As caixas de comentários de alguns vídeos do YouTube infantil, em que apresentam crianças brincando na piscina, por exemplo, vem acompanhado de frases como “sexy”, “que corpo bonito” e “te quero”. As informações são de reportagem especial do UOL.
Ainda mais, uma marcação de tempo (timestamp) é realizada, levando para cenas específicas, que servem para “guiar” outros interessados a terem “acesso privilegiado” a algumas partes do vídeo. São trechos que mostram os corpos das crianças ou a peça íntima revelada sem querer.
No Brasil e em todo o mundo, uma rede de pedófilos vem usando a seção de comentários da maior e mais acessível plataforma de vídeos do mundo, e que conta com a ajuda involuntária –mas de peso– do algoritmo de recomendação de conteúdos.
#WakeupYouTube
Tudo começou em fevereiro de 2019, quando o youtuber americano Matt Watson, do canal “MattsWhatItIs”, divulgou provas de como a pedofilia acontece e é alimentada pelo algoritmo. Os comentários dos vídeos trazem links para pornografia infantil, sem que isso sequer seja notado pela plataforma.
O vídeo, com mais de 3 milhões de visualizações e 20 minutos de duração, mostra cenas comuns de crianças (inclusive brasileiras) acompanhada de comentários pedófilos e marcação de tempo. Ainda mais, alguns dos vídeos citados recebem publicidade automática e estão sendo monetizados pelo número de visualizações. Desde então, uma enxurrada de denúncias e manifestações (#WakeupYouTube) explodiu na plataforma.
Normas da plataforma
O YouTube proíbe a publicação de vídeos adultos e que menores de 13 anos usem a plataforma, seja como usuário ou como criador de conteúdo. Mas nada rígido. Conteúdos produzidos e postados pelas crianças (que criam perfis mentindo a idade), com ou sem autorização dos pais, existem por todos os lados.
A princípio, eles não costumam ser problemáticos. Porém, o resultado é outro quando as crianças desses vídeos se tornam vítimas de uma rede de exploração sexual infantil que se aproveita de brechas e que não está sendo parada de forma ágil.
Após a denúncia de Watson, o YouTube, que pertence ao Google, anunciou medidas tomadas de formas imediatas, como a eliminação de contas e canais e informado às autoridade e desabilitando comentários sobre dezenas de milhões de vídeos que incluem menores.
“Entendemos que os comentários são uma maneira importante de os criadores de conteúdo se conectarem com seus públicos-alvo, mas também sabemos que isso é a coisa certa a fazer para proteger a comunidade do YouTube”, diz a nota publicada pelo UOL.
É preciso uma filtragem melhor
A responsabilidade do YouTube é evidente, mas os especialistas dizem que este é um problema grande demais para deixar as soluções apenas nas mãos da plataforma. Ainda conforme o UOL, Carlos Affonso, Diretor de Tecnologia e Sociedade (ITS Rio), explica que, para caçar os conteúdos que possam induzir a disseminação de pornografia infantil, o YouTube deve aumentar o rigor dos seus mecanismos de filtragem.
Veja 6 dicas para proteger crianças
Para ajudar a proteger crianças e adolescentes, a influencer de maternidade Roberta Ferec separou algumas dicas importantes. Como mãe, ela decidiu estudar o impacto da tecnologia e a importância do equilíbrio digital, principalmente na vida de crianças. Confira o conteúdo publicado pelo UOL.
1. De olho em tudo
Os adultos devem deixar claro quais conteúdos são aceitáveis e o que envolve um conteúdo impróprio. O diálogo é essencial para que eles aprendam a identificar vídeos não recomendados para elas.
2. Regras claras
Determine em que lugar da casa eles poderão consumir os vídeos da internet. Isso facilita a supervisão. Além disso, o tempo de utilização dos aparelhos eletrônicos precisa ser estabelecido e deve ser cumprido.
3. Limite o acesso
Desabilite o recurso de vídeos recomendados em sequência do YouTube. Quando estiver vendo um vídeo qualquer no app ou no site do YouTube, procure por um botão chamado “Reprodução automática” e o desligue.
4. Escolha o que eles vão assistir
Faça uma playlist exclusiva para a criança com base nos vídeos que você considera adequados. De tempos em tempos, adicione vídeos novos. Sempre que possível, cheque se a playlist continua ok.
5. YouTube Kids é opção, mas cuidado
O YouTube Kids, app da empresa para crianças, tem uma interface mais colorida e filtra conteúdo para maiores. Mas é preciso ter muito cuidado: a ferramenta é bem limitada em suas configurações e deixa passar coisas inadequadas.
6. Buscas bloqueadas
A busca no YouTube Kids pode ser desativada para que a criança não consiga fazer pesquisas por outros conteúdos. Clique no ícone circular no topo esquerdo da tela principal do Kids, depois acesse as configurações, clique no perfil da criança e desative a opção “permitir pesquisa”.
E, antes de mais nada, denuncie!
Por fim, o YouTube disponibiliza uma página em que é possível qualquer usuário denunciar conteúdo inadequado à equipe do YouTube. A empresa, inclusive, reforça que as denúncias são fundamentais para que a plataforma melhore. O conteúdo denunciado passa por um processo de avaliação e não é removido deforma imediata.
No Brasil, a ONG Safernet tem seu próprio canal de denúncia, o denuncie.org.br, e o canaldeajuda.org.br, para orientar pais e educadores. (Com informações de UOL Tecnologia)