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Brasília

Após dar à luz, mãe foge de hospital do DF com criança

Arquivo Geral

17/01/2019 7h00

Raphael Ribeiro/Especial para o Jornal de Brasília

João Paulo Mariano
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A história de Vicente (nome fictício), que tem pouco mais de um mês de vida, já é marcada por abandono e confusões. Poucos dias após o nascimento, a mãe fugiu do Hospital Regional de Taguatinga com ele nos braços, sem ser impedida por nenhum funcionário. Depois disso, ele ainda foi entregue a uma desconhecida, que aceitou o bebê, mas depois o entregou às autoridades. Tanto a Polícia Civil do DF quanto a Secretaria de Saúde investigam o caso. A suspeita inicial era de sequestro, que logo foi descartada.

Enquanto isso, o menino está sob os cuidados do Conselho Tutelar de Taguatinga. Toda a confusão começou no dia 8 de dezembro, quando a mãe dele, uma mulher em situação de rua, perambulava por Taguatinga dizendo que estava sentindo dores e que iria dar à luz. Ela foi socorrida por uma ambulante que já a ajudava antes. A trabalhadora teria chamado um táxi e as duas foram para o HRT.

Pelo bem da mãe e do recém-nascido, a equipe médica determinou que nenhum dos dois seria liberado até que fosse encontrado um lar para os dois. Toda a situação foi registrada em um relatório produzido pelo HRT, ao qual o JBr. teve acesso, e encaminhado ao Conselho Tutelar da região.

Enquanto isso, a ambulante continuou auxiliando a moradora de rua. Ela chegou a visitá-la no hospital. Mas a mãe demonstrou contrariedade: reclamou a assistentes que a mulher queria o bebê. O HRT procurou a ambulante, que negou a intenção e se afastou.

Porém, o auge do problema se deu em 23 de dezembro. Mesmo sem alta, a mãe aproveitou um momento de descuido de médicos, enfermeiros e vigilantes e fugiu do hospital com o bebê nos braços. A confusão na unidade de saúde foi instaurada, já que ninguém sabia ao certo o que havia ocorrido.

Investigação

Assistentes sociais do hospital registraram ocorrência um dia após a fuga, na véspera de Natal, e a 12ª DP (Taguatinga Centro) assumiu o caso. O delegado-adjunto da unidade, Paulo Henrique Almeida, explica que em um primeiro momento houve a suspeita de rapto, mas isso logo foi descartado.

Em seguida, as investigações se voltaram a uma tentativa de adoção à brasileira – quando uma criança é entregue a alguém sem a anuência da Justiça.

“Depois que investigamos mais o caso, descobrimos que a mãe voltou ao hospital no dia 24 e entregou o bebê a uma outra moça. Ela justificava que não tinha condições de criar a criança. A mulher ficou sensibilizada e pegou o recém- nascido. Ela nem trabalhava no hospital, mas comunicou o HRT e o Conselho tutelar”, afirma o investigador.

Essa mulher chegou a ser ouvida pelo Conselho Tutelar e pelas assistentes sociais do hospital, que descartaram que ela tenha planejado uma adoção clandestina.

Segundo o delegado, a mãe não deve responder por abandono de incapaz porque não expôs a criança a nenhum mal, como largá-la na rua. “É um abandono afetivo, mas não criminal”, diz. O Conselho Tutelar ainda verifica se, de fato, não há condições de a mãe criar o bebê. Nesse caso, ele bebê pode ser entregue à adoção.

Buraco na vigilância

No Hospital Regional de Taguatinga, a fuga da mãe e o que poderia ter ocorrido com a criança são os assuntos mais falados. O Jornal de Brasília apurou que houve a demissão de duas guardetes, que supostamente deveriam estar cuidando da portaria da maternidade no momento do incidente. Uma das demissões foi revertida pouco tempo depois.
O Conselho Tutelar de Taguatinga, que recebeu a criança, deve passar mais informações sobre o ocorrido nesta quinta-feira. Por enquanto, o que se sabe é que a criança estaria com um bom estado de saúde em um dos locais de acolhimento de menores em situação de vulnerabilidade.

“Só quis ajudar”

O Jornal de Brasília entrou em contato com a ambulante que auxiliou a mãe do menino e foi acusada por ela de ter interesse em ficar com a criança. A mulher, que pediu para não ser identificada, diz que está arrependida do auxílio que prestou à gestante. Ela justifica só queria ajudá-la, mas isso criou uma situação complicada.

“Eu tentei ajudar. Infelizmente ela veio e fez isso. Ela estava na rua, não tinha como não auxiliar. Eu não a vi, mas algumas pessoas me disseram que ela estava andando pela Praça do Relógio, em Taguatinga, nas últimas semanas. Todo mundo a conhece por lá”, afirma a ambulante, que teria encontrado a grávida já com perda de líquido e sem ter feito o pré-natal.

Ela assegura que nunca houve nenhuma situação que indicasse sua pretensão de ficar com a criança. “Isso nunca existiu. Foi algo inventado”, reforça. Algumas roupas da mãe da criança ainda estão na casa da mulher, já que, depois da fuga, ela simplesmente desapareceu e não fez mais contato.

Versão Oficial

Por nota, a Secretaria de Saúde confirmou a fuga da mãe do garoto do Hospital Regional de Taguatinga no dia 23 de dezembro, junto com a criança. Porém, afirmou que não haveria registro de que a paciente tenha retornado ao HRT para entregar o bebê a alguém.
“O fato, objeto de investigação policial na 12ª DP, também é apurado pelo Serviço Social da unidade de saúde. O resultado da averiguação será informado às autoridades policiais”, afirmou.

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