Menu
Brasília

Avó desabafa após morte de neto durante parto no Hospital de Samambaia

Arquivo Geral

21/09/2018 7h00

Atualizada 20/09/2018 22h49

Lorrane e o marido, Márcio, no chá de fraldas do filho Arthur. Reprodução

Raphaella Sconetto
[email protected]

Falta de atendimento, negligência e violência obstétrica. Uma família de Santo Antônio do Descoberto (GO), Região Metropolitana do Distrito Federal, denuncia o atendimento do Hospital Regional de Samambaia (HRSam), após uma garota de 19 anos ficar mais de 24 horas em trabalho de parto, mesmo pedindo para que fosse realizada uma cesárea. O bebê não resistiu e nasceu morto na última terça-feira (18). A direção da unidade de saúde, por outro lado, diz que o pequeno nasceu em parada cardiorrespiratória e que todas as manobras de reanimação foram feitas, mas ele não resistiu.

A dona de casa Eleusa Aparecida de Souza, 59 anos, é avó de Arthur. Ela conta que a peregrinação de sua filha Lorrane Stefany, 19 anos, começou ainda no início do mês passado. De lá para cá, foram inúmeras visitas em cinco hospitais: Hospital Materno Infantil (Hmib), Ceilândia (HRC), Samambaia (HRSam), Taguatinga (HRT) e em Santo Antônio do Descoberto, onde a família mora.

“No dia 24 de agosto, fomos para o hospital daqui de Santo Antônio porque ela tinha uma consulta do pré-natal. Ela já tinha perdido o tampão. O médico fez o toque, ouviu o neném, e disse que ela não teria passagem, que o bebê era grande e gordinho, e não iria nascer de parto normal”, lembra a dona de casa. Na cidade da Região Metropolitana, o médico indicou que Lorrane fizesse exercícios em uma bola de pilates, caminhadas, agachamento e até que ficasse debaixo de chuveiro com água quente para ver se ela dilatava.

A jovem começou a perder sangue. Foi quando ela e sua mãe procuraram novamente o hospital. Em Santo Antônio, o médico informou que ali não fazia cesárea e pediu para vir para Brasília. Na capital, Lorrane passou no Hmib, HRT, HRC e HRSam. Em todas as unidades, informaram que ela tinha a dilatação necessária para o parto normal e que retornasse quando entrasse em trabalho de parto.

No domingo (16), a jovem começou a passar ainda mais mal. Ela já estava com 42 semanas, segundo Eleusa. “Ela estava com muitas dores na costas. Foi quando começou o sofrimento. Fomos ao hospital de Samambaia. Internaram, aplicaram um soro e deram um remédio para induzir o parto”, conta a dona de casa. “Pedia para cuidarem da minha filha, disse que ela não queria parto normal, que não tinha como ser porque ela não estava tendo dilatação, mas insistiram”, completa.

A mãe, preocupada, disse que não aguentou ficar no quarto vendo a filha passar mal. “Sou hipertensa, fiquei com medo de passar mal e sai. Aí a sogra dela começou a acompanhar. Só que toda hora ela colocava a cabeça para fora do quarto e dizia ‘mãe, está doendo demais’, ‘mãe, faz alguma coisa’”, recorda.

Nesse momento, Lorrane ainda estava com pouca dilatação, mesmo com o remédio para iniciar o trabalho de parto. “Isso era por volta de 13h. Escutei ela gritar o resto do dia todo, a noite inteira. A dilatação aumentava pouco. A cada centímetro, a diferença era de horas”, aponta Eleusa.

Na manhã de terça-feira (18), Lorrane entrou em trabalho de parto ativo. “Tentaram parto normal, mas ele não aguentou. A cabeça ficou para fora e o corpinho não conseguia sair, ficou parado. O médico pegou pela cabeça, tentou puxar. Duas mulheres começaram a pular em cima da minha filha, na boca do estômago, para ver se saia. Não tinha como mais fazer a cesárea”, lamenta a dona de casa.

Arthur nasceu em parada cardiorrespiratória. A mãe do bebê chegou a pegá-lo no colo e ainda conseguiu tirar uma única foto com o filho no braço.

Eleusa critica a atitude do hospital. “Era o primeiro filho. Foram nove meses saudáveis, não teve enjoo, não teve doença. Vimos o pé, a mão, o corpo completo nos exames. Ele era perfeito. Depois do parto, não vi nenhum médico. Ninguém que estava no parto procurou saber se a Lorrane estava bem. Eles não se interessam”, desabafa. Ela afirma que a sua filha está sentindo dores, pois teve laceração no parto.

A dona de casa conta ainda que a filha está completamente abalada. “Está muito triste. Hoje ela fez uma mensagem pra ele. Disse que Deus não deixou o anjinho ficar com ela, mas que ela ia tentar reconstruir a vida depois da perda dele”, diz, emocionada. A família preparou um enterro para Arthur. Será nesta sexta-feira (21), no Cemitério de Santo Antônio.

Lorrane não pôde falar com a reportagem, pois ainda está internada se recuperando do parto. Em sua rede social, porém, ela postou uma foto em que diz estar de luto.  

Versão oficial

De acordo com a diretora do Hospital de Samambaia, Luciana de Melo Russo, Lorrane entrou na unidade de saúde na segunda-feira (17) e teve a internação indicada, pois estava com 41 semanas. A jovem não estava em trabalho de parto, por isso, a equipe recomendou a indução do parto – que foi feita com um comprimido no canal vaginal.

Luciana explica que Lorrane ficou até a manhã do dia 18 em indução do parto. “Pode durar 24 horas. Na manhã, ela estava com 3, 4 centímetros de dilatação”, esclarece a diretora. Assim, ela foi transferida ao setor de pré-parto para ser acompanhada mais de perto. Lá, ela e o bebê passaram por exames. “Estava com líquido claro, bebê estava bem, com batimentos normais. Pela ecografia, estava com um peso em torno de 3,7 kg”, aponta.

Na parte da tarde, Lorrane começou o período expulsivo. “Bebê encaixou, mas teve uma distócia de ombro, que é quando sai a cabeça, mas o ombro não está na mesma rotação. Os médicos trabalharam para aumentar o ângula da passagem”, argumenta a diretora.

Assim que conseguiram retirar o bebê, a equipe médica percebeu que ele estava em parada cardiorrespiratória. “Ele foi atendido pelo neonatologista. Foi para reanimação, intubação, mas não houve resposta da frequência cardíaca. Foi quando constataram óbito intrauterino”.

“Não sabemos em que momento houve a parada. Essa foi a maior complicação do parto. A distócia de trajeto é uma das mais graves. A cesárea não foi recomendada porque, até então, o bebê estava bem. Não dava para prever que isso aconteceria”, completa Luciana.

A respeito da laceração, a diretora do hospital explica que se trata de uma consequência natural do parto. “É como se fosse um rasgo. Ela precisou passar por anestesia e sutura”, finaliza.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado