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Brasília

Olímpica 27

Arquivo Geral

22/08/2016 9h05

O sono não tem sido bom companheiro nos últimos dias. Na realidade, em várias noites ele me abandonou. O sentimento de perda veio forte quando, passada a primeira semana, comecei a me dar conta que estava chegando ao fim.

Fiquei imaginando como seria (será) sair de casa e não ver mais as ruas da minha cidade preenchidas por voluntários orgulhosos de suas roupas coloridas. Vou continuar procurando aquele monte de gente andando para lá e para cá procurando a instalação mais próxima para ver a disputa de um esporte que, até outro dia, era praticamente desconhecido. Ficarei atento ao whatsapp, esperando mensagens de amigos jornalistas vindos de todo o mundo, mas trabalhando, muito, no meu Rio de Janeiro.

Sim, o sono me abandonou. Deu lugar ao sentimento de perda de algo que, na verdade, nunca foi meu. Mas estava ali, ao meu lado, fazendo sentir que minha cidade, meu país, podem um dia dar certo, por mais que governantes irresponsáveis façam o possível para que eu não acredite mais nisso.

Para completar, maldade das maldades, na véspera do adeus a história foi refeita, ou melhor, recebeu uma pequena correção para aliviar nossos corações tão maltratados. A medalha de ouro do futebol masculino (sei que está errado, que futebol é futebol, mas escrever “medalha masculina no futebol” ia ficar muito feio), obtida no sábado à noite, depois de 120 minutos de bola rolando e dez pênaltis só fez aumentar a insônia.

Lembrei de outras conquistas que embalaram o garoto que aprendeu a ler numa revista de esportes e sonhou, por toda a vida, transformar-se em jornalista esportivo e cobrir uma Copa do Mundo, uma Olimpíada, um Mundial disso ou daquilo. E conseguiu. Sono danado que me abandonou e faz com que os dias fiquem ainda mais longos para que eu curta essa saudade maldosa de uma festa que acabou justamente quando ficava cada vez melhor.

A Cidade cada vez mais Maravilhosa ainda tem muitas coisas para resolver. Há várias obras inacabadas (tomara que terminem), mas como foi bonito ver uma parte do centro histórico, até outro dia destruído, virar lugar de passeio das famílias. No penúltimo dia dos Jogos Rio 2016, segundo as estatísticas oficiais, passou por lá mais de um milhão de pessoas.

Sabem o que é isso? É quase um quarto da população de um país como a Croácia, que chegou aqui e carregou quase tantas medalhas de ouro quanto nosso gigantesco Brasil conseguiu. E, sinceramente, não estou preocupado com isso. Ou melhor, queria (quero), sim, que meu país ganhasse tudo. Mas com um projeto de inclusão social pelo esporte, desenvolvendo a nossa base, não importando apenas com a conquista de medalhas douradas ou prateadas para essa nossa gente bronzeada.

E a insônia pelo fim veio, várias noites, acompanhada pela insônia da tristeza. Como explicar a eliminação das nossas meninas do vôlei depois uma campanha de tirar o sono das adversárias? Seria o tri digno do nosso vôlei feminino (de novo erro, mas não quero nem saber…). E nada dessa bobagem de “empoderamento” feminino, porque no esporte sempre soubemos respeitar o chamado sexo frágil, brilhasse ele no basquete (que decepção nossa seleção), na natação, no atletismo ou no futebol.

Futebol… Quanta injustiça ver Marta e Formiga encerrarem suas trajetórias na seleção sem um título para chamarem de seu. O que tem de maravilhoso tem de cruel o esporte. Mas elas, e as meninas do vôlei, e todas as demais jogadoras das seleções de futebol e handebol, levarão, para sempre, o carinho da nossa torcida. E ficarão me devendo horas e horas de sono.

Acabou… E não volta mais. O sono, acredito, daqui a pouco vai se normalizar. Mas o sentimento de tristeza, de perda, de olhar para as ruas e não ver mais aquela multidão que descobriu que o Rio de Janeiro não é tão violento como uns moleques bobos vindos dos Estados Unidos quiseram vender para o planeta vai continuar tirando meu sono e fazendo cair, de vez em quando, alguns ciscos nos meus olhos.

Os mesmos olhos que viram um recorde olímpico acontecer com um brasileiro que quase não teve família, mas se superou. Ou um norte-americano que trouxe toda a sua família para vê-lo despedir-se das piscinas provando ser o melhor. Tão bom quanto um jamaicano que voou nas ruas do subúrbio carioca e se tornou “um local” a ponto de ensaiar sambar no Engenhão e vibrar com o nosso futebol no Maracanã.

O que eu posso fazer a partir de hoje para substituir tudo isso que vivi nos últimos dias e sei que nunca mais vai se repetir?

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