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Brasília

Em meio à pressão de todos os lados para fechar, albergue do Areal resiste

Arquivo Geral

25/06/2018 7h00

Atualizada 24/06/2018 19h30

Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília.

Camila Costa
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A Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias (Unaf) do Areal, setor pertencente à Região Administrativa de Águas Claras, está em meio a um cabo de guerra. De um lado, os acolhidos, famílias e indivíduos com vínculos familiares rompidos ou fragilizados; do outro, moradores, o governo e a Câmara Legislativa. A briga está em cima da possibilidade estudada pelo governo e sob forte pressão de deputados distritais para fechar a Unaf ou transferi-la para outro endereço – de preferência longe do perímetro urbano.

Outra vertente que estaria sendo analisada é a terceirização do espaço. Servidores da assistência social e alguns acolhidos foram até a sede da Secretaria Adjunta de Desenvolvimento Social (Sedestmidh), na 515 Norte, na tentativa de barrar as intenções do Executivo e Legislativo para a Unaf.

A mobilização foi na última quinta-feira (21) e reuniu cerca de 100 pessoas. A Unaf – antigo Albergue Conviver – existe há 30 anos na QS 9 do Areal e é um dos cinco abrigos públicos do DF. Ela recebe diariamente pessoas em situação de rua, que não têm onde ficar; oferece espaço para tomar banho, comer e dormir. As queixas para tirar a unidade de lá são antigas, sendo o aumento da violência na região uma das principais.

Segundo a Sedestmidh, o governo não tomará nenhuma medida que comprometa o serviço de atendimento aos usuários, mas deixou claro que mudanças são necessárias. “Os projetos podem ser readequados. A cidade cresceu muito em volta dessa unidade, se faz necessário mais equipamentos de apoios públicos para atender a população, mas não há intenção em fechar agora”, disse a pasta em nota.

Essa não é a primeira vez que a unidade passa por instabilidade quanto ao futuro do serviço. Há cerca de dois anos, os deputados distritais Celina Leão (PP), Tema Rufino (Pros), Lira (PHS), Luzia de Paula (PSB), Professor Reginaldo Veras (PDT), Rafael Prudente (MDB) e Rodrigo Delmasso (PRB) assinaram um projeto de lei que prevê a construção de albergues distante de centros de ensino e áreas residenciais.

A proposta proíbe ainda a instalação de alojamentos para moradores de rua, egressos de prisões ou de manicômios, adolescentes em conflito com a lei ou migrantes em perímetros urbanos. Telma Rufino e Celina Leão cresceram as limitações com emendas e estipularam distância mínima de 10 km entre os albergues e centros de ensino e áreas residenciais.

Esforço pela remoção

A proposta foi aprovada na Câmara Legislativa, mas o governador do DF, Rodrigo Rollemberg, vetou. Os parlamentares voltaram, então, a analisar e mantiveram o veto. “O que está havendo é uma contradição. O governo tem a intenção, mas não assume isso, mas sabemos que os deputados estão nesta pressão. Se não fecharem (a Unaf), poderão terceirizar e isso também não será bom. Abre a porta para liquidar de vez porque uma empresa de fora vai querer selecionar o público atendido, pode não acolher, passa para órgãos de execução direta e acaba onerando ainda mais”, ponderou o presidente do Sindicato dos Servidores da Assistência Social do GDF (Sindsasc), Clayton Avelar.

Segundo Clayton, a Unaf conta com cerca de 140 acolhidos – a capacidade é para 150. Uma das preocupações é sobre o destino a ser dado a essas pessoas. “O serviço foi precarizado nesses 30 anos e precisa melhorar, mas ruim com ele, pior sem ele. É importante o trabalho que é feito e se não tiver mais serão mais pessoas nas ruas e gerando problemas maiores”, justificou.

Presidente do Sindicato dos Servidores da Assistência Social do GDF, Clayton Avelar / Foto: Myke Sena/Jornal de Brasília.

Distrital cobra promessa de governador

A deputada Telma Rufino (Pros) é uma das mais empenhadas em remover a Unidade de Acolhimento da região de Águas Claras, reduto eleitoral da distrital. Ela defende que esse é o principal pedido dos moradores da cidade, que não aceitam o espaço e reclamam de violência, tráfico e roubos na vizinhança. Segundo a parlamentar, a Sedestmid disse que levaria a Unaf para Planaltina, mas não tem assumido o compromisso.

“Estão jogando o problema para frente. Aquele albergue é uma escola para o crime. Não sou eu que não quero, não sou contra o serviço, é um pedido da população. Do jeito que está não pode continuar. Entra e sai governo e nada é feito”, criticou Telma.

“Albergue de verdade”

A deputada lembrou ainda que a transferência foi uma promessa de governo de Rodrigo Rollemberg, mas que foi abandonada.

“O Areal cresceu, precisa de escola, UPA e centro de convivência para idoso; e não um albergue ocupando todo o espaço, onde essas pessoas causam transtorno para o comércio, para a população, os moradores. Se dependesse de mim já tinha arrumado outro lugar e feito um albergue de verdade”, afirmou a distrital.

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