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Brasília

Candidatos ao concurso da PMDF dizem que rapaz bebeu suplementos antes de morrer

Arquivo Geral

20/09/2018 19h30

PMDF/Divulgação

Rafaella Panceri
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Candidatos ao concurso da PM afirmam que o rapaz que morreu durante o Teste de Aptidão Física (TAF) do concurso da Polícia Militar do DF, Leonardo da Silva Oliveira, 31, teria ingerido uma bebida energética e um suplemento termogênico antes da prova. No entanto, o laudo médico com a causa da morte do rapaz ainda não foi divulgado – deve levar 30 dias para ser concluído.

Durante o exame, realizado nessa quarta-feira, Leonardo sofreu uma parada cardíaca durante a prova de corrida, recebeu socorro e foi levado ao Hospital Regional de Taguatinga. Ele foi atendido na emergência às 17h43 e, segundo a família informou à banca examinadora Iades, morreu às 2h40 de ontem. Em nota, a Polícia Militar lamentou o ocorrido.

Uma candidata que preferiu não se identificar acredita que a ingestão das substâncias pode ter favorecido o ataque cardíaco sofrido por Leonardo, caso ele tenha feito uso. “Colegas comentaram em grupos que ele tomou alguma coisa desse tipo antes de fazer o TAF. Isso acelera os batimentos cardíacos, fora o nervosismo. O fato não tem explicação, porque ele estava com o atestado em dia. Todos que o conhecem falam que ele estava tranquilo para fazer a prova e não tinha problemas de saúde”, comenta.

“Na minha opinião, foi uma fatalidade. O TAF vem ocorrendo há dias e não vimos nenhum fato parecido. Só o laudo médico poderá dizer a real causa”, pondera. “Todo mundo que faz o TAF já vai ansioso. É um desgaste tremendo, as mãos gelam e você tem que fazer assim mesmo. Na hora dá muita ansiedade, tem um clima de competição. O psicológico é o que manda. tem que ficar bem calmo”, diz.

Última conversa
O militar Henrique Porto, 22, foi a última pessoa a conversar com o concurseiro durante o TAF. Ele conta que não via o amigo há semanas e que os dois fizeram parte da preparação para o certame juntos, com uma equipe de coaching para concursos. “Eu estava saindo da prova de natação e ele estava na fila para executar as barras quando nos encontramos. É difícil encontrar amigos, porque no TAF tem gente de vários lugares diferentes. Depois iria para a medição de altura e fazer os abdominais para, então, executar a parte da corrida. Quando me viu, ele se levantou, todo alegre, e me perguntou como tinha sido o meu desempenho. Falei que estava tudo bem e desejei boa sorte”, narra o rapaz, e acrescenta que Leonardo parecia muito feliz.

“Mais tarde, eu soube do acontecimento. Ele estava na quinta volta. Faltava apenas uma e ele começou a passar mal e caiu”, conta. “Se ele tomou alguma coisa, foi antes de entrar, porque ele parecia estar só com a roupa do corpo para fazer a prova, sem sacola, sem mochila. Vi muita gente tomando pré-treino [suplemento à base de cafeína], comendo barra de proteína, rapadura, ingerindo carboidrato em gel [repositor energético]. Antes de ser examinado, ele não comeu nada”, supõe Henrique Porto.

O rapaz também considera a morte do amigo uma fatalidade. “Principalmente pela forma como aconteceu. Ele estava com a saúde boa, praticava atividade física. Isso poderia acontecer com qualquer pessoa”, comenta, e diz que os suplementos e repositores são comuns durante provas que exigem desempenho físico e em academias. Para ele, o TAF para a o concurso da PMDF é menos exigente que em outros estados e em provas para admissão nas Forças Armadas. “Para quem não tem experiência, é difícil. Mas não era o caso do Leonardo”, esclarece.

Preparação intensa

A Comissão do Concurso da PMDF 2018 lamentou o ocorrido nas redes sociais. “Que Deus conforte o coração de sua família. E que ele descanse em paz”, diz a publicação. Para o grupo, a morte de Leonardo foi uma fatalidade. “O TAF tem um nível de dificuldade alcançável para quem se prepara. Não é fácil. Quem nunca treinou não consegue fazer, mas quem faz o mínimo necessário, com pelo menos um mês de antecedência, consegue realizar tranquilamente. Existe um desgaste, mas a pessoa consegue”, opinou Gabriela Gontijo, membro da comissão.

Colega de curso preparatório, o advogado e candidato Rafael Basilio, 24, conta que Leonardo se preparava há meses para o certame. “Ele tinha preocupação com a idade. Tinha 30 anos, idade máxima para entrar na PM, e completou 31 pouco tempo depois da inscrição. Era realmente a última chance dele”, conta. O coach Vinicius Soares participou da preparação de Leonardo desde 2016. “Ele estava realmente se dedicando. Fez uma série de ajustes para passar, mudou rotina, adaptou horários, chegava cansado do trabalho e ainda cumpria metas. Me encontrei com ele há 20 dias, para matricular a noiva dele. A gente conversou e ele contou que estava conseguindo correr e que já se sentia preparado fisicamente. Isso me deixa magoado porque é uma pessoa que pagou o preço para ter vida melhor e infelizmente não vai poder desfrutar”, desabafa.

Versão oficial

O Instituto Americano de Desenvolvimento (Iades) esclareceu, em nota, que aguarda informações sobre a causa da morte de Leonardo. Disse que “para a realização dos testes de aptidão física, todos os candidatos são obrigados a apresentar atestado médico que comprove estarem aptos para a realização dos exercícios específicos para o concurso público”. Desde a última segunda-feira (15), 3,9 mil candidatos se submeteram a testes de flexão abdominal, de barra fixa, corrida de 12 minutos em um mesmo dia e natação (em outro dia).

Em nota, a PMDF prestou condolências aos familiares e amigos “em nome de todos que integram esta Instituição bicentenária que Leonardo pretendia integrar”.

Ponto de vista

A nutricionista e preparadora física especialista em fisiologia do exercício avançado, Renata Fonseca, afirma que há termogênicos permitidos no País, disponíveis em lojas de suplementos, mas diz que a ingestão e a dosagem devem ser controladas por nutrólogos e endocrinologistas. “Para uma pessoa que nunca tomou, eles podem causar reações negativas no corpo. A adrenalina já está alta devido à cobrança de uma prova que vai mudar a vida do candidato, além da adrenalina já liberada pelo exercício físico. O coração fica acelerado”, explica.

“A causa da morte só será confirmada com o laudo”, destaca a profissional, mas indica hipóteses. “Talvez aquela atividade não estivesse adequada para ele. A gente sabe que ele praticava atividade física, mas desconhece até que ponto ele estava preparado para algo naquela intensidade. Para fazer o TAF, é necessária uma avaliação cardiovascular, mas sabemos que muitas vezes os atestados são dados de maneira aleatória, sem que os testes sejam feitos”, critica.

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