Menu
Notícias

O lance da muçarela

Arquivo Geral

06/02/2018 8h00

Atualizada 05/02/2018 11h55

Sabe aqueles encontros de boteco, quando você conhece algumas pessoas e começa a falar da sua vida e ouvir histórias também? Pois é, revisores e pesquisadores da língua também têm algumas pra contar. Lá vai uma.

Muçarela com cê-cedilha

Como eu anunciei, estava participando de um momento de descontração num desses bares de Brasília, quando, na mesa do lado, havia um grupo bem animado e simpático. Um dos “vizinhos” puxou um papo sobre língua portuguesa (nunca sei como começa) e descobriu que eu era revisor de um jornal da cidade.

Em seguida, ele rachou de rir e falou: “Ah! Você trabalha lá? Aquele jornal tem um montão de erro”. Eu disse: “Acontece. Sempre vai acontecer. É muita correria e às vezes passa alguma coisa”. Ele continuou: “Sabe o que eu vi um dia escrito lá? Muçarela com cê-cedilha”. Seguido de um grande “huahuahua”. Eu dei um sorriso amarelo e falei somente: “É. Acontece”.

A aula sobre “dar aula”

Um grande amigo que estava comigo, o argentino Andrés Ayala, torcedor do Colón de Santa Fé (e do Vasco) que hoje mora no Paraguai e é casado com uma alemã (sim, ele é a globalização ambulante), e entende das regras de nossa língua mais que muitos brasileiros, me perguntou: “Você não vai dizer a ele que muçarela se escreve mesmo com cê-cedilhado não?”. Respondi: “Não. Deixa ele pensar que é com ss. Acho que uma aula não é de graça”.

Se ele tivesse perguntado ou, pelo menos, dado oportunidade à dúvida, não é mesmo? Enfim, se é uma surpresa para você, vamos lá: a palavra se escreve, segundo a norma do português, com “u” e “ç”. O nome da letra, originalmente, é cê-cedilhado, conforme o Volp, mas pode-se escrever cê cedilhado ou, como já se adota, cê-cedilha. Também, para o português, há a versão “mozarela”, com “o” e “z”. Nada de ss, como é o mais comum se ver, tá bom?

E sobre a oportunidade da dúvida

Ter muita certeza já é algo de que se deve desconfiar. Eu gosto de sempre deixar margem para a dúvida e consultar em seguida (ou na hora, se for possível). No máximo, o que pode acontecer é ganharmos uma aula, aprender algo novo e até ter aquela surpresa agradável.

Outra vez, eu participava de uma reunião com jovens, quando, em meio à discussão, um deles falou para o outro: “Aí eu desconcordo de você”. Na hora aquilo me alertou o dispositivo de “tem algo errado aí”. Claro, estamos acostumados com a palavra “discordo”. Por causa do ambiente e da quantidade de pessoas, não falei nada e esperei. Deixei chegar em casa.

A primeira coisa que fiz foi abrir o dicionário e procurar. Lá estava o bendito verbo “desconcordar”. É lógico. Construção perfeita: o prefixo des- somado ao verbo concordar, gerando “não concordar”. E eu aprendi que a palavra existia.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado