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Brasília

Crise força escolas tradicionais do DF a fechar as portas

Arquivo Geral

01/11/2016 7h00

Atualizada 31/10/2016 23h17

O São Camilo já avisou que não renovará matrículas. Foto: Myke Sena

Jéssica Antunes
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Pelo menos três escolas tradicionais anunciaram que encerrarão as atividades no Distrito Federal neste ano. Em comum, elas têm a religiosidade, a estrutura pequena, se comparada aos parâmetros das redes atuais, e o fato de não conseguirem acompanhar a mudança do perfil da população. Enquanto elas sucumbem à modernidade, redes de ensino sobrevivem à crise econômica, ampliando o atendimento em áreas onde o público em idade escolar ainda é crescente. Restam apenas as memórias dos colégios que nasceram e cresceram com Brasília.

Saiba mais

  • O Colégio Rosário enfrentou problemas financeiros nos últimos anos. Em 2008, parte do terreno foi repassado ao Grupo Galois, que fundou o Le Petit Galois, exclusivo para crianças que cursam do 1º ao 5º ano na 908 Sul.
  • O grupo São Camilo mantém unidades em São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. Todas podem ter as atividades encerradas.
  • Os pais dos alunos do Colégio Imaculada Conceição foram avisados que a matrícula não será renovada.

Após mais de 50 anos, o Centro Educacional Nossa Senhora do Rosário, na 908 Sul, o Centro Educacional São Camilo, na 914 Norte, e o Colégio Imaculada Conceição, na 606 Sul, não terão ano letivo em 2017. Os dirigentes das escolas não quiseram comentar o fechamento dos portões, mas, aos pais de alunos, todas associaram a medida a questões financeiras.

A crise econômica está aí. A renda caiu, o desemprego aumentou e a inadimplência é realidade. Tudo isso rompeu com a tendência de migração da escola pública à particular, praxe de um passado não tão distante. Exatamente da forma oposta, os colégios privados agora sofrem as consequências da crise. A estimativa do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe) é que oito escolas já tenham anunciado o fim das atividades.

Expansão

Há gestões, porém, que conseguem ampliar o atendimento inaugurando unidades em locais com demanda infanto-juvenil considerável e crescente. O Colégio Ideal, por exemplo, em 2017 receberá alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental em Taguatinga Norte, além de mais uma instalação que abrirá em Águas Claras, onde já há parcerias com grupos de moradores para concessão de descontos. A rede Alub, que já contava com oito escolas e mais de 14 mil alunos matriculados, ampliou o atendimento para Ceilândia Norte.

Para Álvaro Domingues, presidente do Sinepe, isso nada tem a ver com a estrutura das escolas: “A população tem uma dinâmica de crescimento em algumas regiões e estagnação em outras. No Plano Piloto, onde estão as três escolas religiosas que anunciaram o fechamento, há uma faixa etária mais avançada. Em cidades como Ceilândia e Águas Claras ainda há um natural aumento de crianças. As escolas bem administradas conseguem acompanhar essa demanda”, ressaltou.

Lembranças boas e amigos eternos

Era fim da década de 1950. Brasília, a futura capital brasileira, estava em construção. Com quase nenhuma infraestrutura, 60 mil pessoas já viviam no território do DF. Naquela época, as primeiras escolas particulares começaram a abrir as portas para acolher as crianças candangas e brasilienses que não conseguiam vagas nas unidades públicas. Agora, elas começam a fechar as portas e deixar a história apenas na memória de quem viveu aquela época.

“É um pedaço de Brasília que morre e a vitória do mercantilismo financeiro”, considera Francisco Sant’Anna, aposentado de 59 anos que estudou no Centro Educacional Nossa Senhora do Rosário em 1962, quando o Lago Paranoá, ainda em processo de cheia, precisava ser atravessado por pontes improvisadas. Ali, estudaram também seus três irmãos.

Amizade que perdura

As imagens da instituição estão vivas na memória, como o barracão de madeira no formato da letra C, com dormitórios para freiras e a quadra de cimento onde praticavam esportes. A escola, uma das poucas mistas da época. Sempre foram reduzidas turmas por série, de forma que todos se conheciam e a amizade perdura até hoje, com encontros periódicos. Em 2003, no aniversário de 30 anos da conclusão do ensino, fizeram um grande encontro. Já naquela época, havia aulas de inglês, francês e oratória no que hoje é o Ensino Fundamental.

Formado há dez anos, o empresário Willian Kaizer, 28 anos, é nostálgico. Ele foi aluno do Colégio Imaculada Conceição por oito anos e gostaria que seus filhos também estudassem ali. “Fiquei chateado quando soube que fecharia. Era uma escola em que os alunos não eram números. Todos nos tratavam por nome, conheciam nossa história. Fiz amigos para a vida inteira, que foram até meus padrinhos de casamento”, recorda.

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