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Brasília

Brasília vira a capital nacional dos endividados

Arquivo Geral

17/10/2016 7h00

Josemar Gonçalves

Eric zambon
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Nos últimos quatro anos Brasília chegou às primeiras posições do ranking de capitais com as maiores porcentagens de famílias endividadas do Brasil. Em junho deste ano, a capital do País alcançou o quarto lugar com 78% das famílias endividadas, enquanto a média nacional foi de 58% permanece nesse posto.

Apesar do patamar elevado, Brasília mostra trajetória anual de redução no número de famílias endividadas: em 2013 e 2014 eram 82%, já em 2015 eram 79%. Os dados são da pesquisa Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias Brasileiras, realizada pela Fecomercio de São Paulo, com dados de 2013 ao primeiro semestre de 2016 com base em dados do Banco Central, do IBGE e da CNC.

Entre as outras capitais que compõem a região Centro-Oeste, só Cuiabá (66%) também registrou taxa de endividamento das famílias acima da média. Goiânia, com 34%, ficou abaixo.

Com relação ao valor de dívida por família, porém, Goiânia ficou com a maior média da região Centro-Oeste com R$ 1.687, acima da média nacional (R$ 1.569). As demais capitais da região ficaram abaixo deste valor: Cuiabá (R$ 1.528), Brasília (R$ 1.415) e Campo Grande (R$ 1.203).

Brasília também é a cidade em que as dívidas mais comem a renda mensal. Conforme o levantamento da Fecomercio-SP, uma média de 35% de tudo o que as famílias brasilienses ganham no mês é destinado ao pagamento de compromissos.

O taxista Iranildo Oliveira Medeiros, de 50 anos, conhece bem essa realidade. Em 2014, devido à Copa do Mundo, ele juntou as economias e comprou um carro para tentar lucrar com a onda de turistas em Brasília. “Por um ano e meio foi muito bom, deu para ajudar bem a família”, relembra. Hoje, ele sofre para arcar com as prestações do carro e garante que, mesmo com os três membros de sua família empregados, o dinheiro não dá.

“Até o governo anunciou que não vai pagar (o reajuste dos servidores públicos). Está muito difícil hoje, por causa da crise financeira”, resigna-se. Ele garante se arrepender do investimento no automóvel, especialmente pois, hoje em dia, ele precisa dobrar as horas de trabalho e até fazer expediente em feriados para se manter. “Mesmo assim, eu mal pago minhas dívidas. Acho que no DF a crise demorou a chegar e vai ficar ainda pior em janeiro”, projeta.

Inflação come o salário

O vigilante aposentado Luis Vidal, de 63 anos, não esconde fazer parte de uma das 725 mil famílias brasilienses endividadas do DF, conforme levantamento da Fecomercio-DF. Não é motivo de orgulho, mas, para ele, o número expressivo serve como exemplo da má gestão dos recursos públicos no País.

“Tenho dois cartões estourados, eu estou cheio de dívidas. Lá em casa somos cinco, todos trabalham, e ainda assim não dá”, conta o senhor, que voltou a trabalhar como vendedor de sorvete para complementar a renda. Morador de Santa Maria, ele reclama do aumento no custo de vida na capital “Todas as contas dobraram o preço, mas o salário é todo comido pela inflação”, analisa. Vidal ainda acredita que o DF é o lugar mais difícil de se viver, e sonha em voltar para Fortaleza.

Segundo a Federação, o patamar em torno de 30% é considerado razoavelmente adequado para não sinalizar risco de elevação da inadimplência.

Saiba mais

De acordo com a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), são cerca de 290 mil os desempregados no DF atualmente, o que representa 18,5% da População Economicamente Ativa (PEA) de Brasília. Esse percentual fica 7 pontos acima da média nacional.

Goiânia é a capital da região Centro-Oeste com a menor proporção de famílias endividadas. Desde 2013, o número absoluto de famílias endividadas por lá se reduziu em quase 70 mil. Em compensação, o valor médio das dívidas é superior.

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