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Brasília

Família de aposentada da Saúde entra com ação para conseguir leito de UTI

Arquivo Geral

19/03/2018 7h00

Atualizada 18/03/2018 21h51

Foto: Arquivo Pessoal

Raphaella Sconetto
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A esperança é a última que morre. O autônomo Rhaniere Rodrigues Morais, 43 anos, vive a angústia de aguardar por uma vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública para que a mãe receba o devido tratamento. Para ele, a situação é ainda mais lamentável: a mãe é aposentada pela própria Secretaria de Saúde. “Ela, que se doou tanto pelo serviço, não consegue ajuda”, critica. Segundo a pasta, 19 pacientes estão na fila da UTI com suporte dialítico.

Ângela Regina Rodrigues Morais, 64 anos, é moradora de Ceilândia, mas deu entrada em 21 de fevereiro no Hospital Regional de Sobradinho (HRS) para tratar uma infecção urinária. Percorrer a distância de mais de 40 quilômetros, segundo Rhaniere, se deu justamente pela falta de vaga até no pronto-socorro mais próximo de casa. “Aqui perto não tem atendimento”, conta.

A aposentada é diabética, hipertensa e paciente renal crônica. “Internaram porque, para ela tomar os remédios da infecção, ela precisava dialisar. Todas as hemodiálises foram feitas por encaixe”, lembra Rhaniere. No dia 10 deste mês, a mulher teria alta, mas, por precaução, os médicos decidiram fazer mais uma diálise. Na maca, ela sofreu uma parada cardiorrespiratória. Hoje, Ângela está internada em coma induzido e entubada, pois não consegue respirar sozinha.

“Para que minha mãe fique viva é necessário uma UTI com suporte para hemodiálise. No hospital, os médicos alegam que não há vagas e a direção diz o mesmo. Um médico me disse que seria possível fazer a hemodiálise onde ela está, se houvesse uma simples instalação hidráulica na sala para ligar a máquina”, levanta o autônomo.

Assim como milhares de brasilienses, Rhaniere procurou a Defensoria Pública e a Justiça. “Já fui mais de oito vezes à Defensoria. Também fui ao plantão judicial. Eles emitem o ofício para a Secretaria de Saúde, que não cumpre. No relatório médico, ele deixou claro que se minha mãe não tiver o tratamento adequado ela pode morrer ou ficar com sequela grave. Está escrito ‘risco de morte’”, desabafa.

Ainda de acordo com o autônomo, o estado de saúde da mãe tem se agravado. “As mãos e os pés estão inchados. E, durante mais exames, descobrimos que ela está com um problema no coração”, conta.

Para ele, o sentimento é de impotência e indignação. “A gente está de mãos atadas. Minha mãe era servidora, foi fundadora de um grupo de automassagem para idosos em Ceilândia. Ofereceu saúde para tanta gente, e quando precisa não consegue nada”, finaliza.

Tristeza após conquista árdua

O Jornal de Brasília mostrou no fim do mês passado o mesmo problema. Na época, a administradora Keli Ávila Santos, 42, contou a história do pai João Pereira dos Santos, 69 anos, que deu entrada no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) com falta de ar. O quadro evoluiu para uma parada cardiorrespiratória, em decorrência de uma infecção generalizada, e, por ser doente renal crônico, João também precisava de um leito de UTI.

A reportagem saiu no dia 28 de fevereiro e, no final da tarde do mesmo dia, o aposentado conseguiu sua vaga. No entanto, de acordo com Keli, ele morreu há duas semanas. Para ela, o que resta são os questionamentos de como e onde as famílias podem buscar informações sobre a Central de Regulação da Secretaria de Saúde. “Eu queria mais clareza e transparência”, resume.

Conforme o Jornal de Brasília mostrou, a Defensoria Pública informou que, no ano passado, prestou 1.114 atendimentos para pessoas que precisam de uma vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da rede pública. Desses, 709 viraram ações judiciais.
Os dados são ainda mais impressionantes e “gravíssimos”, como descreve a Defensoria. Em 2017 o órgão começou a computar os casos em que o governo descumpriu as liminares. E o resultado é que, só no ano passado, 645 pessoas ficaram sem vaga na rede pública.

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