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Brasília

Hostilizado por servidora, casal gay agora celebra união em casamento coletivo

Arquivo Geral

24/06/2018 21h03

Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

Rafaella Panceri
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Para o primeiro casal homoafetivo a se unir em um casamento comunitário, o 17° do Distrito Federal, este domingo (24) ficará na história. O auxiliar administrativo Wanderson Santana, 23, e o rodoviário José Moura Júnior, 45, celebraram o matrimônio ao lado de outros 63 casais no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, às 17h. Este é o único casamento coletivo promovido pelo Governo do Distrito Federal em 2018. Outras 16 edições já foram realizadas.

Aplaudidos pelos convidados durante a cerimônia (veja o vídeo), eles relembraram a jornada de dificuldades e superação vivida por ambos desde a inscrição no processo seletivo. “As relações homoafetivas não são bem-vindas. Uma servidora da Secretaria de Justiça (Sejus) nos questionou sobre quem usaria calcinha e vestido no dia da cerimônia”, lembra José Moura Júnior. Por agir de maneira discriminatória, ela foi exonerada do cargo.

Também houve retaliações em um grupo de WhatsApp criado pela organização do casamento comunitário. “Uma mulher enviou uma mensagem ao grupo perguntando se era verdade que dois homens iriam se casar, seguida de expressões de nojo”, conta José Moura Júnior.

Por causa do preconceito, os dois haviam desistido do enlace. O apoio de outros servidores da Sejus foi fundamental para que eles seguissem com o plano. A assessora de gabinete da pasta, Élida Miranda, acompanhou a história de perto. Ela foi convidada a ser madrinha e se considera honrada. “O casamento é possível e está na lei. Não obedecer é desrespeito”, considera.

Com a união, o casal espera incentivar outros do público LGBTQI a fazer o mesmo. “Torço para que eles tenham raça e muito amor para enfrentar tudo isso”, declara o noivo José Moura Júnior. Wanderson Santana diz estar nervoso e ansioso. “Mas chegamos aqui mais fortes. Estou lisonjeado em sermos o primeiro casal a fazer isso, mas a sociedade ainda precisa de muitas mudanças”, completa.

A 17ª edição do Casamento Comunitário aconteceria no dia 27/5, mas foi adiada por conta da greve dos caminhoneiros. Fornecedores e prestadores de serviço pediram o cancelamento e os noivos ficaram sabendo na véspera. “Vivemos a lua de mel antes do casamento, porque já tínhamos tudo organizado para ir a Fortaleza”, conta o noivo José Moura Júnior. Nesta semana, os dois comemoram a oficialização do relacionamento no litoral norte de São Paulo.

No 17º casamento comunitário, foi oficializado pela primiera vez um casamento civil homoafetivo. José Moura Junior e Wanderson Santana relatam  preconceitos.  Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

Paixão no ônibus

Os noivos se conheceram em uma viagem de ônibus em que José Moura Júnior era o motorista. Após namorarem por dois anos, decidiram morar juntos em 2016. Wanderson Santana sempre sonhou com o casamento. Ele, que foi criado em um lar religioso, acredita que casamento significa respeito e união.

“Sempre disse que queria namorar para casar e minha família me apoiou em todos os momentos”, conta. “Debati muito a ideia com o José Júnior, mas ele me pedia calma”, lembra.

O rodoviário José Júnior decidiu se casar com o namorado após saber que a união entre casais do mesmo sexo era possível, de acordo com a Justiça brasileira. “E para casais, a questão previdenciária e de herança fica mais segura. É uma maneira de se proteger e ter garantias”, opina.

Os noivos são moradores de Ceilândia Norte e enfrentam dificuldades financeiras. “Um casamento a contento é muito caro. Não podíamos realizar esse sonho”, conta José Júnior. Ele acredita que oficializar o relacionamento mudará até situações corriqueiras. “Vou ter de levar a certidão de nascimento para os lugares, para provar que somos casados. Quando são dois homens, a coisa não fica óbvia”, explica José Moura Júnior.

Na 17ª edição do Casamento Comunitário no DF, um casal homoafetivo teve o casamento civil oficializado pela primiera vez. O irmão de um dos noivos se casou com a namorada na mesma cerimônia. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

Casamento duplo

A família de José Júnior mora no Piauí, em São Paulo e fora do País. Maioria dos parentes veio a Brasília para participar da cerimônia em maio, quando o casamento aconteceria. Com a mudança de data, apenas os familiares de Wanderson Santana prestigiaram o casal neste domingo (24).

Irmão do noivo, o fiscal de perdas Gregório Weliton, 22, também se casou ontem com a operadora de caixa Bruna Cristina Santos, 22. Juntos há cinco anos, eles têm um filho de um ano e quatro meses. “Estamos felizes por casar juntos”, declara, ao se referir ao irmão.

“Vai ficar para a história da família. Temos uma parceria bacana e sempre contamos tudo um para o outro, desde pequenos”, conta Gregório Weliton. “A família apóia e está muito feliz por eles”, afirma.

Saiba mais

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, em 2013, uma resolução que obriga os cartórios de todo o País a celebrar o casamento civil e converter a união estável homoafetiva em casamento. O Código Civil, porém, ainda define casamento como união entre homem e mulher.

Candidatos ao casamento comunitário precisam comprovar renda de até dois salários mínimos por dupla ou meio salário mínimo por pessoa. Eles devem ser moradores do DF e ter mais de 18 anos. Após cumprirem com todos os requisitos, eles participam de um curso de orçamento familiar, recebem vestuário, fotografia e maquiagem grátis.

Além disso, são isentos de taxas matrimoniais — mo Distrito Federal, o valor para se casar no civil é de R$ 164,75, segundo informações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. Para casamento religioso com efeito civil, o valor é de R$ 44,20. O casamento fora do cartório custa R$ 240,05.

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