Menu
Brasília

Mães e bebês não conseguem alta no Hospital de Ceilândia por falta de pediatras

Arquivo Geral

19/07/2017 6h30

Jaqueline Nascimento Foto: Myke Sena

João Paulo Mariano
[email protected]

Nos últimos dias, mulheres que ganharam bebê no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) não conseguiram ir para casa porque, segundo as próprias pacientes, não havia pediatra para dar a alta médica aos recém-nascidos. O resultado é uma maternidade cheia, a ponto de não ser possível atender novas gestantes. A Secretaria de Saúde admite a superlotação, mas nega o problema da falta de médicos.

Apesar da negativa, ontem à tarde, o JBr. conversou com uma mãe que recebeu alta do HRC e conseguiu ir para casa após passar por dificuldades. A estudante Jaqueline Nascimento, 20, deu à luz ao primeiro filho no último sábado, por volta do meio- dia. Como o parto foi tranquilo, ela esperava não demorar a sair com a criança nos braços. Contudo, não foi isso que ocorreu.

A explicação recebida por ela é de que não havia pediatra para dar a alta no Centro Obstétrico (CO) do HRC. Além disso, foi informada de que não poderia ter acompanhante, já que a maternidade e o CO estavam cheios, sem espaço até para as grávidas que procuravam a unidade.

A diretoria do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Brasília (SindSaúde-DF) denuncia que o problema é antigo e já ocorreu em outros momentos deste ano. Sem o aval do pediatra, a mulher até pode sair do hospital, mas a criança não. De todo modo, nenhuma mãe quer deixar o filho que acabou de nascer. Aí, não há espaço para os novos atendimentos.

O Sindsaúde-DF ainda informa que é comum que os pais fiquem sem aproveitar a licença paternidade – que dura cinco dias, em geral – porque as esposas e os filhos não foram liberados do hospital.

Balanço geral

De acordo com a Secretaria de Saúde, 36 médicos fazem o atendimento no Hospital de Ceilândia diariamente. Desses, 19 ficam na pediatria e 17 na neonatologia – que cobrem a UTI Neonatal, a Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal, o Centro Obstétrico e a maternidade.

A pasta reconhece que o CO opera acima da capacidade, mas sem deixar de prestar assistência às pacientes que chegam a unidade. Para tentar desafogar o fluxo, a direção busca o remanejamento das gestantes, e assim garantir uma vaga a outras mulheres que estão prestes a dar à luz. Na segunda, a direção do hospital conseguiu vagas na maternidade de Brazlândia e no Hospital Materno Infantil (Hmib).

Versão oficial

Questionada diversas vezes por e-mail, a Secretaria de Saúde (SES-DF) não informou quantas mulheres teriam ficado retidas no Centro Obstétrico do HRC devido ao problema com as altas. Por meio de nota, as pasta explicou que o pediatra escalado para a maternidade é responsável pela prescrição e acompanhamento dos pacientes internados. “Vale lembrar que o pediatra dá alta para o bebê. Para a mãe, quem dá alta é o ginecologista, que também acompanha as puérperas [mães que acabaram de dar a luz]”, disse. Além disso, a SES garantiu que as pacientes não deixaram de ser assistidas e que as remoções ocorrem quando há superlotação de puérperas no Centro Obstétrico. A medida serviria para desafogar o CO, possibilitando a admissão de novos pacientes. O governo frisa que as pacientes que procuram o HRC não ficam sem atendimento.

Lotação dificulta atendimento

Com uma média de 600 partos por mês no Hospital de Ceilândia, a reclamação é de que o atendimento é lento e, às vezes, é preciso procurar outra regional para dar à luz. Fabiana Pereira, 30, está com 40 semanas e saiu de Águas Lindas (GO) com o objetivo de fazer o parto no DF, já que no município goiano o atendimento não foi adequado.

“Ontem (segunda), eu fui a Brazlândia e voltei para casa, porque não teve atendimento. Hoje (ontem), eu vim para Ceilândia de manhã e não fizeram nem minha ficha. À tarde, pediram para voltar ao hospital às 19h para que eu tenha mais chances do parto”, afirma a mãe, à espera do sétimo filho.

A mãe de primeira viagem, Alessandra Spíndola, 22, está com três meses de gestação e, por volta das 17h30, denunciava que havia chegado ao hospital passando mal ainda pela manhã e não tinha sido atendida. “Não dão previsão de nada. Eu me preocupo muito”, afirma. A única explicação dada pelos profissionais seria que, devido à lotação do Centro Obstétrico e da Maternidade, não seria possível receber mais mulheres.

Fabiana Pereira Foto: Myke Sena

Fabiana Pereira
Foto: Myke Sena

Alessandra Spindola  Foto: Myke Sena

Alessandra Spindola
Foto: Myke Sena

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado