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Brasília

Olímpica 22

Arquivo Geral

18/08/2016 10h45

Na manhã de terça-feira, lá pelas 7h30, caminhava pela Nossa Senhora de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, um rapaz, ainda visivelmente com excesso de álcool em sua corrente sanguínea. Mais ou menos normal a cena para quem acorda cedo, apesar de ser um dia de semana. Chamava a atenção, porém, a indumentária do jovem: bermuda, camisa amarela com a logomarca de um banco, boné em verde e amarelo e pinturas no rosto representando a bandeira do Brasil. Estava claro que se tratava de um torcedor do vôlei. Certamente comemorou até não poder mais a classificação brasileira no vôlei masculino, obtida na noite anterior, depois de uma vitória dramática sobre a França – nós continuamos, eles voltaram para casa.

Amante do esporte, ex-assessor da Confederação Brasileira de Vôlei, jornalista que estava na estreia de Bernardinho no comando da equipe masculina, fiquei imaginando como seria a comemoração da galera caso se confirmassem as possíveis quatro medalhas de ouro no vôlei: o tricampeonato das meninas na quadra; mais um ouro (finalmente, de novo) dos garotos, também na quadra; e duas medalhas douradas no vôlei de praia, que, por sinal, está sendo realizado ali pertinho de onde vi o rapaz com mais álcool do que sangue nas veias. E o dia decisivo para três das possibilidades seria justamente a terça-feira.

Entre as meninas do vôlei de praia, com uma dupla em cada semifinal, conseguimos emplacar, já no início da madrugada de ontem, a presença da dupla Ágata e Bárbara, depois da triste eliminação de Talita e Raissa, derrotadas pelas alemãs. O sonho do ouro continua. Para os homens, já com apenas uma dupla na luta, outra presença na decisão: Alison e Bruno Schmidt bateram os holandeses e mantiveram a esperança da medalha de ouro. Restava confirmar a classificação do time de José Roberto Guimarães – seria à noite, no Maracanãzinho lotado e contra uma China que passou a primeira fase à meia boca.

O início da partida confirmou o que se esperava: Brasil arrasador, firme e forte para passar às semifinais e manter-se no caminho de mais uma medalha de ouro. Só que as chinesas “encaixaram” o jogo e viraram para 2 a 1. O quarto set foi um sofrimento, mas o Brasil levou. E, como dizem que sofrido é mais gostoso, fomos para o quinto set com os corações pulando e a esperança/certeza da passagem à semifinal. Não deu. E as lágrimas rolaram. Rolaram dos torcedores, das jogadoras, do neto do treinador. O sonho estava desfeito.

A quinta colocação, simbólica, com todo o respeito e sem qualquer espírito esportivo, não representa nada. Depois de anos subindo ao pódio, lutando até o fim (quem não lembra da improvável classificação em Londres, há quatro anos?), a seleção feminina de vôlei do Brasil caia justamente dentro da sua casa. Espero que quando o leitor estiver com a coluna na tela de seu computador, hoje, o time masculino tenha passado pela Argentina e esteja, ainda, brigando pelo ouro.

Mas se o vôlei de quadra feminino nos arrancou lágrimas de dor, como mais cedo havíamos chorado com as meninas do futebol e do handebol, no boxe as lágrimas foram de alegria. Pela primeira vez o lugar mais alto do pódio no boxe foi de um brasileiro. Um baiano porreta chamado Robson Conceição, que bateu, em decisão unânime dos juízes, o francês Sofiane Oumiha – aliás, Brasil e França tornou-se um clássico dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Para quem, como eu, acompanhou a luta por uma transmissão de rádio, foi engraçado ouvir o comentarista falar que, no primeiro round, o brasileiro tinha sido pior e os juízes darem a vitória a Robson; no terceiro round, a opinião foi contrária – e mais uma vez o comentarista errou. Seria risível, se não fosse triste.

Finalmente, para encerrar a coluna de hoje, vale registrar, ainda, a questão do francês do salto com vara. A cerimônia da entrega de medalhas aconteceu na noite de terça-feira – a prova foi na véspera. Enquanto as bandeiras subiam e se ouvia o hino nacional, o francês Renaud Lavillenie chorava. Não sei se pela derrota, não sei se por mais uma vez ter sido vaiado, não sei se por arrependimento pelas bobagens que falou. Mas chorava. Contrastando com os sorrisos de Thiago Braz, nosso campeão e recordista olímpico, e do norte-americano Sam Kendricks, bronze feliz da vida. Braz e Kendricks, inclusive, pediram ao público para parar de vaiar. Foram atendidos. Encerrada a cerimônia, os dois, brasileiro e francês, foram conversar com o ucraniano Serguei Bubka, lenda do salto com vara. Aparentemente fizeram as pazes. Como diz Bubka, o atletismo precisa deles. E o francês precisa aprender que torcedor é para torcer, não para ver uma competição como se estivesse numa ópera (que emociona, arranca aplausos e faz chorar, também).

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