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Brasília

Águas Claras: apesar de nova, região está entregue ao abandono

Arquivo Geral

21/08/2018 7h00

Atualizada 22/08/2018 15h43

Foto:Francisco Nero/jornal de Brasilia

Rafaella Panceri
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Em Águas Claras, duas crateras e pelo menos oito construções abandonadas incomodam moradores e colocam pedestres em risco, mas passam batido pela fiscalização. O último levantamento de terrenos nessas condições foi feito pela Administração Regional há dois anos, mas a previsão é de que o próximo saia “até o fim do ano”, segundo a gestão atual. A falência de construtoras é apontada como causa da descontinuidade das obras.

A Agência de Fiscalização (Agefis) afirma que levantamentos como esse são “demorados” para serem feitos e passa a bola à própria administração, que admite a lacuna no acompanhamento das obras mas não explica o porquê de não acompanhar o assunto.

O estudo de 2016 aponta oito prédios negligenciados: nas quadras 101 e 102, nas ruas 25, 31, 36 e 37, além do lote nº 75 da Avenida Parque de Águas Claras. A pesquisa sequer cita crateras como a da rua 34 Sul e a da Avenida Jequitibá, que ameaçam levar parte da calçada com a chegada das chuvas. Uma delas motivou a interdição da Rua 34 há quatro meses.

A reportagem flagrou outros terrenos abandonados. Um prédio com mais de 10 andares na Rua D da Quadra 301 está cercado, mas acumula poças de água da chuva. Outro, o lote nº 500 da Avenida Castanheiras, é sustentáculo para vários letreiros comerciais e acumula lixo nas imediações. Fica ao lado de um terreno baldio, utilizado por pedestres para acessar a Rua 4.

Construções inacabadas são vistas em várias quadras. Foto:Francisco Nero/jornal de Brasilia

O auxiliar de serviços gerais Francisco José, 30, caminha pelo lote todos os dias. “Antes, ele não era cercado e estava com o mato muito alto. Cortaram e improvisaram essa cerca, mas não adianta, porque estamos passando mesmo assim”, opina, enquanto desvia de poças de lama e arame farpado. “É perigoso à noite e empoça água. Risco de mosquito da dengue”, imagina, e diz mais: “Para mulher é pior, porque alguém pode entrar aqui e sumir com ela, estuprar”.

Em um dos prédios citados no relatório de 2016, há peças de roupa e janelas no primeiro andar. Moradores e funcionários do Residencial Montpellier, ao lado da construção abandonada da Quadra 102, dizem que pessoas em situação de rua vêm e vão ao local com frequência. “Essa situação é péssima, mas desde que me mudei para cá, há quatro anos, isso existe dessa forma. Já me conformei. É como se não fizesse parte da nossa quadra. Os ratos é que não nos deixam esquecer que ele existe”, destaca a aposentada Regina Pinheiro, 71.

Na Rua 37 Sul, o dono nem ergueu as colunas do prédio — parou na escavação. A cratera ameaça aumentar com a chegada das chuvas e compromete a calçada. A administração regional não quis comentar o assunto, mas entre os moradores sobram críticas.

Moradores preveem tragédia a qualquer hora

O hoteleiro Rogério Brasolin, 40, mora no prédio em frente ao abandonado na Rua 37 Sul e já proibiu a família de circular por ali. “Com a chuva, isso tudo vai ceder”, aponta, ao se referir à calçada que já descola do meio-fio. “A terra aqui embaixo está fofa. Sem falar no lixo que jogam nas laterais do terreno. Acumula ratos. Já vi muita gente gritando e correndo deles, principalmente à noite”, exemplifica.

Vizinho de Rogério, o pensionista Tarcísio Barros, 43, é cadeirante e prefere passar pela pista, mesmo com o risco de ser atropelado. “Se eu me arriscar nessa calçada, posso cair no buraco, e ninguém me acha. Na rua, pelo menos uma ambulância me socorre”, compara. “De um lado, a calçada ameaça desmoronar. De outro, nem calçada tem”, critica.

“Com a chuva, isso tudo vai ceder”, prevê Rogério Brasolin Foto:Francisco Nero/jornal de Brasilia

A bacharel em Direito Maria Clara Miranda, 24, se queixa do mesmo problema. “Passo por aqui para ir ao mercado, para passear com meu bebê, e vou pelo meio da rua. Não tenho coragem de passar pela calçada”, admite, e atribui o descaso “ao dono do terreno, ao poder público e à Administração”.

“Tem até gambá nesse buraco”, aponta o aposentado João Raimundo, 64. “Isso daqui já foi ponto de venda de drogas e uma verdadeira ratolândia. A Zoonose conseguiu eliminar os bichos, mas agora o problema é com a segurança”, analisa. “Temos uma calçada cedendo e uma simples cerca para conter a terra. Em qualquer momento vai acontecer uma tragédia”, prevê.


Ponto de Vista

A urbanista Laila Mackenzie Mendonça avalia que a causa do abandono de construções em Águas Claras se dá por motivos financeiros. “Muitas cooperativas vão à falência no meio do processo. Isso cria riscos, porque tem de haver manutenção inclusive em escavações que foram paradas”, alerta. “Muitas construtoras não comunicam a paralisação e dificultam o trabalho da fiscalização”, critica. “São os moradores os mais prejudicados, porque muros de contenção podem ceder e ameaçar toda a fundação de um edifício vizinho”, completa. A população pode acionar a Ouvidoria Geral do GDF (162).

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