
 
 
 
Qualquer ocupação no Cerrado deveria ser avaliada com estudos prévios e muita cautela. O alerta é das pesquisadoras Fabiana Gois e Ludmilla Aguiar, da Embrapa Cerrado. A região, além de ser uma das produtivas do País, é também rica em biodiversidade e recursos hídricos, que podem simplesmente desaparecer caso não haja, a partir de agora, controle rígido sobre as ações do homem. “É necessário que toda a população, principalmente produtores rurais, compreendam a importância das chamadas áreas remanescentes e passem a preservá-las”, salientaram.
 
 
Ainda segundo Eleazar Volpato, da UnB, outro fator que impede a preservação do bioma Cerrado são as áreas particulares. “No setor privado, uma média de 10% mantém uma reserva legal compatível com a lei. A grande maioria é rural e não mantém quase nada. Não há muita coisa sendo feita”, apontou.
 
 
A legislação não tem sido observada e uma parcela muito pequena tem cuidado devidamente do Cerrado, apontou o especialista. “O ambiente deixa de ser protegido por falta de uma política de motivação aos proprietários rurais”, afirmou.
 
 
 
 
 
 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado