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Brasília

Acidente de trabalho: oito se machucam por dia no DF

Arquivo Geral

15/10/2018 7h00

Atualizada 14/10/2018 19h34

Foto: Rayra Paiva Franco/Jornal de Brasília

Raphaella Sconetto
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A cada dia, oito empregados se machucam durante o serviço no Distrito Federal. De 2012 a 2017, a capital federal registrou mais de 35 mil acidentes de trabalho. Destes, 158 perderam suas vidas enquanto estavam na função. Os prejuízos envolvem todas as áreas: trabalhador, empregadores e governo, já que a estimativa é que, com os imprevistos, mais de três milhões de dias de trabalho foram perdidos, além do impacto previdenciário ser de R$ 168 milhões nesses anos.

Era um passeio da escola em que trabalhava, quando, já no fim, Yara Lima Moreira, de 37 anos, resolveu brincar. Para se despedir do espaço, ela subiu em uma cama-elástica e ainda nas primeiras puladas, escorregou e caiu de costas no brinquedo. Ela se recorda que um colega de profissão quis ajudá-la a sair do brinquedo, mas preferiu permanecer deitada. “Meu pai é militar e sempre falou que em quedas não pode mexer a pessoa até que o socorro chegue. Pedi para ninguém me tirar e fiquei ali, deitada”, lembra.

Naquele momento, sentindo poucas dores no cóccix, Yara ainda não sabia o diagnóstico que viria. No hospital, ela ficou de 12h às 23h deitada em uma maca realizando exames. “O médico disse que aguardaria o outro plantonista chegar para me dar o resultado”, afirma. Enquanto isso, a secretária escolar era medicada. “Até então achava que não era nada grave. Não tinha noção do que tinha acontecido”, completa.

Após várias análises, os médicos deram o diagnóstico: “Deu uma fratura na L1 (vértebra da coluna). O médico disse que bati na trave, que se alguém tivesse me movimentado, eu poderia ter pedido o movimento das pernas”, conta.

A nível nacional, Yara representa uma parcela de 34% de mulheres entre 35 a 39 anos que se acidentam no trabalho. Na mesma faixa etária, os homens saem na frente. Eles são 66% – 370.389 pessoas.

A recuperação da mulher foi até tranquila, tendo em vista o tamanho da lesão. “Foram sete meses usando um colete para imobilizar minha coluna. Fazia pouca movimentação, não podia me dobrar. Também tive que fazer fisioterapia e hidroginástica para melhorar os movimentos e a lesão”, comenta. A consequência foi apenas uma escoliose (curvatura na coluna). “Às vezes sinto um pouquinho de dor, mas não é nada que me atrapalhe a trabalhar”, pondera.

O que a deixou indignada foi a ausência de auxílio da escola que trabalhava. “Ainda no hospital, quando a dona da escola soube da minha situação, ela foi me visitar e pediu pra eu não dar entrada no auxílio do INSS, porque ela tinha que atualizar as contribuições. Esperei por dois meses. Nesse tempo, todo o custo de exames e remédios foram meus. Eles não me auxiliaram em nada”, critica.

Depois dos sete meses afastada, Yara voltou a trabalhar na escola, mas cinco meses depois pediu demissão. Hoje, ela tem uma empresa de festas e conta que o trauma a fez ter medo de aventuras. “Depois do acidente, fiquei mais comedida. Gostava de adrenalina, então, não faço nada que pode me oferecer risco”, finaliza.

Corpo queimado

No dia 1º de setembro, Elias Pereira da Silva, de 44 anos, teve 60% do corpo queimado, após três explosões em uma subestação da Companhia Energética de Brasília (CEB). O homem realizava uma manutenção no sistema. No local, a estação tem como função rebaixar a tensão de 13KV para 220V.

Ele era funcionário terceirizado da CEB. De acordo com o diretor do Sindicato dos Urbanitários do DF (Stiu), Alairton Gomes de Faria, os principais acidentes de trabalho na Companhia acontecem com terceirizados. “As empresas não dão o devido treinamento aos trabalhadores. Trabalhar com a CEB é atuar na área de risco. O contrato das terceirizadas parece ser mais flexibilizado, dá a impressão de que contratam pessoas que não tem conhecimento necessário para trabalhar ali”, acusa.

Faria comenta ainda que o próprio sindicato “bate na questão de ser contra a terceirização”. “Trabalhar com energia elétrica não pode haver erro. Os funcionários precisam de EPI, luva, capacete, uniforme correto, botas. Tudo isso vai minimizar o risco de acidentes”, completa. No setor, choques e explosões são mais comuns.

Sequência de erros

“Quando ocorre um acidente de trabalho não é por conta de um único motivo. É uma somatória de erros”. Essa é a visão do diretor de políticas e relações trabalhistas do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Izídio Santos.

Para ele, as empresas têm trabalhado para diminuir cada vez mais os números de acidentes de trabalho. “Há alguns anos as empresas vêm investindo em treinamento, capacitação e grupos de discussão entre os funcionários. É preciso levar informação e qualificação aos trabalhadores e às empresas”, aponta.

Se para o Sinduscon as empresas têm feito o dever de casa, para o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sticombe) elas não levam o tema com devida relevância. “A cultura da prevenção ainda é baixa. É um tema difícil de lidar, muito traumático, teria que existir uma importância muito maior tanto pelos trabalhadores, mas principalmente pelos patrões e governo. Se não for tratado com seriedade, não vamos reduzir os índices de acidentes nos canteiros de obras”, afirma Raimundo Salvador.

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