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Brasília

Após susto, pai relata o desespero de professora que estava desaparecida

Arquivo Geral

22/06/2017 7h00

Atualizada 21/06/2017 23h43

Foto: Reprodução/Facebook

Manuela Rolim
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Depois de desaparecer ao deixar a escola particular Maria Motessori, na 913 Sul, onde trabalha há sete anos, a professora Patrícia Coelho Barreto, 29, foi guiada pelo próprio desespero, fruto de um quadro depressivo intenso, até ser resgatada, ontem, na Igreja Matriz Santa Luzia, localizada no centro de Luziânia (GO), a aproximadamente 60 quilômetros de casa.

Na última terça-feira, ela saiu do colégio, às 11h40, sem comunicar seu paradeiro aos colegas de trabalho ou à família. De lá, Patrícia traçou um roteiro arriscado, inclusive, colocando a vida em risco. Em um ato de pânico, a jovem deixou seus pertences na instituição, caminhou sozinha pelas entrequadras do bairro e chegou até ao Eixão Sul, onde pretendia atravessar, conforme informou a família, que soube dos passos da professora somente após seu resgate.

“Ela quase fez uma besteira, mas não teve coragem. Disse que alguma coisa a segurava”, contou o pai, José Carlos Barreto, 59, corretor.

Saiba mais

  • Formada em pedagogia, Patrícia Coelho Barreto começou como auxiliar de classe na escola Maria Motessori, há sete anos. Atualmente, é professora da educação infantil. Segundo a direção do colégio, ela apresentou sintomas de depressão há dois anos e, inclusive, teve acompanhamento psicológico dos profissionais da instituição.
  • Toda quarta-feira, por volta das 12h30, é celebrada uma missa na capela da escola. Ontem, o encontro foi especial de agradecimento ao bem-estar da professora. Na página da escola no Facebook, várias pessoas lamentaram o ocorrido.
  • Patrícia Coelho Barreto tem um irmão gêmeo e uma irmã mais velha de 31 anos.

Na sequência, seguiu para a Rodoviária do Plano Piloto. “Só tinha dinheiro e a identidade guardados na meia. Escolheu o ônibus com o destino mais longe e entrou nele. Só pediu para o motorista a largar em uma igreja”, relatou José Carlos, que só teve notícias da filha no dia seguinte, ontem, por volta das 6h.

“Ela dormiu na paróquia, se escondeu lá e passou a noite no banco. Não comeu, nem bebeu nada. Logo cedo, assim que abriram a igreja, a encontraram e nos avisaram”.

Patrícia está de licença. “Ainda está muito fraca, não quer receber ninguém”. Segundo o pai, a todo momento, a filha estava consciente, porém, angustiada. “Ela segue triste, depressiva por causa de algum problema pessoal ou profissional. Patrícia nunca se abriu com ninguém e já fazia acompanhamento com um psiquiatra, mas deixou de tomar os remédios por conta própria”, contou.

José Carlos lembra o susto. “Eu, minha esposa e funcionários do colégio fomos buscá-la em Luziânia. Ela me abraçou forte e chorou. Também pediu perdão. Meu coração ainda está apertado. Fiquei 24 horas sem dormir, passei a noite esperando notícias. A mãe ficou desesperada”.

A família da professora é muito religiosa e acredita que a fé salvou Patrícia. “Deus a guiou para a casa Dele e escolheu pessoas abençoadas para cuidar dela”, declarou.

Acolhimento e carinho

A professora Patrícia Coelho Barreto foi resgatada por um casal, na manhã de ontem, em Luziânia (Entorno do DF). Ivone Teixeira Silva, 54 anos, comerciante, e o marido Pedro Antônio Noleto de Sá, 64, aposentado, a encontraram na igreja e a levaram para casa.

“Fomos participar da missa. Ao chegar lá, ela estava conversando com duas conhecidas e disse que estava com fome e frio. Além disso, demonstrou muita preocupação com os pais. Decidi trazê-la para cá e lhe ofereci café e agasalhos, mas ela comeu bem pouco. Depois, ficamos esperando a família vir buscar. Ligamos para os pais imediatamente”, contou Ivone.

Com três filhos, a comerciante se comoveu com a situação. “Eu tinha que acolher ela. Diante de tudo o que está acontecendo no mundo, a gente só pensa no pior. Posso imaginar o desespero dos pais. Por falar nisso, o encontro deles foi emocionante. Patrícia pedia perdão e dizia que não podia ter feito isso. Estava lúcida, não aparentava depressão. É uma menina muito meiga e cativante, amada por Deus. Criamos um carinho enorme por ela”, finalizou.

Para o pai de Patrícia, José Carlos Barreto, o que o casal fez por sua filha “não tem dinheiro no mundo que pague. São anjos em nossas vidas”.

Procurada pelo Jornal de Brasília, Márcia Fatureto, diretora da escola Maria Motessori, exaltou a presença da professora na instituição. “Patrícia é muito criativa, dedicada, carismática e atuante. Além disso, tem um relacionamento excelente com os estudantes. Ela estava bem, não percebemos comportamento diferente ou qualquer prejuízo no seu trabalho”, afirmou.

Câmeras

Segundo Márcia, a direção notou a ausência da docente por volta das 12h30, mas as câmeras de segurança a flagraram saindo do local quase uma hora antes. “Sentimos sua falta quando fomos organizar as aulas do turno vespertino. Ela trabalha no período da tarde, mas estava pela manhã fazendo os relatórios de avaliação. Depois de muito procurarmos e de ligarmos para o seu celular várias vezes, falamos com os pais, que também não sabiam da filha. Em seguida, abrimos o armário dela e percebemos que todos os objetos pessoais estavam lá”.

A diretora acrescentou ainda que o ocorrido serve como alerta para as outras famílias. “A depressão é aparentemente silenciosa. A nossa colega estava sempre alegre, alto astral. Os pais e as crianças sentiram muito sua falta”, lembrou.

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