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Brasília

Bloco de Carnaval inclusivo acende debate sobre saúde mental em Taguatinga

Arquivo Geral

27/02/2019 20h31

O Centro de Apoio Psicossocial de Taguatinga organizou o bloco de carnaval “Amai-vos uns aos loucos” com a intenção de divulgar e conscientizar a respeito do serviço que fazem e quebrar mitos sobre os chamados “loucos”. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Ana Karolline Rodrigues

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Unindo cerca de 500 pessoas nas ruas de Taguatinga, a terceira edição do bloco de carnaval  “Amai-vos uns aos loucos” acendeu o debate sobre inclusão social de pessoas com transtornos mentais, nesta quarta-feira (27). Organizado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) II de Taguatinga, a partir das 15h, o bloco se descolou da Praça do Relógio em direção ao Caps II em clima de grande festa. Durante o percurso, tanto pacientes do Centro, quanto familiares e populares em geral repetiam frases como: “A rua não é para poucos. Amai-vos uns aos loucos”, como forma de reivindicar respeito à esta população.

A primeira edição da folia, em 2017, contou com 250 participantes. Já em 2018, o bloco chegou a unir 400 pessoas. Neste ano, o percurso de rua contou com duas bandas de bateria, sendo uma formada por estudantes de medicina da Universidade de Brasília (UnB). Além de escolta policial, agentes do Detran e uma ambulância acompanharam o bloco.

Espaço inclusivo

No local, a paciente do Caps II, Tanaira Martins Cardozo, 30 anos, entregava panfletos sobre o evento que informavam sobre a importância do cuidado com a saúde mental e alertavam para a busca por ajuda. Ela conta que saiu recentemente de uma internação de quase dois meses no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) e que agora realiza terapia e acompanhamento no Caps II. “Nós temos psiquiatras, psicólogos, todo um acompanhamento. Agora me chamaram para ser voluntária, mesmo eu sendo paciente. Creio em Deus que agora vou melhorar”, disse. Para ela o bloco inclusivo é uma ótima iniciativa para dar atenção a pacientes que tem transtornos mentais. “É muito importante. Eu acho que as pessoas não devem discriminar ninguém, até porque somos todos filhos de Deus”, afirmou.

Tanaira Martins. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Juliana de Sousa, 35 anos, é paciente do Caps III, em Samambaia Sul, e trabalha com artesanato como forma de tratamento. No local, ela contou que, atualmente, vende crochê em feiras com ajuda da técnica de enfermagem do centro, Cecília Martins de Souza. “Fui acolhida lá e agora faço os trabalhos como forma de tratamento para depressão”, disse.

Ela, que já participou do evento nas duas primeiras edições, afirma que o bloco “Amai-vos uns aos loucos” é uma forma de inclusão muito importante para pessoas como ela. “Esse evento é um espaço para nós, porque a gente quer ser reconhecido, não queremos ficar escondidos. Queremos igualdade, sermos compreendidos pelas pessoas, sermos incluídos”, contou.

Juliana de Sousa mostra seu artesanato. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Para Tatiana Lins Fernandes, 38 anos, psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial de Taguatinga, o bloco é uma oportunidade para que pessoas que apresentam transtornos mentais possam se divertir em um espaço onde se sentem confortáveis. “É uma oportunidade para eles pularem carnaval, se divertirem. Alguns, às vezes, acham que não têm espaço e agora é uma forma de terem uma integração com a cidade também”, disse. Segundo Tatiana, os próprios pacientes se voluntariaram para produzir as fantasias e as decorações dos objetos que levaram ao bloco. “Eles participam ativamente. Fizeram as fantasias, os acessórios, as artes”, afirmou.

A psicóloga explicou ainda que no Caps estes pacientes têm aceso a serviços multiprofissionais, como terapia e acompanhamento psiquiátrico. “São várias as formas de terapia: tem artesanato, canto, oficinas e os grupos de psicoterapia mesmo. São formas de ajudar pessoas que tem dificuldades de socialização, transtornos graves e persistentes”, relatou.

Tatiana Lins afirma que o bloco de carnaval é uma oportunidade para que os pacientes se sintam parte da cidade, já que muitas vezes o sentimento é de acuamento. Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

Saiba mais

Os Centros de Atenção Psicossocial foram criados para substituir as internações em hospitais psiquiátricos e se tornarem um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais. O objetivo, segundo a Secretaria de Saúde do DF, é oferecer atendimento à população de abrangência e apoio à reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

O bloco “Amai-vos uns aos outros” é uma parceria do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) II com o Hospital São Vicente de Paulo, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental do Adulto e outros Caps do Distrito Federal. A atividade conta com recursos da Secretaria da Cultura e o apoio da Secretaria de Saúde do DF.

Foto: Vítor Mendonça/Jornal de Brasília.

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