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Brasília

Fórum mostra que troca de experiência indica soluções à crise hídrica

Arquivo Geral

21/03/2018 7h00

Atualizada 20/03/2018 22h52

Visitantes de diversas nacionalidades compartilham informação durante o evento. Foto: João Stangherlin

Eric Zambon
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O caminho para o Distrito Federal sair da crise hídrica pode já ser trilhado em Israel, assim como a solução para a seca no semiárido nordestino pode estar no Marrocos. Após três dias de atrações e debates, os painéis e estandes do 8º Fórum Mundial da Água se mostram cada vez mais relevantes para a realidade local e nacional, mesmo que o Brasil, sede do evento pela primeira vez, não seja o escopo da maioria das discussões.

Pela manhã, os governadores do DF, Rodrigo Rollemberg, e de São Paulo, Geraldo Alckmin, exaltaram suas próprias medidas e políticas públicas para contornar as crises em seus respectivos territórios, como o racionamento em Brasília e a recuperação de matas ciliares na capital paulista. Pouco foi discutido sobre como aumentar a escala das soluções apresentadas.

O Japão, por exemplo, no estande montado na estrutura do estacionamento do estádio Mané Garrincha, apresentou soluções pensadas para atender a todo o leste asiático. Por meio do Instituto Global de Estratégias Ambientais (IGES, na sigla em inglês) o país oferece conhecimento para cada nação interessada aplicar um modelo personalizado de saneamento. “Empresas privadas criaram modelos de tratamento de esgoto que já atendem o Vietnã e Myanmar”, exaltou Ai Takahashi, coordenadora da entidade.

O diretor de saneamento do Ministério do Meio Ambiente de Senegal, Ababacar Mbaye, revela que a nação compartilha conhecimento responsável por ajudar a cidade de Marselha, na França, seu país colonizador. “Nosso país tem condições parecidas com o Brasil e fazemos essa troca com vocês também. Nosso foco aqui é mostrar nossa expertise para os outros países”, animou-se.

Alto nível

Servidor do Ministério da Integração Nacional brasileiro, Marcelo Nasser exaltou justamente o caráter global que discussões regionalizadas adquiriram no Fórum. “Ainda não vi muita coisa relacionada ao Brasil especificamente, mas as discussões estão de alto nível. O que se espera é que esses debates gerem recomendações e até documentos oficiais de intenções”, enaltece Nasser.

O painel sobre a situação no Mediterrâneo, no meio da tarde de ontem, era um dos que mais parecia propício a ser exemplo disso. Autoridades do Marrocos, um dos maiores provedores de água e soluções de saneamento da região, debatiam com representantes da Tunísia e da Argélia a respeito de como melhorar a relação entre os países. O membro da Global Water Partnership, o tunisiano Fuad Bateh, não teve medo de assumir tom de cobrança.

“Como seres humanos, enfrentamos os mesmos problemas. Eu vi o Marrocos fazendo colaboração com a Tunísia e com o Paquistão”, começou o ativista. “Isso é ótimo, mas por que os especialistas marroquinos não atuam em mais áreas? Eu os convido a se envolverem mais”, disparou em tom amistoso.

Os marroquinos agiram em tom defensivo, mas terminaram por concordar com a demanda e isso pode gerar mais um acordo internacional.

Caesb entre Israel e Palestina

A disposição dos estandes proporciona imagens curiosas. A banca de Israel, que tem um moderno programa para cuidar dos recursos hídricos e, mesmo em meio ao deserto, contornou a crise, fica próxima à da Palestina. Enquanto a nação judia exalta suas inovações, os muçulmanos reforçam a necessidade de colaboração para beneficiar a região como um todo.

Entre os dois, há apenas o estande da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), que faz as vezes de Faixa de Gaza nesse cenário. Não há animosidade e muito menos tensão, apenas compartilhamento de ideias. Nesse ponto, o Fórum Mundial serve como uma amostra das reuniões da Organização das Nações Unidas (ONU) e traz aproximações interessantes.

Como maior interessada no sucesso do evento, Brasília precisa se atentar aos modelos e se envolver com discussões alheias à situação local. A solução pode estar no Marrocos, no Japão ou na Palestina.

Saiba mais

Rollemberg mencionou, durante sua fala no painel da manhã, que houve queda de cerca de 16% do consumo médio de água no Distrito Federal, entre 2016 e 2017. Segundo ele, isso foi fruto do aumento das fiscalizações de poços clandestinos e de construções irregulares na região da Bacia do Descoberto.

Uma das colaborações do DF com Goiás, na captação de água no Corumbá, foi exaltada pelo ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, como um exemplo a ser seguido nacionalmente. Brasília busca parcerias similares em Minas Gerais também.

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