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Brasília

Dupla faz sucesso em Taguatinga com modo de driblar desemprego

Arquivo Geral

20/01/2017 7h00

“Vi no café uma oportunidade. Planejei começar o ano inovando e graças a Deus tem dado certo”, Nei Teodoro, 32 anos. Foto: Sandro Araujo

Jéssica Antunes
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Às quatro horas da madrugada eles já estão trabalhando. Camisa social, avental e gravata borboleta compõem o uniforme. Como instrumentos, garrafa e bolsa térmicas e copos de isopor. O escritório é a rua, o patrão é qualquer um e o vermelho do semáforo dita o ritmo do serviço. É uma dupla nordestina recém-chegada a Brasília que ganha a vida vendendo café na avenida mais movimentada de Taguatinga, a do Centro. Em mais de 16 horas, ao custo de R$ 1, eles vendem até 200 unidades por dia. Trabalho, pra eles, não é problema.

Quase 300 mil sem uma oportunidade

  • O desemprego no DF atinge mais de 290 mil pessoas. Segundo a última pesquisa divulgada pela Codeplan, 18,4% da população economicamente ativa estava desempregada em setembro de 2016. A média nacional calculada pelo IBGE era de 11,9% – quase a metade do índice local.
  • As Agências do Trabalhador servem como mediadoras para a recolocação profissional dos cidadãos. Os interessados devem se inscrever no site www.agenciavirtual.df.gov.br ou em uma das 16 agências do DF. Em 13 anos, segundo a pasta, mais de 26 mil empresas já solicitaram mão de obra às agências.

“Em Brasília só não ganha dinheiro quem não quer ou tem preguiça”, garante Ítalo Leandro, 23 anos, que largou os estudos no Ensino Médio e chegou do interior da Bahia há dois meses em busca de oportunidades. “Lá está fraco de serviço”, justifica. No início, panfletava na Praça do Relógio e recebia R$ 30 de diária. Até que recebeu o convite para participar de um “projeto” para 2017: vender café na rua. “Todo serviço é digno e toda semana tenho dinheiro para mandar à família. É o que importa”, resume.

A proposta partiu do pernambucano Nei Teodoro, 32 anos, que desembarcou na capital há oito meses. “Eu já vendia água, mas, com frio e chuva, ficava parado porque não vendia. Vi no café uma oportunidade. Planejei começar o ano inovando e graças a Deus tem dado certo”, conta.

Eles se dividem entre as avenidas. A maior preocupação é com padrão. “O produto é bom, mas temos que ganhar a confiança do cliente, que não sabe a procedência daquilo que vendemos. Por isso ficamos vestidos de garçom, temos porte, forma de tratar, ingredientes e recipientes de qualidade”, explica o empreendedor.

Desde dezembro, Nei tem um certificado de Microempreendedor Individual emitido pelo Sebrae e alvará de licença provisória. O despertador toca às 3h para fazer o café. No semáforo, eles ficam até as 21h. A quantidade generosa do produto em um copo de isopor custa R$ 1, menos que um pingado oferecido em estabelecimentos em volta. “A gente não tem medo do trabalho. Na chuva, é quando o café mais sai. Usamos como oportunidade, não como limitador. Dá para tirar proveito de tudo”, defende.

Para Ítalo, “em Brasília só não ganha dinheiro quem não quer ou tem preguiça”. Foto: Sandro Araujo

Para Ítalo, “em Brasília só não ganha dinheiro quem não quer ou tem preguiça”. Foto: Sandro Araujo

Despertam a curiosidade

A novidade chegou neste mês e chama a atenção de motoristas e pedestres. A curiosidade, mais que tudo, faz a venda acontecer. Tem elogio, gorjeta, foto. Nas redes sociais, Nei já faz sucesso uma fotografia do serviço recebeu centenas de curtidas, compartilhamentos e comentários.

“Eu estava precisando mesmo disso. Achei uma ideia muito interessante e que chega na hora certa”, afirmou o autônomo Moacir de Melo, 51 anos, primeiro da fila de parada obrigatória, que chamou a atenção da dupla para garantir o pretinho no meio da tarde de ontem.

Na calçada, também tem sucesso enquanto o semáforo está livre para veículos. Os pescoços se viram para observar a atividade e as vendas acontecem assim mesmo.

O auxiliar de vendas Shereston Antunes, de 38 anos, valoriza a iniciativa: “Mostra que há possibilidade se tem vontade”, acredita. Ele lembra que, diante da crise, muita gente tem que usar a criatividade e das ruas para sobreviver. A própria irmã, desempregada, faz e vende dindim.

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