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Mídias e Identidade

O reencarnacionismo dos drusos

Arquivo Geral

04/01/2019 17h39

Imagem de religiosos drusos em IsraelDivulgação

 

Trecho de entrevista de Sionei Ricardo Leão e Mourad Belaciano com o ex-embaixador de Israel no Brasil, Reda Mansour. O encontro ocorreu em julho, de 2015, na sede da Embaixada de Israel, em Brasília

 

 

O ex-embaixador Reda Mansour

Crédito: Imagem da Embaixada de Israel

 

 

 

Existe algo na religião drusa que é singular, que é a crença na reencarnação?

Os drusos creem que o espírito de uma pessoa pode nascer em outro lugar, mas não se pensa que o espírito de um ser humano possa tornar-se de um animal. Agora, essa não é uma ideia estranha para as religiões, pois existe na parte mística, por exemplo, do judaísmo na Cabala.

 

 

Qual é a origem do povo druso?

Basicamente, quando falamos sobre os drusos, estamos falando de uma religião monoteísta. Nossa história começou no Cairo, em 1017, com um grupo de religiosos que se propôs a criar uma ideologia com elementos do Islã, do judaísmo e do cristianismo. Foi um movimento milenar que absorveu várias influências como a filosofia grega de Sócrates e Platão. Houve também a inclusão de ideias do Oriente como o budismo e o hinduísmo.

 

 

 

Então ser druso é uma afinidade religiosa?

Do Egito chegou-se para o Oriente Médio a identidade de um povo que não se resume a religião. Os drusos têm bandeira própria, com cinco cores. Uma conquista nossa é a de conseguirmos manter a independência enquanto povo nas regiões em que estamos, como no Líbano e na Síria. Somos também uma etnia.

 

 

E como se dá a relação entre a atividade religiosa e a atividade laica?

Dez por cento de nossa comunidade é de pessoas religiosas. Aos 15 anos, os drusos tem que se decidir se vão seguir ou não essa vocação. Portanto, a grande maioria, ou seja, 80% dos drusos são laicos. O sistema druso de relação entre laicos e religiosos facilita a convivência com a comunidade, não havendo pressão religiosa como ocorre em outras religiões. A característica do ponto de vista do vestuário religioso demonstra que nossa cultura tem tudo a ver com o que herdamos do Egito.

 

 

 Onde vivem os drusos?

Estamos em quatro países. Ao todo, somos cerca de 1,5 milhão de drusos atualmente. Há drusos na Síria, no Líbano, Israel e Jordânia. Em Israel, são120 mil. Temos também imigrantes drusos no Brasil, EUA e Austrália.

 

 

Qual o status da Embaixada de Israel no Brasil para o corpo diplomático israelense?

É um cargo muito alto. Chega aqui apenas o diplomata que está no nível mais alto da chancelaria israelense. Até porque Brasil e Israel têm relações muito profundas. Estamos finalizando um protocolo de cooperar com o Brasil do desenvolvimento de aeronaves de abastecimento, porque o Brasil precisa muito pela sua dimensão continental.

 

 

De modo geral, como o senhor avalia a imagem de Israel internacionalmente?

Há uma falta de conhecimento mais profundo sobre a região e seu contexto histórico e político. Com tantas tecnologias disponíveis, se torna mais fácil promover e divulgar informações equivocadas. Talvez o governo de Israel precise investir mais na propagação de notícias que mostrem de forma mais clara a realidade local. A nossa região produz muitas notícias e temos que primar em difundir informações que reforçam a importância de Israel no Oriente Médio para o mundo. Infelizmente, existe uma preponderância da mídia em priorizar, sob um determinado foco, o conflito com a Palestina, o que leva a várias distorções. Até porque esse conflito é político. Não é religioso, tampouco cultural. Temos árabes como embaixadores, professores e até generais.

 

 

Inicialmente, os drusos tinham uma unidade separada no Exército de Israel, qual foi o motivo?

Sim, houve o Batalhão Druso. Por um lado, nós nos empenhamos por manter nossa identidade étnica. Nos primeiros anos, os drusos apenas falávamos árabe, então havia dificuldade de se integrar. Hoje, temos drusos em todos os espaços. Isso significa também que há militares de nossa etnia em todas as unidades das Forças Armadas. Para nós, é um processo importante de integração essa convivência militar.

 

 

Como o senhor avalia a interação entre o povo druso e o povo judeu?

De certa forma, os drusos têm desafios semelhantes dos judeus na convivência com outros povos. No entanto, o Estado de Israel convive bem com as minorias. A vida das pessoas de diversas identidades não poderia ser mais tranquila no país, até porque temos 1.5 milhões de árabes no território. Nossa língua é árabe, nossa cultura é árabe. Os drusos, especificamente, vivem em um modelo de convivência que nos dá esperança quanto ao futuro do país. Provam que árabes e judeus não precisam, necessariamente, estar em guerra.

 

 

Os drusos participam e estão integrados no Exército de Israel, mas isso não ocorre com todos os árabes?

Os árabes são solidários aos palestinos, por isso, não há serviço militar obrigatório. No entanto, temos serviço voluntário, que recebe muitos muçulmanos. Por esse motivo, foi criado um serviço civil voluntário, para se atuar, por exemplo, em hospitais, posto do governo e polícia nacional.

 

 

Em que segmentos da economia os drusos estão mais presentes em Israel?

Hoje, os drusos atuam em várias áreas da economia, mas a maior atribuição é a segurança nacional, o que corresponde a 30% da economia drusa. No mais, a atuação é bastante variada. Um dado relevante é que nas nossas aldeias recebemos muitos turistas. Após esses anos todos, conseguimos ter uma integração que levou a termos drusos em áreas de liderança governamentais como no corpo diplomático.

 

 

Essa vocação militar é específica dos drusos em Israel?

Os drusos no Líbano estão nas unidades mais importantes do Exército. Na Síria também. O nosso modo de pensar leva a essa lealdade aos Estados em que estávamos, o que se traduz nessa participação nas organizações militares, mas a segunda prioridade é a nossa comunidade. Essa é uma estratégia de sobrevivência de minorias no Oriente Médio.

 

 

E como se dá a relação entre a atividade religiosa e a atividade laica?

Dez por cento de nossa comunidade é de pessoas religiosas. Aos 15 anos, os drusos tem que se decidir se vão seguir ou não essa vocação. Portanto, a grande maioria, ou seja, 80% dos drusos são laicos. O sistema druso de relação entre laicos e religiosos facilita a convivência com a comunidade, não havendo pressão religiosa como ocorre em outras religiões. A característica do ponto de vista do vestuário religioso demonstra que nossa cultura tem tudo a ver com o que herdamos do Egito.

 

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