Menu
Brasília

Olímpica 14

Arquivo Geral

10/08/2016 7h26

Atualizada 09/08/2016 13h27

A medalha de Rafaela Silva, no judô, me fez lembrar situação que enfrentei em 1999, durante o Pan-Americano de Winnipeg, no Canadá. Eu era o assessor do Comitê Olímpico do Brasil (na época, Comitê Olímpico Brasileiro) e aquela era, naquele momento, a melhor participação do Brasil na história dos Jogos. Natural que houvesse grande frisson pelos resultados, pelas medalhas, pelos recordes. Madrugada no Rio (o Canadá está em horário contrário pelo fuso, só para explicar), toca o telefone e do outro lado da linha estava um “colega” precisando de ajuda para fechar uma matéria. Normal, faz parte do trabalho dos assessores. Vem a pergunta: “Quantas medalhas São Paulo ganhou até agora?”

Surpreso, fiz-me de desentendido e perguntei o que ele, o “colega” paulista (ou incorporado como tal), queria efetivamente saber. Pensando que eu estava com sono, ou era burro, mesmo, repetiu a pergunta com irritação: “Quantas medalhas São Paulo ganhou até agora?” Percebendo que o citado “colega” estava impregnado de preconceitos e não possuía inteligência suficiente, respondi secamente “o Brasil já ganhou x medalhas de ouro, y medalhas de prata e z medalhas de bronze”. Foi o suficiente para o “colega” irritar-se e dizer que isso ele já sabia, mas necessitava da informação de quantas medalhas tinham sido conquistadas “por paulistas”.

Contando até três mil e vinte e nove, lembrei ao “colega” que era o Brasil quem estava competindo e não temos esta distinção se o atleta é paulista, mineiro, acreano, cabendo, depois, aos estados de cada um, prestarem as homenagens que acharem devidas. Cheguei a perguntar, lembro bem disso, se Oscar, o grande astro do basquete, era, para ele, paulista – diante da resposta afirmativa, fui obrigado a destruir suas ilusões lembrando que o Mão Santa era (é), na verdade, potiguar, tendo orgulhosamente nascido em Natal. Sentindo que seus anseios preconceituosos não seriam satisfeitos, o “colega” agradeceu e desligou, não conseguindo prosseguir na sua sanha separatista/esportivo.

E por que contei esta história? Pela enxurrada de manifestações piegas que estou lendo desde a brilhante conquista de Rafaela Silva. Ninguém destaca seu lado esportivo. Fazem questão, apenas, de salientar que ela veio de uma favela, que é negra, é pobre, é mulher. Caramba! Destaquemos o valor que essa mulher deu ao esporte e através dele alterou o que poderia ser o rumo de sua vida. Louvemos, sim, sem dúvida, o feito, mas sem querer diminuí-lo ou aumentá-lo porque foi alcançado por alguém assim e assado. Uma colega (esta sim, sem aspas) publicou em sua página em rede social que não há diferença entre os esportistas. Citou o caso de Felipe Wu, descendente de orientais, que também chegou ao pódio olímpico. Reproduzindo a frase desta colega, “temos de parar de classificar as pessoas”.

Valorizemos os atletas, que contra tudo e contra todos, superam problemas e alcançam objetivos teoricamente inalcançáveis. Valorizemos os atletas e seus feitos, sejam eles roxos, amarelos de bolinhas cor de prata ou azuis; sejam gordos ou magros; pobres, milionários ou refugiados. O esporte tem isso de bom e necessário: não se importa com rótulos, com ideias preconcebidas. E por isso o esporte é uma forma de integração entre os povos e por isso deve ser respeitado (apenas lembrando que, para os Jogos Olímpicos, na antiga Grécia, até as guerras eram paralisadas).

Virou, mexeu, e o campeão do primeiro turno (título simbólico, claro, mas que vale para colunistas e torcedores falarem um pouco mais sobre o tema) do Brasileiro 2016 é mesmo o Palmeiras. Apesar de o time dirigido por Cuca ter tido uma quedinha na reta final das 19 primeiras rodadas, na combinação de resultados acabou terminando mesmo na primeira colocação. Nem o fato de alguns jogos terem sido adiados alteraria esta situação: apenas o Grêmio teria condições de diminuir a diferença para um ponto e tomar do Atlético Mineiro a segunda colocação. Nada mais do que isso. Fechado, com ressalvas, o primeiro turno (parece aprovação de contas de político…), vemos que o título deverá mesmo ser definido entre sete times: Palmeiras, Atlético Mineiro, Corinthians, Flamengo, Santos, Grêmio e Atlético Paranaense, citados pelas colocações que ocupam no momento. A luta contra o rebaixamento está mais complicada. Tem gente que entra e sai; tem gente que entrou há tempos, mas está querendo sair; e tem gente que não sabe se entra ou sai. O que não mudou, até agora, é a questão da arbitragem: antes mesmo de Falcão ser banido do Internacional (ó Senhor, até quando os dirigentes vão trabalhar desta forma?), a arbitragem colaborou para que o Colorado ganhasse um pontinho; Cássio continua podendo bater que não é expulso – e o Timão também ganha pontinhos preciosos. Depois não querem que se diga que são favorecidos…

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado