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Brasília

#Gratidão é o que temos neste Natal

Arquivo Geral

25/12/2018 15h27

Os casais Gabriel e Bruna e Júlia e Felipe se conheceram quando o vira-lata Scooby fugiu e foi atropelado. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

Rafaella Panceri
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Um dos sentimentos mais lembrados em datas como o Natal é a solidariedade. Para a estudante Júlia Moreira, de 18 anos, a fé nas coisas boas foi renovada neste mês de dezembro. Após adotar um cão vira-lata, ela teve de lidar com uma fuga e um atropelamento. O surpreendente foi a ajuda, vinda de todos os lados, por dezenas de pessoas desconhecidas. Scooby tinha sido atingido por um carro enquanto vagava por uma via de alta velocidade do DF, mas foi encontrado por um casal que não mediu esforços para que ele sobrevivesse. Catadores de material reciclável, vizinhos e seguranças de um condomínio também ajudaram nas buscas. O episódio é uma verdadeira lição de empatia neste 25 de dezembro.

Essa e outras histórias noticiadas pelo JBr. mostram que o espírito de Natal se fez presente em todo 2018. Para os moradores da AOS 4, na Octogonal, a agressão a uma criança, praticada por um casal de adultos, não ficou só na violência, mas gerou manifestações de paz pela vizinhança. No caso da modelo Telma Cristina Saraiva, de 44 anos, moradora do Guará, a ajuda de anônimos colaborou com o tratamento de um câncer no reto após a publicação da matéria. Walter Hudson, 47 anos, encontrou uma carteira com R$ 3 mil na rua no mês de outubro. Apesar de não ter recebido nenhuma recompensa, pretende continuar procurando emprego. Para todos, este Natal será marcado pela gratidão.

Scooby

Entre todas as histórias, a mais recente é a de Scooby, um cão morador do Park Sul, filhote de uma cadela de rua que foi resgatada por uma entidade de proteção aos animais no ano passado. Ele conheceu Júlia Moreira, sua atual dona, há três meses, em uma feira de adoção. Foi amor à primeira vista. Logo, a família decidiu adotá-lo. Em casa, a jornada não foi fácil. Scooby era arredio, se escondia atrás dos móveis e, aos poucos, começou a demonstrar sentimentos de alegria, afeto e animação perto dos familiares.

No dia 12 de dezembro, Scooby passeava com o pai de Júlia, o médico Marcos de Oliveira, 55, pelo condomínio onde moram. Ao ver um calango, o cachorro se assustou e se soltou da guia. O sumiço durou até meia-noite, quando um casal morador do Núcleo Bandeirante devolveu o bicho à família, graças às redes sociais. “Fomos ao cinema do Casa Park e saímos por volta das 21h30. No estacionamento, vimos um cachorro que parecia perdido. Não agia como um cachorro de rua e estava de coleira. Resolvemos parar o carro e ir atrás dele. Foi quando ele desapareceu”, narra o programador Gabriel Faria, 22 anos.

O casal procurou pelo cão por cerca de 30 minutos, sem sucesso. Já haviam desistido e passavam pela via Epia para ir embora, Mas localizaram Scooby próximo ao acostamento. “Gabriel correu atrás do cachorro, e de longe, o viu ser atropelado na faixa do meio da pista e sendo lançado até o acostamento. O motorista não parou para prestar socorro”, conta a professora Bruna Cazelato, 23 anos. Deitado no chão, Scooby chorava muito, mas estava vivo.

Rede de solidariedade trouxe cão de volta

Ao ser encontrado, Scooby foi levado pelo casal a uma clínica veterinária do Núcleo Bandeirante. Lá, descobriram que o animal tinha quebrado os dentes. “Não tinha nada muito sério”, conta Gabriel. A consulta, os remédios e uma ultrassonografia custaram R$ 300 — pagos pelos donos no reencontro. Enquanto isso acontecia, Bruna publicava fotos e buscava informações em grupos do Facebook para encontrar o dono do cachorro. Um desconhecido compartilhou o link da publicação feita pela dona, Júlia. O casal entrou em contato.

“Ela estava muito emocionada, chorando, e por isso levamos o cachorro até a casa dela. Temos um cachorro e dois gatos e sabemos como seria se um dele fugisse. Por isso resolvemos ajudar. A gente gostaria que alguém devolvesse nosso cachorro e cuidasse dele caso acontecesse algo. As pessoas precisam ter mais empatia”, declara Gabriel.

Júlia, o namorado Felipe, o pai e a namorada dele fizeram uma varredura pelo Setor de Oficinas Sul entre 16h e meia-noite. Foram a uma área de mata, onde vivem catadores de material reciclável. “Eles foram muito solícitos, se ofereceram para ajudar. Pediram para ver a foto do cachorro e entraram na mata para procurar, mesmo sendo noite”, lembra Marcos de Oliveira, 55.
“Já estava sem esperanças quando a síndica ligou dizendo que tinham achado o Scooby e que ele tinha sido atropelado. A primeira coisa que pensei é que estava morto”, desabafa, com os olhos marejados. Ela conseguiu o telefone do casal por meio de outro desconhecido. Alguém publicou a foto de Scooby nas redes e uma moça respondeu: “encontrei”.

“Fizeram o possível e o impossível para achar o Scooby. Na essência, as pessoas são boas” . Júlia Moreira, estudante, 18 anos. Foto: Kleber Lima/Jornal de Brasília

“Me surpreendeu a receptividade de todos que encontramos, a preocupação em ajudar. As redes sociais foram surpreendentes e nos auxiliaram bastante. Foi bonito ver o movimento das pessoas e dos seguranças, todos procurando o cachorro”, comenta Marcos de Oliveira. “Fizeram o possível e o impossível para achar o Scooby”, complementa Júlia. “Na essência, as pessoas são boas”, conclui.

“Doe amor e faça o bem”

Outra história que tinha tudo para acabar mal é a de Gabriel, garoto de seis anos que visitava a tia em um condomínio da Octogonal. Ele foi agredido por outra criança enquanto um casal de adultos o segurava. A mulher chegou a empurrá-lo. A família conseguiu transformar o episódio de violência em atos de generosidade. A servidora pública Jucinea Nascimento, de 43 anos, conta que o primeiro momento foi de desespero. Depois, veio a transformação.

“A própria comunidade se colocou à disposição da vítima”, pontua. A família criou um slogan — ‘Juntos pelo Gab’: seja gentil, doe amor e faça o bem. “Apesar de tudo o que aconteceu, a gente quer isso, que nenhuma criança seja agredida”, conta Jucinea. “Desejamos que os agressores evoluam, cresçam como seres humanos e mudem. Existe mais gente boa no mundo, tenho certeza. É que os atos bons não viram notícia. Os ruins chocam”, opina.

Na Octogonal, vizinhança deu lição de amor ao próximo após ato violento contra criança. Foto: Kleber Lima/Jornal de Brasília

Autoestima

A atitude das pessoas, após a publicação de uma matéria sobre sua trajetória, também deixou Telma Cristina Saraiva, 44, surpresa. Ela enfrenta um câncer no reto e precisa de ajuda para comprar remédios, já que está desempregada. Com a reportagem, recebeu mais que depósitos bancários. “Consegui ajudar outras pessoas em depressão e me procuraram para pedir conselhos. Ajudei mais do que fui ajudada, o que mostra que esse câncer não me faz mal. Estou vivendo e sorrindo, apesar de um ano difícil”, compartilha. “Neste Natal, as pessoas devem pensar que vale a pena viver. Devem agradecer por cada instante, se amar e cultivar a autoestima”, propõe.

Walter Hudson, 47 anos, não recebeu nada em troca por uma boa ação. Após encontrar uma carteira recheada com R$ 3 mil, devolveu ao dono, um policial. Os colegas de trabalho do homem sinalizaram o desejo de fazer uma vaquinha para ajudá-lo, à época, quando Walter estava desempregado. “Mas não fizeram. Apareceram algumas vagas de emprego, mas pagando pouco. Continuo fazendo meus bicos. Minha vida está do mesmo jeito de antes, mas está tudo bem. Se aparecer algo, ficarei muito feliz”, imagina. “Vou continuar procurando”.

“Ajudei mais do que fui ajudada, o que mostra que esse câncer não me faz mal. Estou vivendo e sorrindo, apesar de ter tido um ano difícil”. Telma Cristina, 44 anos. Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília

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