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Brasília

“Eu fui pra cima dele e ele disse ‘vem, vou atirar na sua cara’”, lembra viúva de crime no Jardim Botânico

Arquivo Geral

12/12/2017 7h00

Arquivo pessoal

Raphaella Sconetto
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“Nunca houve briga ou discussão da nossa parte com esse criminoso”. O relato é da viúva Ana Karina de Aguiar, 47 anos, que perdeu o marido, Anderson Ferreira, 49, e o filho, Rafael, 21, após o vizinho disparar pelo menos oito tiros. Emocionada e segurando um terço, ela garante que a família nunca se envolveu em confusão com o acusado, Roney Ramalho Sereno, seja antes ou no dia do assassinato, e pede justiça.

Em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, Ana Karina repetiu diversas vezes que o marido não brigou com o vizinho. “Nunca nos dirigimos a eles, por já saber do comportamento agressivo que ambos têm (Roney e a mulher, Renata Jacob Sereno). Todas as vezes que precisamos, nos reportamos à administração do condomínio. A gestão ia, mas quando saía, ele virava as costas e não fazia nada, porque se achava acima da lei por ser funcionário público”, conta.

Ana Karina nega ter havido embate direto por parte das vítimas. Foto: Breno Esaki

Ana Karina nega ter havido embate direto por parte das vítimas. Foto: Breno Esaki

Roney é segurança do Ministério Público Federal (MPF), por isso tinha porte de arma. Em 2015, o servidor instalou uma lixeira próximo a casa de Anderson. Foi quando começou a desavença. “Tinha os dias definidos para que recolhessem o lixo, mas não foi uma, duas, dez vezes, foram centenas em que eles colocavam o lixo após a passagem, para que ficasse dias e dias na porta. Eu abria o portão e dava de cara com o mau cheiro”, afirma.

Mais sobre o assunto

Além da lixeira, a viúva conta que Roney instalou um sistema de segurança e uma das câmeras filmava a entrada de sua casa. “O que ele queria com a nossa imagem? O que ele queria com vídeos da minha filha menor de idade?”, questiona. Ela relata que o condomínio foi acionado para que o homem retirasse a câmera.

Há três meses, a família recebeu um bilhete que dizia “todos pagarão”, junto a uma munição de arma. “Nós não fazíamos ideia de que fosse ele. Eu nem sabia que ele participava de grupo de tiro, porque se soubesse talvez eu teria ligado os fatos”, pondera. O casal registrou boletim de ocorrência, mas ela não sabe se a investigação foi efetivada.

No dia do crime, a mulher lembra que houve outro problema. “Um prestador de serviço estacionou na frente do meu portão. Meu marido queria sair para buscar meu filho, no horário do almoço, aí tivemos que solicitar que a segurança viesse para tirarem o carro. O segurança veio chamou, chamou e ninguém atendeu. Quando ele voltou, o carro continuava do mesmo jeito. Tivemos que chamar o chefe da segurança”, detalha.

À noite, Anderson e o filho Rafael arrumavam os carros na garagem. “Um carro deu problema de bateria e deram carga. Meu marido resolveu ir abastecer um carro, porque no dia seguinte meu filho do meio tinha prova. Como estavam conversando na garagem, Roney viu a hora que eles iam sair. Ele ficou de tocaia”, relata Ana Karina.

Cena de horror não sai da cabeça

Os tiros aconteceram na porta de casa, no condomínio Quintas da Alvorada. A cena não sai da cabeça da viúva: “Quando eu ouvi, saí para socorrer e vi meu marido no chão, morto. Meu filho gemia, agonizava ao lado do pai. Eu fui pra cima dele (Roney) e ele me disse ‘vem, vou atirar na sua cara’”, lembra.

“Ele deu cinco tiros nas costas do meu marido e disse que foi legítima defesa. Quem é o insano que vai acreditar que tiro nas costas é defesa? Meu filho saiu do carro, abaixado, para tentar socorrer o pai. E esse assassino deu um tiro na cabeça. Com meu filho caído, não satisfeito, ele deu um tiro no braço e outro na barriga. Meu filho morreu como um herói para salvar o pai”.

Ana Karina acredita que a mulher do criminoso também tem responsabilidade. “Renata estava ao lado e não tomou nenhuma atitude. Ela o ajudou a fugir, foi cúmplice e conivente”, acredita. Além disso, Ana Karina se revolta com a frieza de Roney. “Ele foi frio, calculista e premeditou. Foi tão malvado que fugiu e foi para o bar beber, comemorar a vitória. Conseguiu o que queria”, lamenta.

A prisão teve a ajuda de uma pessoa que Ana Karina desconhece. “Não sei quem foi, mas preciso agradecer. Foi um anjo que percebeu que o homem era uma criatura do mal e chamou a polícia. Assim ele foi preso em flagrante”.

O que conforta o coração de Ana Karina e dos dois filhos que ficaram, João Victor, 18, e Eduarda, 14, além da fé, são as lembranças: “Meu filho era um anjo de luz, era puro, não andava em má companhia. Meu marido era um homem honesto, responsável, trabalhador. Se a Justiça pensar em algum dia colocar ele (Roney) nas ruas, eles vão ter sangue nas mãos, vão ter ajudado a apertar o gatilho”.

Saiba mais

Em audiência de custódia realizada no último domingo, a juíza do Tribunal do Júri do Paranoá Luana Lopes Silva acatou o pedido do Ministério Público para que a prisão em flagrante de Roney Ramalho Sereno fosse convertida para preventiva. A magistrada alegou que o modo praticado nos dois homicídios se caracterizou como cruel e frio, “assemelhando-se a hipótese de uma execução”. “Ressalte-se que, como servidor responsável pela segurança de autoridades, o que se espera do autuado é justamente garantir a segurança de pessoas, e não o contrário”, apontou. A defesa chegou a pedir a liberdade provisória do acusado, mas a juíza entendeu que soltá-lo seria colocar a ordem pública em risco.

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