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Brasília

Caesb avalia se o racionamento tem relação com rompimento de adutora

Arquivo Geral

18/08/2017 7h00

Atualizada 17/08/2017 22h15

Foto: Breno Esaki

Jéssica Antunes
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A adutora de água potável que rompeu-se na madrugada dessa quinta-feira (17) na EPTG pode ter sofrido as consequências do racionamento de água, o que fragiliza o sistema. A Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) não descarta a possibilidade apontada por especialista, mas ainda avalia as causas. Técnicos identificaram uma válvula com problemas. O reparo foi concluído à tarde, mas o enchimento da adutora levaria toda a madrugada. Por isso, a expectativa de normalização do abastecimento é a partir das 8h de hoje.

“O racionamento pode ser uma das causas para o incidente. Toda vez que o abastecimento é interrompido, o peso é aliviado. O próprio solo reage empurrando a estrutura para cima. Quando a água volta, a tubulação fica com ar preso – e é preciso abrir a válvula, o que faz com que a água demore a retornar. A pressão pode até romper a tubulação. A tendência é que, com esse conjunto, acidentes aconteçam especialmente em tubulações mais antigas”, explica Sérgio Koide, engenheiro civil especialista em engenharia sanitária.

Para evitar a situação, é preciso substituir as peças. Outra saída, para o especialista, é setorizar a rede. Segundo a Caesb, a instalação foi feita na década de 1970 e tem vida útil de mais de 70 anos. Deveria, portanto, aguentar por mais quase duas décadas. De acordo com a empresa, monitoramentos e medidas para evitar riscos fazem parte dos trabalhos diários.

No início do mês, um caso em Santa Maria interrompeu o abastecimento em 12 regiões. Em junho, o rompimento de uma adutora no canteiro de obras do Trevo de Triagem Norte, na entrada do Lago Norte, fez a água jorrar a mais de 15 metros de altura.

“Rompimentos são costumeiros. Em Santa Maria, foi causado pela tubulação velha, em que o metal sofre com dilatação. No Lago Norte, foi questão de acidente. A empresa deveria saber que existe uma tubulação e a atingiu. Em 2014, quando um operário morreu, foi falha no processo de montagem”, assinala Sérgio Koide.

Saiba mais

  • Cinco regiões ficaram desabastecidas por causa do rompimento: Taguatinga (QSA 01 a 25; QSB 01 a 06; QSC 01 a 28; CSA 01 a 03; CSB 01 a 10; C 01 a 11), Guará, Lucio Costa, Super Quadra Brasília e Colônia Agrícola Águas Claras.
  • As áreas que ficaram sem água por causa disso não passarão pelo ciclo de racionamento previsto para hoje.
  • No começo do mês, uma obra de ligação entre os sistemas de abastecimento dos reservatórios de Santa Maria e do Descoberto. Na ocasião, o Guará I e II tiveram a origem do recurso alterada. A Caesb nega que isso tenha interferido no rompimento na EPTG.

Mau funcionamento

O rompimento da adutora aconteceu por volta das 5h e a causa é desconhecida. Quase uma hora foi necessária até que técnicos chegassem e fechassem gradativamente o registro. A Caesb ainda não sabe quanto de água foi desperdiçado em plena crise hídrica. Se aproximava das 12h quando as manilhas danificadas foram removidas.

“Estamos avaliando as causas. O que já identificamos foi o mau funcionamento em uma válvula na entrada do reservatório de Taguatinga Sul. Pode ter criado uma onda de pressão até o local do acidente”, afirma Maurício Luduvice, presidente da Caesb, sem descartar a possibilidade de ser consequência do racionamento. Ontem, dois tubos de seis metros de ferro fundido foram substituídos.

Moradores relaram desespero

Quem mora próximo ao viaduto Israel Pinheiro teve prejuízo. Na madrugada, o autônomo Alessandro Oliveira, 35 anos, não ouviu o estrondo do incidente. Ele acordou com o barulho da água. “Achei que fosse chuva”, revela. Quando levantou-se, a inundação dentro de sua casa já passava da altura do tornozelo. “A água subia muito rápido, não entendi o que acontecia. Pedras arrastadas até o portão bloquearam a saída. Tive que quebrar o muro para que escoasse”, conta.

Cama, colchão, sofá, armários, fogão, geladeira. A contabilização do prejuízo e a retirada da lama de dentro de casa correu a manhã de ontem. “Foi desesperador, um desespero violento mesmo. Fui até a pista para entender o que estava acontecendo. Minha preocupação era com meus filhos”, revela Alessandro. No momento do acidente, dormiam em casa a mulher e os três filhos de 14, 16 e 21 anos. Até o cachorro ficou enlameado.

A casa não corre risco de desabamento, segundo a Defesa Civil, mas é uma das mais afetadas pelo rompimento da adutora. A estimativa é que a água tenha invadido 90% das 28 casas do condomínio. A situação mais crítica é no Condomínio Village das Pedras, com acesso pela marginal da EPTG. Ali, segundo o tenente coronel Lopes, o piso cedeu com afundamento superior a três centímetros, o que causa preocupação, e será necessário abrir o solo para corrigir. Uma mureta também pode desabar.

Uma moradora, a analista de sistemas Vanessa Dantas, de 33 anos, conta que precisou quebrar uma vidraça com o cotovelo para que os filhos, de 4 e 10 anos, pudessem escapar da água. A residência, exatamente em frente ao rompimento da adutora, recebeu grande volume de água, forte a ponto de quebrar vidros. A Caesb informou que faz um levantamento dos estragos “para possíveis indenizações”.

Congestionamento

As interdições no trânsito provocadas pelo acidente pegaram os motoristas de surpresa. Com a marginal da Estrada Parque Taguatinga (EPTG) bloqueada e a saída pela Estrada Parque Vicente Pires (EPVP) fechada, condutores de Águas Claras ficaram restritos a um acesso: pelo balão entre a faculdade Unieuro e o DF Plaza, que já sofre com engarrafamentos diários. O congestionamento se estendeu por toda a cidade e a média de circulação raramente passava dos 10km/h nos períodos de maior pico.

Até o problema ser resolvido, as faixas exclusivas da EPTG e da Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) foram liberadas para todos os veículos. Para quem conseguisse sair de casa, a reversão da via Estrutural também foi ampliada: das 7h às 9h30 e das 17h30 às 20h30.

“O que aconteceu foi uma surpresa e fatalidade. Vamos trabalhar com ações para minimizar o transtorno no trânsito”, explicou Henrique Luduvice, diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER).

Memória

Tragédia em 2014

Em fevereiro de 2014, uma adutora sob o viaduto da EPTG que dá acesso à pista do Jóquei se rompeu duas vezes em 14 horas, causando a morte de um dos seis técnicos terceirizados que trabalhavam no local. Eles tentavam reparar o anel de uma válvula de tubulação, rompido durante a noite, mas o aparato cedeu à pressão da água e voltou a se abrir.

Na época, o acidente deixou 120 mil pessoas sem água. O diretor de Operação e Manutenção da Caesb, Acylino José dos Santos, disse que o sistema tinha 30 anos, metade da vida útil comum para uma adutora do tipo. Um ano depois, a empresa foi condenada pela morte do operário.

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