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Brasília

Golpe do falso emprego: estelionatária pode ter feito cem vítimas no DF

Arquivo Geral

05/06/2018 11h21

Foto: Jéssica Antunes/Jornal de Brasília

Jéssica Antunes
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Agenayra Maranguape usou a antiga experiência como menor aprendiz na área de recursos humanos da Rede Salesiana Brasil para aplicar o golpe do falso emprego. Ela se aproximou de grupos de jovens religiosos e ofereceu vagas inexistentes em colégios da capital e do exterior. Em três anos, ela fez ao menos cem vítimas e lucrou mais de R$ 100 mil. A estelionatária de 22 anos chegou a namorar e a conviver com a família de vítimas. Ela também fingiu a morte de parentes e já forjou o próprio sequestro. A suspeita nega as acusações.

A mulher foi presa na porta de casa em Samambaia na noite de segunda-feira (4). Se passando por diretora de recursos humanos da rede de colégios católicos, ela oferecia vagas para professor, psicólogo e cargos administrativos. Ela tinha conhecimento de todo o processo porque trabalhou como menor aprendiz no setor por três anos, e ainda tinha uniforme e crachá. A relação com a rede, porém, começou ainda na infância, quando era coroinha.

A promessa salarial chegava a R$ 15 mil e o candidato podia escolher se queria trabalhar em Brasília ou em Roma, na Itália. No DF, ela oferecia serviço para o Centro Educacional Maria Auxiliadora (CEMA), Colégio Dom Bosco e Escola Salesiana São Domingos Sávio. O golpe já começava no início do processo seletivo, quando o candidato tinha que pagar uma taxa de R$ 2 a R$ 10 mil, dependendo do cargo e local almejado. A estelionatária dizia que o valor servia para dar entrada em documentos. Depois do pagamento, a mulher desaparecia.

Poder de persuasão

Em sete meses de investigação, a polícia constatou que a suspeita trocava e-mails com as vítimas, se passando por padres que exercem a função de diretoria no Brasil e em Roma. Ela também fingia ser proprietária da rede escolar.

“É uma jovem muito inteligente, com alto poder de persuasão. Ela conseguia enganar as pessoas pela experiência no local. As vítimas são jovens religiosos que participavam de redes sociais voltadas para religião, encontros e acampamentos. O ambiente era propício para o golpe porque as pessoas tendiam a confiar pelo histórico na rede católica e conhecimento na área”, conta o delegado Victor Dan, chefe da 23ª Delegacia de Polícia, no P Sul.

Há mais de 50 ocorrências registradas com o nome dela, mas a polícia desconfia que há ao menos o dobro de vítimas. “Algumas podem ter vergonha em registrar boletim de ocorrência por terem sofrido o golpe. Quando não se registra, há impunidade”, avisa o delegado.

Vítimas relatam golpes

“Ela se envolveu com o grupo da igreja, foi se aproximando aos poucos, deu presentes. Tudo o que você precisava ela tinha, conseguia”, conta uma vítima, de 20 anos. Aos colegas, ela disse que a avó trabalhava na rede de ensino e conseguiria vagas de emprego. “Começamos a receber e-mails. O salário era muito bom, tinha nomes de padres que a gente conhecia. Chegamos a enviar os documentos, mas nunca tinha vaga. Quando descobrimos a série de mentiras, desconfiamos”, diz.

Vítimas se reuniram na 23ª Delegacia de Polícia após prisão da suspeita. Foto: Jéssica Antunes/Jornal de Brasília

Mais de dez pessoas estiveram na delegacia nesta terça-feira (5) para contar os golpes praticados pela mulher. Um jovem de 23 anos foi triplamente vítima. Ele participou do processo seletivo, teve um relacionamento amoroso por um mês e emprestou dinheiro para Agenayra.

“Ela entrou no nosso meio, prometeu emprego bem remunerado. No meio do processo seletivo, ela disse que a avó havia falecido e pediu dinheiro emprestado. Fiquei comovido e depositei R$ 3 mil, mas ela sempre adiou a devolução com desculpas”, conta. O falecimento também foi forjado.

O rapaz fez entrevista de emprego em uma padaria. “Quando desconfiamos, chegamos a ir na instituição falar com um dos padres e eles disseram que ela não trabalhava lá”, relata.

Defesa

Detida, já de roupas brancas e à disposição da Justiça, Agenayra quis se defender à imprensa. Com fala confusa, ela se contradiz algumas vezes ao contar sua versão da história. Ela confessa que forjou vagas para se aproximar de uma jovem que conheceu pelas redes sociais, mas a situação teria se tornado uma “bola de neve”.

Foto: Jéssica Antunes/Jornal de Brasília

“Eu sempre frequentei o Salesiano, então eu sabia mais ou menos como funcionava. As vagas nunca existiram”, conta a suspeita, que se diz arrependida.  Ela nega que tenha recebido qualquer quantia de “taxa” e garante que os documentos recebidos estão guardados, mas não teria feito nada com eles. Para a polícia, não há dúvidas de que ela tinha intenção financeira. Indiciada por estelionato, ela pode ser condenada a penas de um a cinco anos por cada vítima identificada.

Em 2015, Agenayra Maranguape foi presa quando forjou o próprio sequestro para receber o valor do resgate pago pela família, de R$ 18 mil. Durante as negociações, a polícia conseguiu descobrir que não passava de falso sequestro.

Desemprego

A mulher se valia do desemprego amargado por 315 mil pessoas na capital. O dado foi divulgado pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) na semana passada. Em abril, o índice aumentou de 18,9% para 19,2% em um mês.

O DF fechou o ano de 2017 com a pior índice de desemprego em cinco anos. A falta de emprego atingiu 13,1% da população no ano passado, o equivalente a 394 mil pessoas.

Os números da capital ficaram acima da média registrada no país naquele ano (12,7%). A taxa também cresceu 9% em relação ao ano anterior, quando 12% da população local sofreu com o desemprego.

Versão Oficial 

Em nota, a Rede Salesiana Brasil informou que a suspeita “nunca fez e não faz parte do quadro de funcionários e/ou prestadores de serviço”. De acordo com a instituição, ela também não faz parte da congregação e não possui qualquer autorização para representar a rede. O documento, assinado pelo diretor Executivo da RSB, padre José Marinoni, ainda diz que a rede se coloca à disposição para contribuir com as investigações e repudia qualquer tipo de ação que ocasione danos morais e materiais.

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