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Brasília

Batalha de mãe que reencontrou filho um dia antes de morrer ainda não terminou

Arquivo Geral

11/09/2017 7h00

Atualizada 10/09/2017 22h15

Foto: Divulgação

João Paulo Mariano
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Núbia Cerqueira Dantas de Oliveira, 40 anos, ficou sem notícias do filho por quatro anos. Após pouco mais de 24 horas do esperado reencontro, novamente ela viu o rapaz partir. Brenner Ezequiel Cerqueira Dantas, 21, morreu na madrugada de sexta-feira passada, no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Agora, a batalha é conseguir levar o corpo do jovem à cidade onde ele cresceu, Anápolis (GO). Já são três dias de tentativas.

“Só volto com ele. Não tem jeito”, afirma a mãe. Núbia está na casa de parentes, em Águas Lindas (GO), até resolver toda a burocracia para, enfim, enterrar o filho e se despedir. O Jornal de Brasília mostrou o caso com exclusividade na última semana e conversou com a família, que, apesar da tristeza pela morte, diz que há um final feliz.

O corpo de Brenner está no IML do DF devido à pendências na identificação do rapaz, que permaneceu mais de três meses internado como indigente. A família foi chamada para um novo reconhecimento e confirmou que o jovem com tatuagem no braço direito escrita “Faiska”, e outra na perna direita, com o desenho de uma carpa, é Brenner.

“As características são iguais. Ele tinha uma quelóide no joelho e uma cicatriz no pé, de quando se machucou ainda criança. É ele. Não tenho dúvida”, alega Núbia Cerqueira.

A vida dessa mãe deu uma reviravolta no início da semana passada, quando parentes de São Paulo compartilharam com ela uma publicação nas redes sociais dizendo que o jovem, que estava internado no Hospital de Ceilândia, sem identificação, poderia ser Brenner. “Eu sentia que meu filho não estava morto. Se eu soubesse que ele estava tão perto…”, lamenta.

Ela o viu pela última vez em 27 de outubro de 2013, um domingo, quando o jovem tinha 17 anos. Dois dias depois, mãe e filho conversaram por telefone. Núbia ficou sabendo que o rapaz estava na Praça do Ancião, em Anápolis, e pediu para que ele saísse de lá e fosse para a casa dele ou para a dela, pois Brenner havia se mudado da casa dos pais para morar com um colega. No entanto, ele não apareceu em nenhum dos dois lugares nem foi mais visto.

O jovem teria se envolvido com amizades ruins e dizia estar sendo perseguido na cidade, por isso precisaria se mudar. Depois de um tempo sem contato, Núbia registrou ocorrência e passou a procurá-lo em municípios próximos, mas não conseguiu resultado.

Despedida conforta a família

Brenner estava no Hospital de Ceilândia desde 23 de maio, depois de passar pela UTI do Hospital de Base. Ele foi encontrado pelo Samu com sinais de agressão e politraumatismo na cabeça e na face. A Secretaria de Saúde divulgou o caso à imprensa na tentativa de encontrar familiares do jovem.

“Esperei quatro anos para ficar com ele por 24 horas”, diz Núbia, ao lembrar do momento que viu o filho na cama do HRC. Ao chegar ao hospital, na tarde do dia 6, ela não tinha dúvidas. O rapaz que estava ali, mais magro e ferido, era Brenner Ezequiel Cerqueira Dantas, agora com 21 anos. “Eu o reconheci e ele me reconheceu. Comecei a gritar no hospital ‘meu filho, meu filho’. Eu tinha encontrado”, diz a mãe, sorridente.

Sem conseguir falar devido à traqueostomia, Brenner confirmava o que a mãe perguntava com piscadas. No feriado da Independência, ele recebeu visita de todos os parentes de Anápolis, animados com a volta do rapaz ao seio familiar.

Porém, essa alegria não durou muito tempo. Por volta das 4h do dia 8, Núbia tocou no filho e percebeu que ele estava gelado e não respirava. Chamou os médicos, mas não foi possível fazer mais nada. O motivo de suas orações e esperanças nos últimos quatro anos tinha partido uma segunda vez. Agora, sem possibilidade de reencontro.

Para Núbia, o filho a esperou para morrer e por isso o fim desta história teria sido feliz. “Ele estava muito ferido e não se movia, mas eu o queria mesmo que ele ficasse assim”, afirma. A mãe espera poder enterrar o filho no máximo amanhã, para dar mais tranquilidade a seu coração.

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