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Brasília

Crise hídrica: torneiras vazias em parte do DF

Arquivo Geral

18/10/2017 7h00

Repentina queda de vazão do rio Pipiripau agravou a crise hídrica e interferiu no abastecimento. Foto: John Stan

Francisco Dutra
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Hoje, 140 crianças carentes serão forçadas a ter apenas meio período de aula, cuidados e alimentação na creche pública Jatobá, situada no Arapoangas. Essa é uma das consequências do desabastecimento de água em Planaltina e em Sobradinho, causado pela repentina queda de vazão do rio Pipiripau. Uma medida que pode ter contribuído com o problema foi o aumento da captação do canal Santos Dumont, ligado ao Pipiripau, em 5 de outubro, para a produção rural.

Segundo fontes do JBr., a Agência Nacional das Águas (ANA) teria autorizado o aumento da captação de 150 litros por segundo para 200 litros por segundo. Na véspera da suposta decisão, Brasília viveu o respiro de algumas chuvas. Servidores do DF contrários à decisão foram votos vencidos. Tão logo a medida foi executada, a vazão do Pipiripau para Planaltina e Sobradinho despencou abruptamente.

No dia 11 outubro, a decisão foi revista e captação rural recuou para 130 litros por dia. No entanto, devido à volta agressiva da seca, a vazão para a população não pôde ser reequilibrada. “A ANA aumentou nossa outorga por uma semana. Foi para 200 litros por segundo. Logo depois das chuvas. Mas, mesmo assim não captamos tudo isso. Não temos bombas. Nossa captação é apenas pela gravidade”, contou a presidente do Canal do Santos Dumont, Sandra Ribeiro Kikuchi.

Interrupção

Coincidência ou não, ontem (17) a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa) decidiu interromper por 24 horas a oferta de água do Santos Dumont para produtores rurais. Em paralelo, será diminuída a captação rural do Córrego Quinze, na forma de rodízio, para reforçar o abastecimento da população do Vale do Amanhecer, também castigada pelo desabastecimento.

Por outro lado, Sandra Ribeiro revelou o sofrimento dos produtores rurais. No caso do Santos Dumont, 84 famílias não têm água suficiente para manter a produção. “Se você olhar para a minha plantação, chora. Continuo com batata- doce e berinjela. Pimenta-de-cheiro e maxixe já abandonei. E o inhame que cultivo está morrendo”, desabafou a produtora.

Para Sandra, o problema é a falta de fiscalização contra a captação ilegal. Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu contato com a ANA.

Crianças ficam sem aula

A falta de água castigou a família de Olga Porto da Silva Galdino, de 29 anos, por todos os lados. Moradores do Bairro Nossa Senhora de Fátima, em Planaltina, eles estão sem condições de limpar a casa e preparar devidamente as refeições desde a semana passada. Para piorar, a filha Laura Porto, 3 anos, é umas das alunas da creche Jatobá. E a interrupção do horário normal vai afetar ainda mais a rotina da família.

“Eu estudo e faço estágio. Estava desempregada e há dois meses consegui essa oportunidade. Se minha filha não puder ficar o horário normal, que é até as 17h, vou ter que deixá-la com a minha mãe, que mora no núcleo rural de Planaltina”, contou.
Olga considera a falta de água revoltante. Ao lado da creche, a Escola Classe 7 também terá aulas reduzidas, afetando o aprendizado de 430 estudantes dos ensinos infantil e fundamental.

A indignação de Olga também é sentida no Vale do Amanhecer, onde a comunidade alega estar há 10 dias sem água. Hoje os moradores preparam um protesto cívico no Córrego Quinze, fazendo a limpeza do local. Na avaliação da comunidade, o desabastecimento é extremamente estranho, pois o córrego está cheio. Do ponto de vista da vizinhança, a falta de água é decorrente de diversas casos de captação ilegal.

 

Saiba mais

  • Segundo a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), a vazão de outorga do Pipiripau, em Planaltina e Sobradinho, é de 400 litros por segundo, mas estão sendo captados somente 130 litros por segundo. Planatina tem 179 mil habitantes, enquanto Sobradinho, 142 mil.
  • Outro ponto delicado é manancial do Barrocão, em Brazlândia, onde a outorga é de 103 litros por segundo. Todavia a captação atual é de 60 litros por segundo. O local abriga 46 mil moradores.
  • Com os cortes de captação rural, a Caesb projeta que será possível reequilibrar o abastecimento da população dentro de três dias.
  • Por outro lado, produtores rurais do Santos Dumont calculam que, apesar de o governo dizer que a interrupção será de 24 horas, é preciso esperar três dias.

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