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Mais teimosias na fala e na escrita

Arquivo Geral

04/12/2018 7h00

Atualizada 03/12/2018 21h08

Outro dia desse falei, aqui mesmo neste nosso espaço do Mandando a Letra, sobre teimar em escrever ou falar diferentemente do que orienta a gramática normativa. Os exemplos de teimosia podem ser conscientes, nem tanto ou subconscientes. Vou dar mais alguns exemplos abaixo. E são meus mesmo.

Relembrando o lance da insistência

Tempos atrás eu dei como exemplo dessa minha falta de observação das normas gramaticais o verbo suicidar. A orientação é utilizá-lo como pronominal, ou seja, como exemplo: “Alguém se suicidou”. Mas eu coloco em meus textos “Alguém suicidou”. Não pela questão do latim, mas mais pela pragmática da palavra: quem suicida não pode fazê-lo com mais ninguém a não ser consigo próprio.

A outra situação que exemplifiquei foi o substantivo feminino de diácono (é um cargo de igreja). Tradicionalmente, temos diaconisa. Entretanto, eu faço a utilização da transformação com o sufixo mais comum para o feminino: o -a, o que nos dá “diácona”. Não, não tem no dicionário nem no Volp. É coisa minha, consciente, mas que não aconselho aos concurseiros, vestibulandos e alunos em geral.

E a questão nem tão consciente?

Acontece que na semana passada, aqui mesmo neste nosso espaço, utilizei o adjetivo monstro e fiz a concordância de gênero: “palavra monstra”. Logo, logo, meu amigo atento Miguel Montagner, professor companheiro nas aulas da UnB em Ceilândia, lembrou que fora orientado que monstro, como adjetivo, não variava.

Sim, Miguel. Ainda que eu tenha exercido uma licença consciente, por fazer o movimento natural do adjetivo: concordar em gênero e número, o “monstro” é adjetivo de dois números e dois gêneros, o famoso “adj. 2s. 2g.”. Ele não varia. Isso se deveu ao contato com trotes do Mução, vocês conhecem? Coisas de variação de uso, como o amigo Weider Rocha também pesquisou bastante no dialeto do interior de Goiás. Portanto, não varie o adjetivo monstro.

E o inconsciente que nos leva a cometer equívocos

Este fato eu já comentei com alguns amigos do Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade (Nelis), da UnB. É um fenômeno que eu batizei de contra-hipercorreção. Primeiro, é bom saber que a hipercorreção consiste em ficar tão ressabiado para não cometer um erro que a pessoa acaba realizando outro. Exemplo: “Já são uma hora”. Isso ocorre porque sempre que alguém diz “já é três horas”, a pessoa é corrigida: “SÃO três horas”. Surge esse e o “Já são meio-dia” (erro!).

Eu mesmo me peguei falando, muitas vezes, no calor do papo: “Eu tinha ‘escrevido’ sobre isso. Relaxei com as críticas a “pego e pagado”, já que podem os dois. Fim: cometi aquele equívoco inconsciente provocado pela “contra-hipercorreção”. “Escrevido” não existe. Com isso, aprendemos que tem teimosia que precisamos corrigir e que não dá pra relaxar em tudo.

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