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Histórias da Bola
Histórias da Bola

Jornalista torcedor

Arquivo Geral

04/01/2018 14h00

A revista carioca “O Cruzeiro” que chegou a ser o maior magazine sul-americano, entre 1928 e a década-1970, vendendo, em seu auge, mais de 500 mil exemplares semanais, prestigiava todos os grandes momentos do esporte brasileiro, especialmente o futebol carioca.

No entanto, as vezes, seus editores e redatores deixavam o lado informativo de lado e assumiam o papel de indisfarçáveis torcedores clubístico, não recomendável ao seu jornalismo de tanta admiração.

Um dos exemplos mais expressivos desse “jornalismo-torcida” pode ser visto na edição de 01.01.1966, quando a semanária publicou foto do time do Flamengo, atravessando páginas e enaltecendo a conquista do título de campeão do futebol carioca do IV Centenário-1965, com uma narração voltada para o estilo épico.

O quarto parágrafo da crônica (não assinada) afirma que nenhuma outra equipe exibiu a mesma “…flama e apetite de  vencedor”, como o Flamengo. Exagero! Diante dos “grandes” Vasco, Fluminense, Botafogo e Bangu, quando
os venceu foi por um gol de vantagem, o mesmo ocorrendo em jogos contra os “pequenos” Bonsucesso e Portuguesa. Mais: chegou a cair, antes os banguenses, por 0 x 3. A única vitória folgada foi sobre o “Bonsuça”, pelo mesmo placar.

Como se vê, a flama e a fome de vitórias não foram como a do redator por jactâncias, pois o última partida rubro-negra, por sinal, uma derrota. Mas levou o caneco, por fazer dois pontos a mais do que o Bangu que, se tivesse vencido o Flu, disputaria uma melhor de três com o Fla, para o qual não havia perdido.

Sem levar isso em conta, “O Cruzeiro” aproveitou as “manifestações de regozijo, do Amazonas ao Rio Grande do Sul”, para jogar pra cima a “imensa e ardorosas torcida (rubro-negra)”, jactando que a tal “infundia ânimo e potencializava o elã do quadro com suas cascatas de aplausos, o ritmo de sua charamga, o alegre ou furioso agitar das bandeiras…nos seus mudos
gritos ou frenética dança de estimulo aos craques” – considerações mais apropriadas a redações dos útlimos períodos dos antigos cursos ginasiais.

Muito mais espírito de torcedor viria adiante. O redator compara o Flamengo com o heróio épico Anteu, afirmando que o time da Gávea captava forças, arrancava energias de sua “torcida descomunal em números e vibração”, e acrescentava que esta o ajudara, muitas vezes, “a transformar uma derrota certa em triunfo espetacular, fazê-lo agigantar-se ante adversário poderoso, ou quando, numericamente, inferiorizado frente a um adversário completo” – em nenhum dos seus jogos, o Flamengo teve atletas expulsos de campo. Logo, falar de “numericamente inferiozado” é outra “patriotada”.

Ao enaltecer os “heróis da conquista”, o redator escrveu que o atacante Silva (Walter Machado) provocava explosões de alegria na massa rubro-negra, fazendo “tremer a sólida estrutura do Maracanã”. E dizia que o Flamengode “era o povo jogando futebol”.

O Flamengo pontouou mais do que os adversário e mereceu o título. Mas não precisava de bajulação da imprensa, do exercício do jornalismo passional, incondizente com a tradição de “O Cruzeiro”.

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