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Brasília

Bandidos comandam esquema de extorsão próximo ao de milícias na Estrutural

Arquivo Geral

17/12/2018 15h33

Comércios na Estrutural eram alvo de criminosos. Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasilia

Ana Karolline Rodrigues
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) descobriu um esquema de extorsão próximo ao de milícias na Estrutural. A operação que investiga o crime  prendeu, nesse sábado (15), o traficante Maurício Gregório da Silva, 35 anos, por extorsão e porte ilegal de arma de fogo. Ele e o irmão, Marcelo Gregório da Silva, 40 anos, que foi preso no dia 18 de setembro por tráfico de drogas, ameaçavam e exigiam dinheiro de comerciantes do centro da Estrutural há meses.

De acordo com o delegado-chefe da 8ª Delegacia de Polícia, Rodrigo Bonach, os criminosos não residiam na cidade. Marcelo morava no Setor Leste do Gama e Maurício, em Águas Lindas de Goiás, mas ambos estavam sempre na região. No local, os irmãos forneciam armas para comparsas praticarem roubos caso comerciantes rejeitassem pagar pela “proteção” do grupo. Eles chegavam a cobrar de R$ 500 a R$ 1 mil por mês para não assaltar as lojas e, assim, “garantir a paz no local”.

Marcelo Gregório da Silva. Foto: Divulgação.

Maurício Gregório da Silva. Foto: Divulgação.

Ainda segundo Bonach, os criminosos já têm diversas passagens pela polícia. Até o momento da prisão, ambos cumpriam pena em regime domiciliar por roubos e porte ilegal de arma. Marcelo foi preso por roubo em 2010 e, em 2012, 2014 e 2017, detido por porte ilegal de arma de fogo. Já o irmão, Mauricio, foi preso em 2003 e 2013 por roubo. Em 2014, foi detido por agredir a companheira e, em 2015, por porte ilegal de arma.

Comerciantes aterrorizados

A PCDF, que já investiga os crimes há meses, prendeu os acusados em flagrante, após três comerciantes registrarem denúncia na delegacia. O delegado explica que a polícia teve dificuldades em prender os acusados pelo fato de que as vítimas temiam registrar formalmente as denúncias, uma vez que eram constantemente ameaçadas pelos criminosos. “São muitos na região, eles aterrorizavam os comerciantes. Agora, com a prisão, pretendemos diminuir essa quantidade de roubos”, afirmou.

Delegado-chefe da 8ª DP, Rodrigo Bonach. Foto: Raianne Cordeiro/Jornal de Brasília.

Para uma vendedora do comércio localizado em frente a um ponto da Polícia Militar na Estrutural, muitas vítimas não denunciam os assaltos e as extorsões por medo de alguma reação dos criminosos. “As pessoas que fazem isso são os da mais alta bandidagem. Se a gente for mexer com alguma coisa desse tipo [denúncia] pode ser que eles venham atrás até da nossa família”, disse a moça, que preferiu não se identificar.

Ela explica que o esquema que se estrutura no formato de milícias já existe há anos na região. “Eles pedem dinheiro para olhar os comércios, para que não sejam assaltados por eles mesmos. Aí informam para os próprios comparsas que não é para mexer em tais lojas porque estão pagando uma quantia todo mês”, disse. Ela, que já se recusou a participar do esquema, conta que sentiu bastante medo de ter a loja assaltada por rejeitar negociar com os traficantes.

“Há mais ou menos quatro anos, quando eu trabalhava em outra loja, eles já se propuseram a ‘olhá-la’ e eu não aceitei. Fiquei com muito medo, porque quando a gente não aceita eles mandam assaltar. Aqui mesmo, meu chefe dava dinheiro, mas depois cancelou porque a loja de trás foi assaltada e eles não fizeram nada. Aí ele disse que não ia mais contribuir. Depois disso eles tentaram assaltar, mas os anjos do Senhor têm protegido aqui, foi Deus mesmo que não deixou”, contou a comerciante.

Com feições assustadas, outros vendedores do local afirmam não conhecer o esquema, mas confirmam os recorrentes assaltos nas lojas do comércio. “Eu não sei desse caso, mas já fomos assaltados sim. Esses dias chegou um bandido aqui e roubou o celular dela [de uma atendente]”, contou um comerciante.

Caso inédito

O delegado afirma que esta é a primeira vez que a polícia encontra um esquema próximo ao de milícias no Distrito Federal. “Aqui no DF é algo inédito, são coisas vistas geralmente em outros estados. Não chegou a ganhar corpo de uma milícia como vemos no eixo Rio-São Paulo, mas poderia evoluir se a polícia não agisse”, informou.

A polícia ainda investiga os criminosos que agiam em conjunto com a dupla. Pelo crime de extorsão e tráfico de drogas, os irmãos podem ser condenados a penas de 4 a 10 anos e 5 a 15 anos de prisão, respectivamente. Além disso, Maurício responderá por porte ilegal de arma de fogo, o que pode levar de 2 a 4 anos a mais, caso seja condenado. O delegado frisa ainda que, caso alguém tenha informações sobre os esquemas no local ou já tenha sido vítima do grupo, deve ligar no 197, o disque denúncia.

 

 

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