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Brasil

Confira os destaques da primeira noite de desfiles das escolas de samba do Rio

Arquivo Geral

27/02/2017 20h23

Foto: Fernando Grilli / Riotur / Fotos Públicas

Andreia Salles, Jorge Eduardo Antunes e Soraya Kabarite
Especial para o Jornal de Brasília

Fundada em 1954, fruto do que restou da Unidos do Tuiuti e do Paraíso das Baianas, o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Paraíso do Tuiuti esteve poucas vezes na elite do samba em seus 63 anos de história. Foram apenas quatro desfiles nos anos 1950, ainda no Grupo 1, e apenas uma passagem no Especial, em 2001, seguida de novo rebaixamento. O domingo de Carnaval deste ano representava uma nova chance para a pequena escola, que sequer tem bicheiro como patrono, voltar a brilhar.

Com o enredo “Carnavaleidoscópio Tropifágico”, de Jack Vasconcelos, a Paraíso do Tuiuti evoluía com animação, mas com visíveis dificuldades, parte por causa da chuva que caía no Sambódromo, mas preponderantemente por conta dos modestos recursos, mostrados nas fantasias e nos carros alegóricos. Pressionada pelo tempo – o desfile foi encurtado de 82 para 75 minutos este ano, com início às 22h, para que a emissora que transmite a festa pudesse colocar a passagem das seis escolas nas duas noites – , a Tuiuti precisou correr. E foi assim que causou o maior acidente da história da Marquês de Sapucaí, com 20 pessoas feridas, uma delas em estado grave e respirando por aparelhos.

Reprodução/TV Globo

Reprodução/TV Globo

A escola estava atrasada na avenida e o último carro, chamado “Tropicarnafagia”, com uma imensa figura de Carmen Miranda, aparentava ter dificuldades para entrar na pista. Já havia um buraco entre a última ala e a alegoria, quando a manobra para colocá-la na Passarela do Samba causou o atropelamento das pessoas. O carro entrou tombado para o lado direito e, para corrigir a trajetória, empurradores e motorista deram ré, atingindo um grupo de diretores da escola e jornalistas que estavam junto à separação das arquibancadas do Setor 1, imprensando-os contra a grade.

Em seguida, com velocidade acima do normal, o carro de 3 toneladas foi em direção ao boxe da Liga das Escolas de Samba Mirins, no lado das cabines de rádio, onde voltou a atingir pessoas que assistiam ao desfile. No total, 20 pessoas ficaram feridas. Após as duas batidas, a alegoria seguiu pela avenida dos desfiles, até chegar à Praça da Apoteose, onde passou por perícia preliminar – mais tarde, já na segunda-feira, novo exame pericial foi feito na estrutura.

Reprodução/TV Globo

Reprodução/TV Globo

A pista da Marquês de Sapucaí foi interditada para socorro aos feridos. Ambulâncias estacionaram na armação para socorrer as vítimas, quatro delas jornalistas que participavam da cobertura dos desfiles. Após uma triagem, 12 pessoas foram encaminhadas aos postos de atendimento localizados no próprio Sambódromo. Outras oito foram para os hospitais Souza Aguiar, na Região Central do Rio de Janeiro, e Miguel Couto, no Leblon, Zona Sul da cidade. Na manhã de ontem, cinco delas receberam alta.

Até o fechamento desta edição, três pessoas permaneciam internadas. O estado mais grave era o de Maria de Lurdes Maura Ferreira, de 58 anos, que integrava a Paraíso do Tuiuti. Ela teve fratura exposta em uma das pernas e traumatismos craniano e da face. Após passar por cirurgia, respirava com a ajuda de aparelhos, em estado grave. A radialista Elisabeth Ferreira Jofre, de 55 anos, e a fotógrafa Lúcia Regina de Mello Freitas, de 56, permaneciam no Miguel Couto, sendo que a última, por precaução, iria para o Centro de Terapia Intensiva (CTI). Elas sofreram fraturas nas pernas, mas não corriam risco de morrer.

Em notas oficiais, tanto a Paraíso do Tuiuti quanto a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) lamentam o acidente e afirmam ter prestado socorro às vítimas, mas parentes das mulheres feridas reclamaram que somente as autoridades municipais deram apoio às pessoas machucadas.

O acidente, que junto ao fraco desfile deve levar a Paraíso do Tuiuti de volta ao Grupo A, atrasou a entrada da Acadêmicos do Grande Rio e deixou no ar uma estranha sensação de medo. O brilho da festa foi ofuscado. O ambiente ficou triste, com tensão e insegurança dominando as centenas de pessoas que trabalham na área. Mas o show tinha de continuar, e assim a Acadêmicos do Grande Rio tentou esquecer o que havia ocorrido e apostou na energia, carisma e popularidade da homenageada no enredo, a cantora Ivete Sangalo.

Reprodução/Facebook

Reprodução/Facebook

Se o título não vier, como é provável, devido ao desfile correto, mas lento e pesado, não se credite isso a ela. A rainha da folia baiana esbanjou empatia e fôlego. Para se ter uma ideia, Ivete passou abrindo a escola, junto à Comissão de Frente. Chegando à dispersão, deu meia volta, regressou à concentração e subiu no carro alegórico de seus familiares, encerrando o desfile da escola da Baixada Fluminense, que apostou em celebridades como a atriz Suzana Vieira e a apresentadora Xuxa, que veio em um carro alegórico como Eva. Mas, como sempre, a Grande Rio esqueceu-se da leveza e do bom gosto, exibindo a mesma receita de sempre no enredo “Ivete do rio ao Rio”, do carnavalesco Fábio Ricardo.

A terceira escola da noite foi a Imperatriz Leopoldinense, com a competência que já lhe deu vários títulos e que nos últimos anos sempre a leva ao desfile das campeãs. Este ano, veio com o enredo “Xingu – o clamor que vem da floresta”, do carnavalesco Cahê Rodrigues, oportuno e polêmico, pelas críticas ao agronegócio e ao uso de agrotóxicos, e se apresentou corretamente. Com um grande samba, fantasias e alegorias bem acabadas, a escola de Ramos fez um desfile sem chuva, o que ajudou bastante, pois as roupas leves e com o uso e abuso de materiais como a palha, poderiam ficar comprometidas.

REUTERS/Sergio Moraes

REUTERS/Sergio Moraes

Mas um problema no último carro alegórico pode colocar a passagem em risco. Quando a alegoria entrou na avenida, o portão dos desfilantes já havia sido fechado, para desespero da Comissão de Carnaval da escola. Após muita insistência, o portão foi reaberto e o carrp alcançou a escola já no meio da passarela, o que pode levar à perda de pontos em quesitos como evolução e conjunto.

A Vila Isabel entrou na Marquês de Sapucaí com um clima mais desanuviado. O choque do acidente havia passado e a pista estava seca, o que tornou o clima mais harmonioso. Desta forma, o enredo “O Som da Cor”, do carnavalesco Alex Rodrigues, pode envolver e levar o público ao delírio, principalmente ao revisitar o enredo campeão “Kizomba, a festa da raça”, de 1988. Combinando luxo, fantasias criativas, um belíssimo samba-enredo, alegorias bem executadas e um grupo de desfilantes que cantou a avenida inteira, a escola da Zona Norte carioca soube contar o enredo, que fala das influências do negro na música das Américas.

 Foto: Cezar Loureiro / Riotur / Fotos Públicas

Foto: Cezar Loureiro / Riotur / Fotos Públicas

Apesar de ter enfrentado pequenos problemas no início do desfile com o segundo carro, que falava de “Tangos e Milongas”, a escola de Noel Rosa e Martinho da Vila passou de forma elegante e marcante e se credenciou a estar pelo menos do Desfile das Campeãs, no próximo sábado.

A quinta escola foi a Acadêmicos do Salgueiro, que demorou a entrar na avenida. Reclamando de óleo na pista, a presidente Regina Coeli cobrou a limpeza correta, o que foi feito com terra e serragem. Quando entrou, a escola chegou como o diabo, o público e o Carnaval gostam. O Salgueiro foi deslumbrante ao carnavalizar o épico de Dante Aligheri, “A Divina Comédia”, em enredo do casal Renato e Márcia Lage. Os dois transformaram inferno, purgatório e paraíso em uma festa carnavalesca, que foi tecnicamente perfeita, embalada por um samba cantado por todos na pista e na arquibancada. A escola da Tijuca, Zona Norte, é presença certa no Desfile das Campeãs e se credenciou para sonhar com o título. Faltou apenas ouvir o coro de “É campeã” gritado pelo Sambódromo.

Última escola a desfilar, a Beija-Flor de Nilópolis dividiu opiniões com a inovação de um desfile sem alas definidas para dar vida e forma ao enredo “A Virgem dos Lábios de Mel – Iracema”, baseado no clássico livro de José de Alencar. Foram 3 mil componentes fantasiados de índios, mas de cores e desenhos diferentes, em uma grande “tribo Beija-Flor”. O samba-enredo, considerado um dos melhores do ano, foi um dos grandes destaques do desfile.

Foto: Fernando Grilli / Riotur / Fotos Públicas

Foto: Fernando Grilli / Riotur / Fotos Públicas

O cuidadoso trabalho da comissão de Carnaval – a Beija-Flor não tem um carnavalesco, mas um grupo que trabalha os enredos – era visivel no acabamento esmerado de fantasias e alegorias e na passagem harmônica da escola. Isso permitiu sacadas geniais, como o uso de guarda-sóis para simular ocas, graças à aplicação de palha. As alegorias esbanjavam luxo e riqueza, mas estavam plenamente integradas ao desfile. Resta saber se a inovação da supressão de alas vai ser bem aceita pelos jurados. Mas a escola de Nilópolis pode sonhar com o título.

Foto:  / Riotur / Fotos Públicas

Foto: / Riotur / Fotos Públicas

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