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Brasília

Depressão: um peso que ao menos 200 mil carregam no DF

Arquivo Geral

22/06/2017 7h00

Atualizada 21/06/2017 23h21

Ao lado da mulher Maria José, Vantuir lembra com alívio a superação da fase em que sofreu com a doença. Foto: Arquivo Pessoal

João Paulo Mariano
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Não é só tristeza, choro ou irritação. A depressão é como um peso que se carrega às costas. Quem a tem, a leva para todos os cantos. O mundo fica mais cinza e a vida sem graça. Em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença aumentou 18% de 2005 para cá. Já no Brasil, 11,5 milhões de pessoas, 5,8% da população, foram diagnosticadas com o problema em 2015.

No DF, 200 mil pessoas estão com o transtorno. A doença acomete quatro vezes mais o sexo feminino (9,2%) que o masculino (2,5%). A professora Patrícia Coelho Barreto é uma das muitas que lutam contra a depressão. Muitas dessas histórias, apesar de difíceis, garantem especialistas e pacientes, tem um final feliz, com a vitória contra o problema.

“Eu amanhecia sem vontade de fazer nada. Mesmo que não tivesse ocorrido qualquer problema. Não tinha vontade de sair da cama. Só ia trabalhar porque tinha que cumprir com minhas obrigações”, relata o bancário aposentado Vantuir Ferreira, 53, que agora lembra com alívio a rotina dos últimos dois anos antes da aposentadoria. “Eu via a vida sem sentido. Não havia ânimo para nada”.

Apesar de um bom salário, um casamento feliz e dois filhos jovens cheios de vida, nada fazia que Vantuir saísse daquela apatia. “Eu pensava que era uma tristeza, um aborrecimento. Até mesmo um problema conjugal, mas não passava nunca”, diz. Ele conta que demorou a perceber que tinha que fazer algo para que aquilo mudasse.

Fique atento

Sintomas:

  • Diferenças no humor (muito choro ou irritabilidade);
  • Mudança de padrão de comportamento;
  • Cansaço extremo;
  • Baixa autoestima e pensamentos pessimistas;
  • Pensamentos frequentes sobre morte.

Tratamento:

  • Assim que a pessoa perceber os sintomas, deve procurar um psicólogo para entender o grau do problema;
  • Será preciso identificar as causas da depressão para um melhor tratamento;
  • Se for necessário, a pessoa pode ser encaminhada a um psiquiatra para tratamento com prescrição de remédios;
  • Não deve ser feita auto-medicação. O mesmo remédio não funciona para todos da mesma maneira.

Foi depois de muita conversa com a família que o aposentado resolveu buscar ajuda. Ele relutou com o preconceito de ir ao psicólogo e da possibilidade de tomar remédios. Foi a uma consulta e, após pouco mais de um ano, enxerga a vida de outra forma. Vantuir fez terapia com uma psicóloga e acompanhamento com um psiquiatra. Ele assegura que há um bom tempo “não acorda com essa sensação de inutilidade”.

“Lutei com (ajuda do) lado humano, tentando fazer minha parte para o tratamento dar certo; com o lado espiritual, com muita fé; e com o psicológico, tomando os remédios e com o acompanhamento profissional”, garante.

Como católico, Vantuir faz questão de falar que a espiritualidade o ajudou muito, mas que acredita que só unindo a fé e a razão é possível vencer a depressão.

Fabiana Cassimiro foi a psicóloga que ajudou no tratamento de Vantuir. A profissional lembra que, como ele, muitos chegam a seu consultório com preconceitos, que aos poucos caem por terra, devido a necessidade do paciente. As causas para a depressão podem ser diversas: desde deficiências de substâncias no corpo a acontecimentos externos.

Ela adverte que não são somente a tristeza ou choro os sintomas da depressão, mas a irritabilidade excessiva e a agitação. “Depressão não é só para fica em uma cama em um quarto escuro”, complementa.

Ajuda da família se torna essencial

Para a psicóloga Fabiana Cassimiro, a participação familiar é essencial no processo de melhora dos pacientes. Seria necessário dar suporte, sem criticar, pois, segundo ela, muitos, mesmo vendo o sofrimento do ente querido, acham que é frescura e não depressão.

Para Vantuir Ferreira, esse apoio foi essencial: “O fato de eu ter uma esposa muito amorosa, filhos belíssimos, um pai vivo e me dar bem com meus irmãos da igreja foram importantes para mudar minha autoestima”.

Como muitas vezes a família não sabe como agir com pessoas que apresentam quadros depressivos ou de outros transtornos mentais, foi criado o Núcleo de Mútua Ajuda às Pessoas com Transtornos Afetivos (APTA-DF), que funciona na Universidade de Brasília (UnB). Nele, familiares aprendem a lidar com o preconceito em relação ao assunto e entendem como ajudar quem passa por esse momento.

A presidente do APTA-DF, Mariana Campos, entrou no grupo em 2012. Ela tem um familiar com transtorno bipolar, que alterna momentos de depressão e ansiedade. “O diagnóstico é difícil. É preciso aceitar que vai ter um familiar com uma doença que precisa de tratamento. É necessário aprender a conviver”. Mariana vê que é preciso acabar com o preconceito em relação ao assunto.

Interessados em auxílio podem entrar em contato pelo telefone (61) 3107-1978.

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