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Brasília

Criminalidade ultrapassa as divisas do DF

Arquivo Geral

14/06/2016 6h30

Kleber Lima

Jéssica Antunes
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O perigo cerca Brasília. Três municípios da Região Metropolitana do Distrito Federal estão no ranking das cidades mais perigosas do Brasil, e a criminalidade ao redor interfere na segurança da capital. Os governos do DF e de Goiás assinaram um Pacto de Segurança Integrada para trabalhar em conjunto e determinaram os planos de metas e a criação de três comitês, que devem funcionar a partir do mês que vem.

Com uma taxa média de 66,6 homicídios violentos a cada grupo de cem mil habitantes, Valparaíso (GO) ocupou o 30º lugar no Mapa da Violência de 2015. Luziânia e Águas Lindas também estão entre os cem primeiros municípios da lista. Mas a criminalidade abrange demais cidades. No último ano, os crimes contra a vida cresceram 11,2%.

De acordo com a secretária de Segurança do DF, Márcia de Alencar, o Comitê Integrado de Inteligência Estratégica será fixo. Ele prevê ações nas divisas para erradicar crimes de tráfico de drogas e de armas, que interferem diretamente nos crimes contra o patrimônio (assaltos e furtos). Os outros dois comitês previstos, pensados para compartilhar as operacionalidades das ações e as análises criminais de planejamento operacional, terão reuniões periódicas.
Márcia de Alencar revelou que, após um trabalho intensivo de policiamento em Luziânia no ano passado, os índices de criminalidade na região entre Gama e Santa Maria aumentaram. “O crime se deslocou também para Valparaíso e Águas Lindas. Eles estão apenas movimentando o lugar do crime, sendo grande parte moradores de fora do DF e menores”, avalia.

“Ao planejar suas práticas criminosas, as quadrilhas sabem as nossas limitações de fronteiras. Esse protocolo e esses comitês são para que a gente possa ter uma atuação conjunta entre as unidades da Federação, e para que possamos capturar essas pessoas, independentemente de seus locais de origem”, explicou a secretária do DF.

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E o retorno dos impostos?

Em Valparaíso, o mato alto e as construções abandonadas contribuem para a insegurança da população. “Os bandidos se escondem para observar a movimentação. A segurança é precária, mesmo, em todo o município. A gente paga nossos impostos em dia, faz a nossa parte para garantir nossos direitos, mas não tem”, reclama Ailton Cortes, presidente da Associação de Moradores do Condomínio Vivendas.

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Nove cidades e um mesmo problema

São nove os municípios considerados integrantes da Região Metropolitana do DF: Luziânia, Cidade Ocidental, Valparaíso, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto, Águas Lindas, Planaltina, Padre Bernardo e Formosa. A Secretaria de Segurança de Goiás os monitora juntos e, segundo dados da pasta, o número de crimes contra a vida cresceu 11,2%, com destaque para homicídio, que vitimou 768 pessoas no ano passado. No mesmo período, o DF registrou 614 casos.

No Centro-Oeste, Goiás impulsionou o crescimento de 44,9% nos homicídios por arma de fogo entre 2002 e 2012 – último ano com dados disponíveis. No estado, o número de vítimas mais que duplicou: passou de 940 para 1.951. Enquanto isso, no DF, o dado cresceu 41%, com 803 óbitos no início da década contra 569.

Entre as cidades da Região Metropolitana, Valparaíso teve 227 registros de homicídios; Luziânia, na 34ª posição, teve 196 e uma taxa média de 62,9 a cada cem mil habitantes; e Águas Lindas, com 164 ocorrências, está no 84º lugar com média de 47 mortes por grupo populacional. A pesquisa revela que os homicídios são a principal causa da morte de jovens no Brasil, especialmente homens, negros e pobres.

Toque de recolher

Na Região Metropolitana, há toque de recolher. O medo não é só de perder a vida, já que é o risco de assalto que mais assusta os moradores. Após as 18h, os comerciantes atendem atrás das grades e os moradores evitam sair. “Não me sinto nem um pouco segura”, conta Lidiane Araújo, 25. Ela é atendente de uma mercearia que se rendeu aos assaltos e, para garantir a segurança dos funcionários, só realiza transações pela abertura da grade. O estabelecimento foi assaltado recentemente.

Sorte teve, até hoje, a distribuidora de bebidas onde Paulo Correia, 31 anos, trabalha. O local já foi inaugurado com grades grossas. Durante todo o horário de funcionamento, que vai até a madrugada, os atendimentos são feitos com o aparato separando trabalhadores de clientes. “É para prevenir assaltos. Trabalho aqui há três anos e não passamos por isso”, conta.

No ano passado, por dia, foram vítimas de roubo e furto 19 pedestres, e cinco veículos foram roubados nos municípios da Região Metropolitana do Distrito Federal. Quase 29 mil desses crimes foram registrados em 2015. Apesar de alto, houve redução de 13,7%. No mesmo período do ano anterior, foram mais de 33 mil ocorrências.
portões fechados

Em toda a cidade, predominam os portões completamente fechados. Os moradores dizem preferir desconhecer o que acontece do portão para fora e evitar que vejam o interior das residências.

“Estamos todos largados, jogados e abandonados. Não podemos dar sorte ao azar, mas é um absurdo que tenhamos que nos prender quando os bandidos é quem deveriam estar atrás das grades”, desabafou uma idosa, que pediu para não ser identificada. (Colaborou Altieres Losan)

Saiba mais

Embora o pacto abranja todas as cidades da Região Metropolitana, serão tratados, em uma primeira fase, especialmente dois municípios de Goiás: Cidade Ocidental e Valparaíso.

Edson Costa Araújo, coronel da reserva e superintendente Executivo de Administração Penitenciária de Goiás, diz que a intenção é trabalhar pelo controle da criminalidade de forma geral, embora o foco seja nos crimes contra a vida. “Também monitoraremos e trabalharemos nos crimes contra o patrimônio e tráfico de drogas, que está vinculado direta ou indiretamente aos demais crimes”, completou. De acordo com ele, pelo menos 80% dos homicídios estão associados ao tráfico.

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