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Brasília

Internado há seis meses, jovem desaparecido desde 2013 morre um dia após mãe reencontrá-lo

Arquivo Geral

08/09/2017 19h58

Foto: Divulgação

João Paulo Mariano
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“Esperei quatro anos para ficar com ele por 24 horas”. Essas são as palavras de Núbia Cerqueira Dantas de Oliveira, 40, depois de descobrir que seu filho mais velho, desaparecido por quatro anos, foi encontrado no Hospital de Ceilândia, vivo e bastante debilitado. Contudo, na madruga desta sexta-feira (8), por volta das 4h, a alegria do reencontro deu lugar a tristeza pela morte do jovem, que não resistiu aos ferimentos.

Com intervalo de minutos, ou até durante uma mesma frase, a mãe ri quando lembra do encontro e chora quando lembra da perda. Para ela, os dois acontecimentos tão recentes se embaralham. Até porque a possibilidade de Núbia ver o filho novamente se reacendeu ainda no início desta semana, quando alguns parentes de São Paulo compartilharam com ela uma publicação nas redes sociais dizendo que o jovem, que estava internado no Hospital de Ceilândia, sem identificação, poderia ser seu filho.

De imediato, ela percebeu que havia semelhanças e, o que era apenas uma esperança, se tornou uma nova chance que a mulher não desperdiçou. Núbia correu atrás de mais informações sobre aquele jovem que não tinha nome, mas tinha uma tatuagem no braço direito escrita “Faiska” e outra na perna direita com um desenho de uma carpa.

Isso não era suficiente para ela saber se era o mesmo rapaz. A mãe pediu para olharem se ele tinha o olho castanho-esverdeado e uma cicatriz no joelho. Com a confirmação, ela saiu de Anápolis, local onde a família mora, e veio a Brasília, com intenção de ir até Ceilândia e tirar a prova final.

Reencontro

Ao chegar ao hospital, na tarde da última quarta (6), ela não tinha dúvidas. O rapaz que estava na cama mais magro e ferido era Brenner Ezequiel Cerqueira Dantas, agora com 21 anos. “Eu o reconheci e ele me reconheceu. Comecei a gritar no hospital ‘meu filho, meu filho’. Eu tinha encontrado”, diz a mãe, toda sorridente.

Sem conseguir falar devido à traqueostomia, Brenner confirmava o que a mãe perguntava com piscadas. No feriado da Independência, ele recebeu visita de todos os parentes de Anápolis, animados com a volta do rapaz ao seio familiar.

Sumiço

A última vez que a mãe viu Brenner, à época com 17 anos, foi no dia 27 de outubro de 2013, em um domingo. Dois dias depois, na terça, ela conversou com ele por telefone. Núbia ficou sabendo que o rapaz estava na Praça do Ancião, em Anápolis e pediu para que ele saísse de lá e fosse para a casa dele ou para a dela, pois ele havia se mudado da casa dos pais para morar com um colega. No entanto, ele não apareceu em nenhum dos dois lugares e não foi mais visto ou ouvido desde então.

Núbia diz que ele se envolveu com amizades ruins e afirmava estar sendo perseguido na cidade, e por isso precisaria se mudar. Depois de um tempo sem contato, ela fez uma ocorrência, mas não conseguiu nenhum resultado. Procurou em Anápolis, Goiânia e municípios próximos sem sucesso até esta semana.

Brenner estava no Hospital de Ceilândia desde 23 de maio e antes já teria passado pela UTI do Hospital de Base. Ele foi encontrado pelo SAMU com sinais de agressão e politraumatismo na cabeça e na face. A Secretaria de Saúde divulgou o caso à imprensa na tentativa de encontrar familiares do jovem.

Morte

Na hora da morte, Núbia estava sentada em uma cadeira ao lado de Brenner, como ela queria que fosse sempre. Por volta das 4h, ela tocou no filho e percebeu que ele estava gelado e não respirava. Chamou os médicos, mas não foi possível fazer mais nada. O motivo de suas orações e esperanças nos últimos quatro anos tinha partido uma segunda vez. Agora, sem possibilidade de reencontro.

Para Núbia, o filho a esperou para morrer e por isso o fim desta história teria sido feliz. “Ele estava muito ferido, machucado e não se movia, mas eu queria ele mesmo que ele fosse ficar assim”, afirma. O enterro deve ser ainda neste fim de semana, em Anápolis. “Ele era muito querido. Era divertido, alegre. Brincava com todo mundo”, afirma a mãe que cantou, orou e ficou feliz por ter estado mais uma vez próxima ao filho mais velho que tanto amou.

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