A Teoria da Burocracia nas Organizações surgiu com estudos por volta da década de 1940, tendo como precursor Max Weber (1864-1920), sociólogo alemão, criador da Sociologia da Burocracia. Foi professor das Universidades de Friburgo e de Heidelberg.
Com a tradução de alguns de seus livros para o inglês, a Teoria teve sua dimensão ampliada nos Estados Unidos, inspirando o surgimento da Teoria da Burocracia em Administração e novas pesquisas na área. O estudo sobre as organizações, convergentes com a Teoria da Burocracia, já aconteceram com Karl Max, que estudou o surgimento da burocracia, como forma de organização estatal, na antiga Mesopotâmia, China, Índia, Império Inca, antigo Egito e Rússia.
A Teoria da Burocracia é considerada o terceiro pilar da Teoria Tradicional da Organização, em conjunto com o “Taylorismo” (Escola da Administração Científica) e os estudos de Fayol e Gulick (Teoria Clássica). A Burocracia também foi o ponto de partida para sociólogos e cientistas políticos produzirem estudos nas organizações.
De heroína a vilã nas organizações
A Burocracia, com sua ampliação de utilização pelas organizações com o passar dos anos e, principalmente, com sua associação e simbiose com o Poder Público e Organizações Públicas, acabou tornando-se sinônimo de ineficiência, papelada, entrave, morosidade e complicação. Virou o “patinho feio” dos modelos organizacionais!
Criticada a décadas, a Teoria e Modelo Burocrático acabaram sendo incompreendidos pela maioria dos administradores e se tornou vilã de gestores e da opinião pública, que a tem sempre como referência e modelo a Administração Pública.
Revisitando a teoria de Max Weber, podemos observar fundamentos importantes da Burocracia, que são passíveis de utilização em diversas organizações, mesmo as do Século XXI:
1. Caráter legal dos regulamentos
2. Caráter formal das comunicações
3. Caráter racional do trabalho
4. Impessoalidade nas relações
5. Procedimentos padronizados
6. Competência técnica e meritocracia
7. Especialização da Administração
9. Profissionalização
10. Nepotismo é amenizado
Ao questionarmos a aplicabilidade do Modelo Burocrático nas organizações, devemos refletir sobre a capacidade de discernimento e bom senso de administradores e gestores em utiliza-la e implantá-la indiscriminadamente em suas organizações, sem a ponderação e análise crítica sobre a convergência entre ambas (Modelo Burocrático x Modelo Organizacional).
Burocracia e organizações
A Burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na “racionalidade”, entendida como a adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos.
Qual empresa moderna não busca a “máxima eficiência” e a “adequação dos ‘meios’ aos ‘objetivos fins’”? Qual empreendedor e gestor não procura a “eficiência operacional”, a “maximização dos recursos”?
Contudo, como muitos outros modelos de administração e gestão, tem seus dilemas e desafios na prática, com características próprias:
1. Divisão do trabalho
2. Hierarquia e autoridade
3. Rotinas padronizadas
4. Completa previsibilidade do funcionamento
5. Especialização em excesso
6. Controle em excesso
Vale destacar ainda que (i) o compromisso dos subordinados com as regras burocráticas tende a se enfraquecer gradativamente com o tempo, (ii) aceitar ordens e regras como legítimas exige um nível de renúncia que é difícil de se manter nas equipes, e (iii) a racionalidade da estrutura é frágil e precisa ser protegida contra pressões externas, o que engessa a organização.
Alguns efeitos colaterais do Modelo Burocrático são observados:
1. Apego aos regulamentos
2. Excesso de formalismo
3. Resistência às mudanças
4. Despersonalização do relacionamento
5. Conformidade às rotinas e aos procedimentos
Modelo Burocrático de Selznick
Por mais que pareça impossível, existe uma luz no fundo do túnel para a Burocracia. E foi a americana Philip Selznick que iniciou o movimento de renovação, novo direcionamento e adaptação da Teoria da Burocracia aos novos modelos de organizações, de mercado e de clientes. Alguns pontos importantes e desafiadores:
1. A organização burocrática deve ser uma estrutura social adaptativa sujeita às pressões do ambiente e precisa modificar seus objetivos continuamente. A organização necessita ser moldada por forças exteriores à sua estrutura racional e aos seus objetivos;
2. Dentro da organização formal desenvolve-se uma estrutura informal que gera atitudes espontâneas das pessoas e grupos para controlarem as condições de sua existência e sobrevivência;
3. A estrutura informal torna-se indispensável à organização, no processo de inovação e adaptabilidade aos mercado e aos clientes;
4. A Burocracia deve ser analisada sob o ponto de vista estrutural e funcional (análise estrutural e funcional da organização) e não sob o ponto de vista de um sistema fechado;
5. Deve-se considerar o comportamento organizacional interno, bem como o sistema de manutenção da organização formal, na adaptabilidade da Burocracia;
6. As tensões e os dilemas da organização burocrática devem ser esclarecidas por meio da análise do ambiente e da limitação das alternativas de comportamento organizacional e de seus colaboradores.
Para Selznick, a Burocracia não deve, ou deveria, ser rígida e nem estática, mas sim adaptativa e dinâmica, interagindo com o ambiente externo e adaptando-se internamente a ele.
Renovação da Burocracia
Não podemos esquecer do momento histórico em a Teoria e o Modelo da Burocracia foi criada e desenvolvida, em anos e décadas de expansão de organizações que se tornaram gigantes e multinacionais, necessitando de um modelo de controle e padrão.
A Fortune 500 de 1980 e 1990, ajuda-nos a refletir sobre os desafios e dilemas para muitas organizações de se tornarem grandes e multinacional, para aspectos como eficiência, controle, padronização e uniformização funcional e produtiva. De certa forma, o Modelo Burocrático colaborou para isso, talvez não de forma plena e integral, mas com utilização parcial por essas empresas.
Fortune 500 – 1980 | Fortune 500 – 1990 |
1. Exxon Mobil2. General Motors
3. Mobil 4. Ford Motor 5. Texaco 6. Chevron Texaco 7. Gulf Oil 8. Intl. Business Machines 9. General Electric 10. Amoco |
1. General Motors2. Ford Motor
3. Exxon Mobil 4. Intl. Business Machines 5. General Electric 6. Mobil 7. Altria Group 8. Chrysler 9. DuPont 10. Texaco |
Não podemos incorrer no erro de analisar a Burocracia fora de seu contexto histórico e distante da perspectiva dos desafios das décadas de 1940 a 1990 das organizações mundo afora.
Como outras tantas teorias de Administração e das Organizações do século XX ou do século XXI, todas possuem seus pontos positivos, desafios e dilemas do seu tempo.
Futuro da Burocracia
É importante compreender que esses modelos não são excludentes, não é o “ou”, mas sim o “e”, podendo serem mesclados e associados por toda a organização. Certamente, o Modelo “X” pode ser útil para um departamento, divisão ou setor da organização, e o Modelo “Y” para outra parte da empresa.
Os modelos organizacionais não podem ser vistos como uma “receita de bolo” pronta e acabada, que se acoplam perfeitamente à empresa. Que bom se fosse assim, sempre! Essa visão de conjugação e mistura de modelos organizacionais pode ser o ponto chave da sobrevivência e perenidade de uma organização.
O importante é entender e compreender onde, como e quando posso utilizar os modelos e teorias da Administração e das Organizações no dia a dia. Nem tudo que é “novo” é ideal, e nem tudo que é “velho” é inadequado. Depende da necessidade organizacional e do momento temporal da empresa!
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Prof. Manfrim, L. R.
Compulsivo em Administração (Bacharel). Obcecado em Gestão de Negócios (Especialização). Fanático em Gestão Estratégica (Mestrado). Consultor pertinente, Professor apaixonado, Inovador resiliente e Empreendedor maker.
Explorador de skills em Gestão de Projetos, Pessoas e Educacional, Marketing, Visão Sistêmica, Holística e Conectiva, Inteligência Competitiva, Design de Negócios, Criatividade, Inovação e Empreendedorismo.
Navegador atual nos mares do Banco do Brasil e UDF/Cruzeiro do Sul. Já cruzou os oceanos do IMESB-SP, Nossa Caixa Nosso Banco (NCNB) e Cia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Freelance em atividades com a Microlins SP, Sebrae DF e GDF – Governo do Distrito Federal.
Contato para palestras, conferências, eventos, mentorias e avaliação de pitchs: [email protected].
Currículo Lattes – Prof. Manfrim
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