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Sem Firula

Repúdio

Arquivo Geral

19/02/2017 16h26

Como não poderia deixar de acontecer, os grandes times do Rio (e também o sempre criticado presidente da Federação de Futebol, Rubens Lopes) firmaram posição contra a absurda decisão do Ministério Público estadual para que, a partir de agora, os clássicos sejam jogos de uma só torcida. Como ironicamente foi dito nas chamadas redes sociais, a posição menos firme foi do Botafogo – “mas não é grande”, li em alguma mensagem. Exagero. Diria que o Botafogo tentou minimizar a situação, tendo em vista que, no domingo passado, seus dirigentes alertaram para o perigo sem que providência alguma fosse tomada, resultando na morte de um de seus torcedores.
Eurico Miranda, outro dirigente também sempre criticado, talvez tenha avaliado a situação de forma mais precisa, cirúrgica, como se costuma dizer. Apesar da bravata em afirmar que seu time não iria a campo numa possível decisão (se bem que, não custa lembrar, o Vasco não jogou a terceira partida da final do Estadual masculino de basquete por problema semelhante), Eurico Miranda foi perfeito ao questionar quem seria o mandante numa decisão – o regulamento é omisso, não cita se o “dono da casa” é, por exemplo, o time que mais pontos somou na competição.
E então? Respondam: numa final Flamengo x Vasco, qual seria a torcida “autorizada” a comparecer? Ou fariam o jogo com portões fechados? Ou levariam a final para o Amazonas? Talvez surpreendidos pela ridícula decisão, os outros dirigentes não pensaram tão longe. E vamos pensar diferente… Uma final entre Madureira e Flamengo. Não é clássico, logo, a torcida do Madureira deveria receber 50% dos ingressos – quem impedirá que vascaínos, botafoguenses e tricolores comprem este bilhetes e compareçam? E se houver confusão, vão culpar o tricolor suburbano?
Devo dizer aos leitores que, apesar de radicalmente contrário à ideia do jogo com torcida única, esta situação descrita acima (um grande contra um pequeno, com direito às duas torcidas presentes) me surgiu no momento em que escrevia a coluna. E certamente nenhum dos doutores do Ministério Público pensou nisso. E é por não pensarem, por não conhecerem o futebol, que tomaram a decisão de proibir os torcedores. Clássico com uma só torcida não é futebol.
Será que nossos torcedores são mais violentos do que os Barra Bravas da Argentina? Será que nossos torcedores provocam mais confusão do que os hooligans britânicos? Claro que não. E tanto nos estádios argentinos, quanto nos ingleses, os torcedores do Manchester United podem comparecer ao estádio do Manchester City para ver o clássico local. Na Itália, Milan e Internazionale dividem até o San Siro/Giuseppe Meazza, sem que os ultra (denominação italiana para torcidas organizadas violentas) achem que podem fazer o que bem entendem.
A diferença é que lá a polícia age. Lá, torcedores disfarçados de criminosos são tratados como criminosos. E não aparece nenhum “doutor” querendo tirar a alegria e o lazer de quem quer que seja apenas para disfarçar a incompetência do poder público, falido, sem condições de garantir ao menos o ir e vir dos cidadãos.

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