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Brasília

Crise hídrica no DF foi prevista, mas não prevenida

Arquivo Geral

20/09/2016 7h00

Lucivânia, moradora do Grande Colorado, armazena a água da máquina de lavar para não ficar sem opção. Foto: Angelo Miguel

Eric Zambon
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A solução para a crise hídrica no Distrito Federal vai, literalmente, cair do céu, mas não foi provocada apenas pela seca. Desde que assumiu, o atual governo sabe da necessidade de novos pontos de captação e de combater o crescimento desmedido da população. A própria Agência Reguladora de Águas (Adasa) emitiu uma resolução em 15 de agosto deste ano alertando quanto ao nível dos reservatórios que abastecem o DF. Sendo assim, por que nada foi feito antes e o problema só se tornou notório agora?

“Existe muito descaso da Caesb e da Adasa em relação aos nossos mananciais”, acusa o diretor do Sindágua-DF, Pedro Cerqueira. “Se houvesse uma emergência, muita gente estaria sem água porque eles não protegeram os pontos de captação”, reitera.
Ele também diz que o desperdício por imperícia na manutenção das adutoras aumentou 10% nos últimos anos, devido ao emprego de técnicos terceirizados pouco qualificados pela Caesb.

Mais “gatos”

A Companhia de Saneamento Ambiental, no entanto, garante que a fiscalização aumentou. Conforme a empresa, em todo 2015 foram identificadas 3 mil ligações irregulares de água, enquanto neste ano já foram 36 mil em nove meses.

“O baixo nível dos reservatórios está relacionado […] também ao crescimento desordenado, inclusive em áreas próximas aos mananciais de captação, e ao aumento do consumo, que, projetado até o fim do ano, é o maior de todos os anos”, enumerou, por meio de nota.

Investimento

O superintendente de Recursos hídricos da Adasa, Rafael Mello, ainda cita a necessidade de investimento em novas fontes para a abastecer a capital. Segundo ele, as bacias do Descoberto e Santa Maria suprem 85% da população do DF, enquanto outros ribeirões menores são responsáveis pelos 15% restantes. É nessas bacias que a situação está pior, pois a captação opera no limite permitido por lei.

“Existe previsão para construção de captação em Corumbá IV, que será uma parceria com Goiás, no próprio Lago Paranoá, que é a mais avançada, e no Ribeirão do Bananal, que sai de dentro do Parque Nacional. Mas a primeira deve entrar em carga no final de 2017 e o restante só em 2018”, explica.

Saiba mais

Apesar do estado de alerta, o nível de 40% dos reservatórios que abastecem 85% do DF ainda garantem água potável pelos próximos três meses. Nas regiões abastecidas pelos outros 15%, o racionamento é uma realidade. Os ribeirões do Piripipau e os sistemas de São Sebastião e Brazlândia operam no limite de captação.

Conforme a lei ambiental, um manancial só pode ter extraído 80% de seu volume máximo e é nesse limite que os três supracitados operam. A Adasa acrescentou que o nível de chuva esperado nos últimos três anos foi abaixo do esperado e, portanto, a situação se tornou crítica.

Próximos 30 dias são decisivos

Solução imediata, portanto, não existe, e, caso não chova nos próximos 30 dias, Brasília entrará oficialmente em estado de racionamento. Em cidades como Planaltina, São Sebastião e Sobradinho, porém, isso já é realidade. Hoje, será feita nova avaliação sobre a interrupção do abastecimento. A empresária Lucivânia Batista, de 38 anos, sabe bem como funciona e, portanto, já tem métodos para economizar em seu lar, na região do Grande Colorado.

“Aproveito a água da máquina de lavar para fazer os serviços da casa. Quando está seco, eu diminuo a potência da descarga para gastar menos”, revela a mulher. Em casa, ela montou uma espécie de piscina que serve tanto para lazer de seus filhos quanto para armazenar água para afazeres domésticos, sem precisar ligar a torneira novamente.

Moradora de Sobradinho II, a secretária Cláudia Borges, de 28 anos, se irritou pois a escola de seus dois filhos anunciou, no início da tarde, que não haveria aula por falta d’água. “Já estavam operando só com a caixa de água há dois dias e agora não dá mais”, indigna-se. Ela critica a falta de consciência das pessoas e pensa que aumentar a tarifa não adianta, pois quem mais desperdiça são justamente aqueles com condições de pagar.

Previsão de chuva

A semana ainda começou com o tempo seco no DF, mas deve terminar menos quente. A previsão é de que, a partir de amanhã, a chuva comece a refrescar os brasilienses de maneira mais intensa.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura só deve cair mais no meio da semana, quando as chuvas intensas devem aparecer. A umidade vai variar entre 45% e 80%.

Por causa do tempo seco, a Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil do DF decretou estado de alerta na última quarta-feira e listou uma série de cuidados a serem seguidos pela população durante o período.

Recomenda-se redobrar o cuidado com a pele, usando protetor solar, além de ingerir muito líquido – ao menos seis copos d’água por dia.

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