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Histórias da Bola
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O CANELAÇO DE BENÊ

Arquivo Geral

08/10/2017 19h43

Todos os dias, fizesse sol ou chuva, ele saía de casa, com os pés descalços e roupas sujas e rasgadas, para engraxar sapatos e ajudar na renda dos pais, Nazaré e José Carmo de Souza. Do apurado, tirava o que desse para comprar o ingresso mais barato de jogo do Corinthians. Saía de São Caetano do Sul e se juntava à galera alvinegra, nos estádios da capital, explodindo gritos de paixão.

As fugas do garoto Benedito Carlos de Sousa para ir aos jogos corintianos rendiam-lhe surras mandadas pela mãe, quando ele voltava pra casa. Mas não reclamava, como se trocasse o castigo pelo prazer de ver, ao vivo, a bola rolando nos pés dos seus ídolos, que o faziam dizer que, um dia, também vestiria a mesma camisa – motivo de gozação.
Quem imaginaria ver um garoto franzino, com pernas finas, sendo goleador do “Timão”? Só ele mesmo. Quando tinha 16 anos de idade, Benê arrumou calção, meiões, chuteiras e foi ao Parque São Jorge pedir uma chance ao treinador Rato, isto é, José Castelli, um dos maiores ídolos da história corintiana, entre 1921 a 1937, em 200 jogos, 67 gols e seis títulos de campeão paulista. Jogara, também, na Itália. Como treinador, estava em sua sexta passagem pelo clube, a partir de 1942.

Ao ver um garoto sem nenhuma pinta de jogador, Rato não botou muita fé nele. Mas deu-lhe uma chance entre os juvenis. Benê demonstrou força de vontade impressionante durante os treinos, foi aprovado e inscrito no Departamento Amador da Federação Paulista de Futebol. Ninguém acreditou, em São Caetano do Sul, além de sua mãe fazer de tudo para ele desistir daquilo. Mas o pai o apoio e, dos infantis, ele subiu para os juvenis e, pelo afinal de 1966, já entrava no time misto, prestigiado pelo treinador Zezé Moreira. Já lia jornais falando dele.

Quando entrava em campo, Benê não acreditava estar ao lado de Dino Sani, Nair, Rivellino, Paulo Borges, Eduardo, os cobras que ele aplaudia lá da geral dos estádios. Em 1967, quando o treinador já era Lula (Luis Alonso Peres), ele passou a titular – esteve, depois, emprestado ao Vasco da Gama.

Nascido na capital paulista, em 25 de maio de 1946, Benê foi corintiano entre 1963 a 1971, por 161 jogos, com 83 vitórias, 42 empates e 36 escorregadas. Marcou 50 gols, nenhum tão comemorado quanto o de Corinthians 1 x 1 São Paulo, em 17 de dezembro de 1967, no Pacaembu, pelo returno do Campeonato Paulista. A torcida são-paulina já comemorava o título que via, há 10 anos, quando, no último minuto e de canela, Bené empatou o jogo. Com o “Timã” fora da luta pela taça, ele foi saudado, como um herói. Para a torcida alvinegra, o que importava era ter impedido a festa do rival.

Aquela última bola do jogo, obrigou os são-paulinos a fazerem um jogo extras, pelo título, com o Santos de Pelé, na noite chuvosa de 21 de dezembro. O time tricolor paulista se dera bem durante o sorteio dos uniformes, ganhando o direito de usar o seu tradicional listrado de banco, preto e vermelho, na vertical.

O Santos havia perdido o título estadual de 1966, para o Palmeiras, e não queria conversa. Pra variar, o “Rei Pelé” estava em grande noite e participou das duas mordidas do “Peixe” na rede, liquidando a fatura em apenas 13 minutos, com gols de Edu Américo e de… O São Paulo só conseguiu fazer o dele, por Babá, aos 43 do segundo tempo, quando o caneco já estava na caçapa da Vila Belmiro.

Assim que o juiz Armando Marques – auxiliado por Eraldo Gôngora e Wilson Monteiro – apitou fim de papo, alguns jogadores são-paulinos começaram a chorar. Para o treinador Sílvio Pirillo, quem derrubara o seu time, na verdade, fora Benê. De sua parte, um eufórico não parava de comemorar na chuva e ainda fazia a volta olímpica sem a camisa.

O São Paulo da época em que acanela de Benê atravessou-e a história era: Picasso; Renato, Bellini, Roberto Dias e Edílson; Lourival e Nenê; Válter, Djair, Babá e Paraná. Três anos depois, o time tricolor paulista quebraria o jejum, com seu time contando com Gérson de Oliveira Nunes que, naquele 1967, era botafoguense e fora eleito “o craque do ano” do futebol brasileiro. O grupo mantinha, dos vice-campeões, Dias e Paraná, e incorporara Toninho, que deixara o Santos para ficar pentacampeão paulista, pois esteve, também, no bi são-paulinos de 1971.

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