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Crase: a assombração na viagem

Arquivo Geral

23/01/2018 8h00

Atualizada 05/02/2018 11h59

Como algumas pessoas fazem no fim do ano e nas férias de janeiro, eu também viajei. Deparei-me, de novo, com aquela assombração de beira de estrada: a crase que invade locais inesperados como uma praga.

O que é uma crase

Trata-se de uma palavra que vem do grego e que significa basicamente fusão de sons. Daí, a gramática grega utilizou-a para designar a mistura de vogais iguais no fim e no início de palavras próximas. É bom salientar que a crase é marcada graficamente com um acento grave, ou seja, crase é o fenômeno, não é o nome do acento gráfico.

Sendo assim, na gramática do português, a crase é o fenômeno da junção dos sons da preposição “a” com o artigo definido feminino, o pronome feminino ou as iniciais de aquele, aquela e seus plurais, e também aquilo. Basicamente isso.

A determinação é imprescindível

Como vimos acima, quando falamos de crase estamos relatando um fenômeno da junção de dois sons iguais contíguos, dois as. O primeiro “a”, a preposição, é exigida por questão de regência. Se você sabe que quem chega, chega a algum lugar, exige-se essa preposição: “Cheguei ao mercado”.

O outro elemento necessário para configurar a crase pode ser um artigo definido feminino. O que é definido está determinado. Não pode ser uma coisa qualquer. Não pode ser uma. Tem que ser a. Por exemplo: “O atendente se referiu a venda” e “O atendente se referiu à venda de imóveis com mais de três quartos”. Repare a determinação. Já não é uma venda qualquer. Veja o “uma”.

E na viagem?

É comum encontrarmos nos assombrando placas com o seguinte conteúdo: “Retorno à 100m”. Além de 100m não ter determinação, se houvesse, por algum motivo, um artigo, seria “aos”. Algo como “Retorno aos 100 metros”. Portanto, não há a menor possibilidade de haver crase a ser indicada com o famoso acento grave.

Veja um caso em que essa determinação poderia até ocorrer, dando margem ao surgimento da crase, com o uso de um substantivo feminino: “Retorno à distância de 100m”. Será que essa possibilidade subentendida faz aparecer a assombração?

Crase: a assombração na viagem

Nunca vai haver crase quando o substantivo for masculino. Não há fusão de sons iguais com “a” e “o”. Portanto, ninguém pode “amar à Deus”. Sem contar que o verbo amar não pede a preposição “a”. Mas o que esse “a” faz aí então? Deus é objeto direto preposicionado. Assunto pra outro dia. Cenas de um próximo capítulo. Afinal, crase é assunto complexo, que nem cabe em um livro.

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