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O verbo “banir”

Arquivo Geral

25/12/2018 7h00

Atualizada 23/12/2018 22h28

Muitas palavras ou expressões que ouvimos trazem estranhamento. Isso é normal, especialmente se considerarmos que a linguagem faz parte de um contexto social. Os significados das palavras são explicitados nos dicionários, mas tomam outros rumos por pragmática, que envolve equívocos no uso.

Os ambientes da palavra

Creio que o vocábulo “banir” voltou a ser muito falado hoje em dia por causa do ambiente virtual de redes sociais. Notem que em grupos de WhatsApp, nas comunidades de Facebook, nas ainda utilizadas salas de bate-papo de páginas eletrônicas e em outras plataformas, as pessoas são ameaçadas de serem banidas por certas atitudes reprováveis. Daí, já está sendo mais utilizado o termo “ban”, mais apropriado nesses contextos.

O mundo jornalístico também usa muito a palavra “banir” em reportagens para demonstrar punições em que pessoas ou grupos são condenados a deixarem algum local, região ou sociedade. Recentemente, ouvi algo como: “A torcida organizada ‘tal’ foi banida dos estádios por 2 anos”. Aí… estranhei!

O que mostra o significado do lexema

Lexema não é uma palavra largamente utilizada, mas é um termo usado para designar as unidades com significado. Aquelas que, geralmente, você encontra no dicionário. Portanto, “banir” traz uma carga de expulsar de um lugar, geralmente a pátria, afugentar, proibir a participação em um determinado convívio ou que faça parte de alguma sociedade.

O verbo traz, em seu significado primevo, um sentido definitivo. Alguém que era banido não deveria aparecer nunca mais. Não há a possibilidade de pena de banimento por algum tempo. Uma vez banido, sempre banido. Por isso, estranhei o uso da punição por algum tempinho. Se assim for, creio que se poderia utilizar os verbos “suspender”, “afastar” ou “desligar”. Isso demonstraria o caráter temporário da medida ao determinar o tempo de punição.

A peculiaridade do uso

Além disso, banir tem a característica de verbo defectivo. Ele é conjugado somente nas formas em que depois do “n” venham as vogais “i” ou “e”. Então, nada de “eu bano” ou “que ele bana”. Por isso, não existem a primeira pessoa do presente do indicativo e todas do presente do subjuntivo, por exemplo.

Banir, portanto, seja nas redes sociais, até com o já consagrado – mas ainda não dicionarizado – “ban”, ou nas mais antigas definições dos livros de consulta de significados das palavras, é ação que não tem volta. Se está banido, nem reza braba dá perdão.

Mas, entretanto, contudo, todavia… como no exemplo das torcidas, encontramos uso de banimento por algum espaço de tempo. Ocorre que alguns banidos imploraram por volta e conseguiram. Daí, imagino que o verbo banir acabou sendo amenizado. Eu, mesmo assim, estranho essa prática e só uso com sentido de expulsão sem volta. Assim recomendo.

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