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Língua e poder: o caso da bo… rosa

Arquivo Geral

26/06/2018 8h00

Atualizada 25/06/2018 11h26

Conhecer ou não um código de comunicação pode colocar a pessoa num jogo de poder. Vimos isso no caso que ficou famoso na Copa da Rússia envolvendo torcedores brasileiros e mulheres nas ruas. O interessante é que esse fenômeno pode ocorrer dentro da própria língua. Mas há vertentes positivas.

O que poder tem a ver com linguagem?

O fenômeno discursivo – a linguagem, a comunicação em si – faz parte de uma prática social que deve ser observada a partir de um contexto. Algumas atitudes são globais, outras vão se particularizando.

Diante disso, muitas relações de poder são percebidas na forma como as pessoas se comunicam. Isso pode ser encontrado em palavras, entonações ou até mesmo silêncios. Então, pela linguagem, até com algo aparentemente inocente, fica evidenciada uma relação de poder.

O caso da bo… rosa

Ficou bastante notória a ação de torcedores brasileiros com mulheres russas em vídeos, pedindo que repetissem a frase “bo… rosa”. Se você não viu ainda, encontrará facilmente pela internet. Com essa atitude, a relação de poder fica marcada pela suposição de que as meninas não sabiam o português. Com isso, falariam o que não conheciam, especialmente num covarde aproveitamento da confiança delas.

Com o poder em mãos, seu detentor pode aproveitar para fazer uma série de escolhas. É bom lembrar que os torcedores, em clima de copa, estão ali para brincadeiras. Poderíamos dizer que, como crianças, escolheram brincar com genitálias (o piu-piu, a pepeca), como com excreções (pipi, cocô, vômitos). Mas, a desculpa não dá. É tanta evidência de “coisificação” da mulher, que não brincaram com outros homens assim. Precisamos evoluir nisso. Em tempo: houve casos parecidos com torcedores de outros países: argentinos, peruanos.

O poder do conhecimento na linguagem

Para demonstrar que a inserção numa vertente da linguagem pode evidenciar uma forma de poder, temos exemplos dentro da própria língua portuguesa. Isso também nos aponta que há variantes tão complexas dentro do mesmo idioma que muita gente não se dá conta disso.

Muitos conhecem a brincadeira que alguns grupos televisivos fazem com pessoas nas ruas. Uma delas, com a qual tive contato, foi uma entrevista em que se perguntava a transeuntes se eram a favor de casamento entre “homo sapiens”. Alguns respondiam com indignação e demonstravam sua total repugnância a tal sugestão. Claro que não aprovariam tal absurdo!

Com essa simples questão, os agentes da pegadinha estavam demonstrando, em primeira análise, duas verdades: a falta de conhecimento geral (já suposta na elaboração do questionamento) e a evidente resistência a casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Quero dizer que haveria outra forma mais humana de brincar lá na Rússia sem ser com tanto desrespeito por outras pessoas.

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