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Sobre o “Felis Natal”

Arquivo Geral

11/12/2018 7h00

Atualizada 10/12/2018 21h43

Vocês viram aquela notícia do funcionário de uma prefeitura que, na maior boa vontade, resolveu escrever numa folhagem uma mensagem de feliz Natal e saiu como está aí no título acima? Deu um quiproquó danado.

Pra refrescar a memória

Não faz muito tempo, afinal foi na semana passada, mas é bom fazer um bom relato do fato pra gente lembrar ou até mesmo pra que aquelas pessoas que não souberam possam ter uma ideia do que ocorreu, além de exercitar nossa capacidade de redação descritiva.

Um cortador de grama de uma prefeitura teve a ideia de deixar um recado carinhoso na folhagem que podava: “Feliz Natal”. Ocorre que, ao iniciar a escrita do “Natal”, percebeu que fizera “Felis”. Resolveu retirar. Entretanto, antes que o conseguisse, alguém passou, tirou uma foto e partilhou nas redes sociais com recados depreciativos. Foi isso.

Vamos avaliar por que ocorreu isso

A grafia da palavra, evidentemente, está equivocada. Segundo o Vocabulário Ortográfico da Língua portuguesa (Volp), e todos nós sabemos disso, a forma indicada para escrever a palavra é “feliz”. Ele também sabe disso, tanto que disse perceber depois e resolveu destruir o trabalho com o engano.

Você sabe o que é arquifonema? Em fonética, há um tipo de alfabeto que mostra como se pronuncia uma palavra. Nessa transcrição, os arquifonemas indicam um grupo de sons que não apontam diferença na compreensão da palavra. Como você pronuncia o “z” em feliz? Alguns com /x/, outros com /s/ e arrisco dizer que alguns fazem um /r/. Como quem fala “é isso ‘mermo’”. Não é? Por isso, temos, aí, o arquifonema /S/. A pronúncia traiu nosso protagonista.

E o fato serviu pra quê?

Você já ouviu falar em “preconceito linguístico”? Marcos Bagno fala muito apropriadamente disso no campo da sociolinguística. Sugiro que os interessados procurem sua produção sobre isso. Vale a pena.

Dentro desse campo, o que se fala ou se escreve pode ser usado para desqualificar alguém, para tentar demonstrar superioridade de conhecimento ou para o prazer da chacota. O fotógrafo transeunte aproveitou para depreciar o trabalhador e, talvez, a empresa. Pode ser que quisesse mostrar saber que feliz é com “z” e não com “s”, ou até apresentar um furo “jornalístico”.

Pelo sim, pelo não, aprendemos com a Prefeitura, que lançou uma nota parabenizando o funcionário por sua atitude e boa vontade. O desejo de um “Feliz Natal” é bem-vindo a todos. A falha gritou mais alto para algumas pessoas. E lembro que ele apagou em seguida. Um equívoco gramatical, dentro da exigência da norma padronizada, não pode servir para o propósito de desqualificar pessoalmente. Há seus círculos, seus registros, suas intenções a serem observadas no ensino da língua falada, escrita e até aspectos semióticos. Assim, não dá certo nunca. Uma lição para todos nós.

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