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Brasília

Greve geral: primeiro desafio é sair de casa

Arquivo Geral

28/04/2017 7h00

Atualizada 27/04/2017 22h19

Foto: Myke Sena

Jéssica Antunes
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Mais de 30 categorias de trabalhadores do Distrito Federal confirmaram adesão ao protesto nacional e prometem parar a capital durante todo o dia. Serviços básicos terão funcionamento prejudicado e até quem não gostaria de participar será atingido pela paralisação de 24 horas, contra as reformas previdenciária e trabalhista propostas por Michel Temer. O governo até tentou impedir, mas ônibus não devem rodar e o metrô não circulará, afetando mais de um milhão de usuários.

Tentando impedir o que chamou de “um verdadeiro caos na mobilidade urbana”, a Procuradoria Geral entrou com pedido de manutenção da totalidade do sistema de transporte público no Tribunal Regional do Trabalho, mas não teve sucesso. O desembargador Pedro Luís Vicentin negou o pedido por não considerar razoável impedir uma parcela de trabalhadores de aderir ao movimento.

Saiba mais

  • A partir das 7h, haverá piquetes nas portas dos órgãos federais na capital para o convencimento dos funcionários que tentarem ir trabalhar.
  • Servidores do Detran suspenderam as atividades desde ontem. O Sindicato dos Bancários também confirmou paralisação até a meia-noite de hoje.
  • O efetivo nas delegacias será reduzido e pode comprometer serviços, mas o registro de ocorrências será mantido.

Quem vai viajar de avião também tem motivo para se preocupar, pois o Aeroporto de Brasília já avisou que pode haver cancelamentos ou atrasos de decolagens. A orientação é consultar a situação do voo antes de sair de casa. A situação se refletiu no centro do poder: uma corrida de parlamentares ao aeroporto esvaziou o Congresso, que teve um dia improdutivo.

De acordo com o governo, o ponto daqueles que aderirem ao movimento será cortado com base na Lei Geral de Greve. A adesão dos trabalhadores é livre, mas as entidades orientam que todos deixem os postos de serviço. “O governo tenta intimidar, mas isso não vai funcionar”, promete Ibrahim Youssef, presidente do Sindicato dos servidores públicos civis da administração direta, autarquia, fundações e Tribunal de Contas do DF (Sindireta). De acordo com ele, a força do protesto não será diminuída, já que, “para quem está perdendo direitos, perder um dia de trabalho por corte de ponto é o de menos”.

As categorias se reunião no Museu da República pela manhã. Rodoviários e metroviários confirmaram 24 horas sem circulação, assim como os sindicatos da rede pública e privada de ensino. Ontem, ônibus circulavam com cartazes anunciando a greve e os mesmos papéis foram fixados pela cidade.

Escolas particulares têm autonomia para decidir se funcionam e, segundo o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino, pelo menos quatro confirmaram fechamento: Sigma, Olimpo, Marista Champagnat e Colégio Batista. Outras unidades anunciam o adiamento de avaliações.

As unidades de saúde serão duplamente abaladas. As categorias vinculadas aos sindicatos dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (SindSaúde), dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate) e dos Médicos (SindMédico) são orientados a paralisar por um dia. Mas as emergências devem funcionar.

Cada um se vira como pode

O dia promete ser desafiador. Com a ameaça de faltar transporte público, trabalhadores buscam alternativas para chegar ao trabalho. O comércio, por exemplo, funciona normalmente. Nas duas clínicas odontológicas de Ayska Torquato, a confirmação de pacientes teve processo fora do comum. Ela teve de esclarecer a todos que as portas estariam abertas.

Para garantir a presença dos cinco funcionários, que trabalham em Taguatinga e no Riacho Fundo, Ayska deve arcar com as tarifas de três carros da empresa Uber, que os buscará em casa. Será assim com Manoela de Jesus, atendente de 20 anos que mora no Areal. “Tivemos que adiantar o faturamento dos convênios, já que os bancos e Correios estarão parados”, revela.

O lojista Raimundo Martins, 32, diz que no trabalho não tem negociação. “Disseram que temos que cumprir o horário de qualquer forma. Eu concordo com a greve, mas não posso aderir”, diz. Hoje, ele deve tirar o carro da garagem e ir com colegas de Ceilândia a Taguatinga.

Para quem não tem veículo nem colaboração dos patrões, o dia será um mistério. Patrícia Dantas se recusa a pegar um ônibus pirata. Certa vez, conta, sofreu uma tentativa de estupro. “Passei sufoco e nunca mais me arrisco. O chefe falou para dar um jeito, mas a vida é mais importante”, opina.

A Esplanada seria bloqueada a partir da 0h da altura da Rodoviária até o Balão do Presidente, na L4 Sul. A expectativa é de que 10 mil pessoas se reúnam. Por isso, o policiamento será reforçado. Ontem, foram recolhidos materiais que poderiam ser usados como armamento. Para facilitar a mobilidade, as faixas exclusivas serão liberadas.

Confira o que deve parar hoje

  • No transporte, rodoviários, metroviários e aeroviários. Na educação, servidores da UnB e da rede pública e privada de educação básica.
  • Na saúde, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, especialistas e auxiliares de saúde.
  • Na área de serviços, bancários, servidores da administração do GDF, Caesb, Detran, trabalhadores da limpeza urbana e dos Correios.

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