Menu
Brasília

Imprudência no trânsito e tristeza: acidente destrói família no Gama

Arquivo Geral

28/08/2017 6h40

Atualizada 29/08/2017 21h03

Foto: Myke Sena

Jéssica Antunes e Eric Zambon
[email protected]

Ao sair de casa após ouvir um estrondo, a estudante Vanessa Quintino viu, pela cortina de poeira, uma criança de dois anos desorientada cambaleando rumo a uma das principais avenidas do Gama. Com o menino acolhido entre os braços, ela se deparou com a cena que mais tarde seria compreendida: um carro desgovernado conduzido por um adolescente embriagado havia capotado sobre cinco pessoas da mesma família, matando duas filhas e um bebê.

“O menino só ficava repetindo ‘carro’, como se quisesse contar o que tinha acontecido”, lembra Vanessa, de 20 anos, que mora em frente ao local do acidente. Apenas o menino e o avô, Mansungo, 43 anos, sobreviveram ao impacto e foram levados ao hospital regional da cidade. Rute Ester de Jesus Carvalho, 22, Gabriela de Jesus Carvalho, 19, e uma criança de seis meses morreram na hora.

 Vanessa Quintino (Blusa Rosa) e Elenice Quintino /Foto: Myke Sena

Vanessa Quintino (Blusa Rosa) e Elenice Quintino /Foto: Myke Sena

“Quando cheguei, uma das mulheres ainda respirava. Soubemos que o senhor estava bem porque nos respondeu”, contou a testemunha.
De origem humilde, a família mora em uma casa simples na Vila Roriz. Eles andavam pelo canteiro central da avenida quando o carro desgovernado os atingiu. O veículo, um Hyundai Azera, era conduzido por um adolescente embriagado de 17 anos. O teste do etilômetro apontou 0,53 miligramas por litro de sangue – acima do limite de 0,3 previsto no Código Brasileiro de Trânsito. O carro está no nome da mãe do menor.

Segundo informações do 2º tenente Klênio, do 9º Batalhão de Polícia Militar, o adolescente perdeu o controle do veículo em uma curva, que tem limite de velocidade de 50 km/h, bateu e derrubou um poste e capotou atingindo a família, que andava em uma pista de caminhada no canteiro central da avenida. Do poste de energia até o local onde os corpos ficaram estendidos, a distância é de mais de cem metros. No chão, o carrinho de bebê ficou tombado. A vítima de seis meses de vida foi encontrada embaixo do automóvel.

Saiba Mais

  • Segundo testemunhas, o adolescente fazia cavalo de pau durante a madrugada de sábado. Também seria comum ele pegar o carro dos pais.
  • De acordo com a Administração Regional do Gama, o enterro social deve ser acionado para sepultar as vítimas.
  • Nesses casos, o governo arca com despesas de caixão e traslado de corpo, além de conceder auxílio de R$ 415 à família dos mortos.

Sem intenção

Após o acidente, adolescente ainda tentou fugir a pé. Percorreu cerca de dois quilômetros rumo às chácaras da região. De acordo com o 2º tenente, os moradores ajudaram a capturá-lo. Com passagens pela polícia por roubo a pedestre, resistência e porte de arma e de entorpecentes, o menor foi levado à Delegacia da Criança e do Adolescente na Asa Norte.

O advogado Eduardo Alves acompanhou o jovem na delegacia, acionado pelo pai que telefonou e contou sobre o ocorrido gaguejando. Segundo a Polícia Civil, ele responderá por infrações análogas aos crimes de atropelamento de pedestre e homicídio culposo – quando não há intenção de matar – na direção de veículo automotor.

Segundo a Secretaria da Criança, o adolescente está no Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), no Complexo Penitenciário da Papuda. Deve ser definida sua internação provisória até a tarde de hoje. Se ocorrer, ele ficará ali por até 45 dias. Após o período, pode ser sentenciado de seis meses a três anos, conforme prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Perigo é constante, diz população

Moradores do Gama esperam que este acidente seja a gota d’água para a implementação de redutores de velocidade. Segundo dados do Departamento de Trânsito (Detran), foram registrados dois acidentes com morte na cidade até o mês de maio. Os moradores, porém, dizem que colisões e atropelamentos são constantes pela falta de respeito à velocidade das vias.

“Moro há dez anos aqui e posso dizer que temos muitos acidentes. É muito perigoso”, relata o motorista Wellgton Souza, 35 anos. “Precisamos ter ferramentas que forcem a redução de velocidade”, pede. Para ele, o permitido por lei é razoável, mas desrespeitado. “É tanta freada brusca, tanto acidente. As pessoas chegam fácil a 100 km/h”.

O local do acidente fica após um balão e uma curva em “S”. Alguns metros à frente, há uma faixa de pedestres. “A faixa não resolve, precisa ter algum redutor mais eficiente”, opina João Paulo Moura, autônomo de 20 anos. O fato de um adolescente embriagado dirigir também inflama os ânimos: “É revoltante”, repetiam os curiosos.

Homem preso às ferragens

Em um domingo de acidentes graves, a colisão entre dois carros na DF-001, no Lago Oeste, bairro de Sobradinho, foi a mais branda das ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros. Das seis vítimas, nenhuma morreu e a lesão mais grave foi uma fratura de fêmur.

Conforme o relato de testemunhas aos socorristas, um GM Corsa verde com quatro pessoas saiu de um trevo, nas proximidades da Rua 19, quando foi atingido por um Honda Fit prata com dois ocupantes, que vinha pela estrada. O trecho não conta com iluminação pública e tem pouca sinalização de trânsito.

O motorista do Corsa fraturou o fêmur e teve de ser retirado de helicóptero. Ele foi levado para o Hospital de Base para receber atendimento depois de ser retirado das ferragens. A mulher no banco do carona quebrou a patela enquanto os dois passageiros atrás tiveram lesões mais superficiais. No Honda Fit, os dois ocupantes tiveram apenas escoriações leves.

Casos graves e números

Apesar da gravidade dos casos de ontem, com o atropelamento de uma família e a morte de um bebê no Gama e um acidente de motocicleta em São Sebastião (à direita na página), os números mostram as vias do DF mais seguras em 2017.
Conforme as estatísticas disponibilizadas pelo Departamento de Trânsito (Detran-DF), até maio deste ano haviam sido registrados 90 acidentes com mortes, contra 145 no mesmo período em 2016 e 151 em 2015. Este ano, foram 91 pessoas mortas até maio, também um número menor em relação aos anos anteriores.

A colisão no Lago Oeste não entrou para a estatística negativa, mas ligou o alerta para as condições de trânsito da região. Os moradores da área disseram que, no local, há poucos acidentes, mas quando acontecem costumam ser graves.

Motociclista morre em São Sebastião

Um motociclista de 34 anos morreu após ser atingido por um carro em São Sebastião. O corpo de Francisco Daniel de Souza foi arremessado a quase cem metros de distância e a moto ficou destruída e em chamas. A suspeita é que o condutor do outro veículo, que também se feriu, tenha entrado de uma vez após um percurso na contramão.

O acidente aconteceu no quilômetro 31 da DF-251. Segundo testemunhas, o motorista de um Gol, Renato Alves de Almeida, 65 anos, acessou a rodovia pelo acostamento da contramão e, quando passou para a faixa correta, atingiu o motociclista.

De acordo com um sobrinho de Renato, que não quis se identificar, a prática é comum para quem sai das chácaras nas proximidades. “Não se tem visão, então é perigoso. A gente costuma levar a contramão por segurança”, afirmou o homem. Com cortes na face e dor abdominal, o idoso foi levado estável ao Hospital de Base.

Na pista, não há redutores de velocidade . Abalados, familiares da vítima não quiseram falar com a reportagem. Francisco morava em São Sebastião.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado