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Brasil

Com muitos votos nulos e brancos, maçons protestam nas eleições do Grande Oriente do Brasil (GOB)

Arquivo Geral

18/08/2018 17h28

Múcio (esquerda) foi o candidato único, pois Ballouk acabou impugnado. Foto: Armando Mercadante Neto/Divulgação/GODF

Da redação
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A eleição de Múcio Bonifácio Guimarães para presidir o poderoso Grande Oriente do Brasil (GOB) está garantida antes mesmo de os votos serem contados. Na eleição deste sábado (18), mesmo que apenas ele vote em sua chapa, ironicamente batizada de “GOB para os Maçons”, o mandato à frente da mais importante entidade maçônica já está garantido. Tal como nas regras eleitorais vigentes no Brasil, as eleições para grão-mestre (equivalente ao cargo de presidente da República) levam em conta apenas votos válidos – brancos e nulos são descartados, embora contados. A diferença para as eleições presidenciais do Brasil é que o goiano Múcio concorre sozinho, depois de uma batalha jurídica que chegou aos tribunais fora dos muros sempre protegidos da ordem.

Sua futura gestão, substituindo o grão-mestre tampão Ricardo Maciel Monteiro de Carvalho, ex-presidente da Assembleia Legislativa, será marcada, no entanto, pelo gigantesco protesto na votação ocorrida nas lojas maçônicas do País ligadas à entidade. Em conversa com um maçom influente no cenário nacional, que faz uma apuração paralela das eleições no GOB, a reportagem soube que há uma enxurrada de votos nulos e em branco, em protesto contra as manobras que afastaram do pleito a chapa de oposição Novo Rumo, comandada por Benedito Marques Ballouk Filho.

A ampla rejeição não é o único problema para Múcio Bonifácio Guimarães resolver. Ele terá de enfrentar a intenção manifestada pelo Grande Oriente de São Paulo (GOSP) de se desligar do GOB. Em decreto expedido ontem (leia a íntegra aqui), a entidade paulista, maior entidade associada do País, presidida por Kamel Aref Saab, anunciou a decisão, a ser ratificada em 15 de setembro. A saída do GOSP, se confirmada, é um duro golpe, não só em termos de prestígio, mas especialmente um baque financeiro – os paulistas contribuem com mais de R$ 3,5 milhões para o GOB, como cita o decreto.

Há também sinais de que outras entidades estaduais podem seguir o mesmo caminho. Os Grandes Orientes de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Ceará podem acompanhar a decisão. O de Pernambuco já deixou o GOB.

Leia Mais: Crise ameaça unidade do Grande Oriente do Brasil

Crise sem solução

Os novos episódios são capítulos de uma crise em uma entidade que já esteve reunida em torno de causas históricas, como a independência do Brasil, a libertação dos escravos e a proclamação da República. Sob a direção do ex-grão-mestre geral Marcos José da Silva, o GOB deixou de lado o passado libertário para viver uma era de cassações arbitrárias – algumas anuladas pela justiça comum, o que é considerado uma vergonha para os maçons – e de ingerências políticas entre poderes que deveriam ser autônomos. Tudo visando aniquilar as correntes de oposição na maior e mais antiga organização nacional de maçons do país.

As eleições deveriam ter ocorrido em 10 de março, mas foram suspensas após uma guerra entre situação e oposição nos tribunais maçônicos. No meio do caminho, em 3 de abril, houve a morte de Eurípedes Barbosa Nunes, adjunto de Marcos José da Silva e escolhido inicialmente pela sucedê-lo. Ele acabou substituído pelo coordenador da campanha, Múcio Bonifácio, em manobra considerada ilegal pela oposição. Ao mesmo tempo, o Supremo Tribunal Federal Maçônico (STFM) cassou a chapa Novo Rumo, de oposição, comandada por Benedito Marques Ballouk Filho. O STFM é acusado de sofrer forte influência do grupo de Marcos José da Silva.

Marcos José deixou o cargo, ao fim do mandato, passando o poder para Ricardo Maciel Monteiro de Carvalho, então presidente da Assembleia Legislativa, mas alinhado com o grupo de situação, que marcou as eleições para este sábado.

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