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Histórias da Bola
Histórias da Bola

O último personagem

Arquivo Geral

25/04/2019 12h06

Antigamente, havia um ditado no futebol brasileiro, dizendo que goleiro é tão maldito que, onde ele pisa, não nasce grama. Goleiro, realmente, pode ser herói, por 89 minutos, e bandido, durante a última volta do ponteiro do cronômetro do juiz.

O goleiro, embora use, normalmente, a camisa 1, foi o último a ser definido pelo futebol. Pelos inícios do jogo, a coisa só rolava no pé. Botar a mão na bola era “crime gravíssimo”, principalmente se o cara reincidisse. Inicialmente, qualquer um poderia poderia pegar a bola entrando no gol. Com o tempo, os jogadores passaram a levantar a pelota que, antes, não saía do chão. E a cabecea-la, o que o “foot-ball” não previa. Para isso ser legalizado, pensou-se até mudar o nome do jogo.

Com os jogos já apresentando chutes pelo alto, era difícil evitar o gol, sem meter a mão na bola. Na tentativa de evitar a sua passagem pelo meio das traves, mesmo sabendo que valeria expulsão do jogo, muitos o faziam. Foi então que as regras definiram o goleiro.

Quando havia faltas, fazia-se a barreira em cima da bola. Era sempre pertinho da linha do gol e gerava muitas discussões. Rolou, então, de definirem que só um homem poderia pegar na bola com as mãos. Se a agarrasse, este saía correndo com a pelota e, ao chegar na cara do outro gol, mancava ums sapatada para dentro – coisa do rugby.

Para enfrentar o problema, criaram um risco perto de cada gol. Fora dele, não se poderia mais fazer malandragem. Próximo passo: só um jogador e com todos sabendo quem seria, estaria autorizado a pegar a bola manualmente. Tempinho depois delimitou-se a área do goleiro, como ficou para sempre. Só um problema: naqueles inícios do futebol, todos usavam a mesma cor de camisa, ninguém sabia quem seria o goleiro. Quando alguém pegava na bola com as mãos dentro da área, malandramente, o goleiro dizi ter sido ele. Então, ficou definido que o goleiro deveria usar jaqueta diferente das demais.

Realmente, o goleiro é um sujeito diferente dos demais jogadores de sua equipe. Quem teria sido o melhor deles, desde quando o futebol tornou-se esporte?

O mundo da bola conheceu grandes “arqueiros”, como o espanhol Ricardo Zamora, o tcheco Planika, o alemão Sep Maier, o russo Yashin e o argentino Carrizo, entre outros. No Brasil, Marcos de Mendonça (estudava os atacantes e conseguia colocação perfeita para defender seus chutes), Kuntz (primeirao e fechar o ângulo de chute, indo para cima do chutador), Batatais (grande pegador de pênaltis), Gilmar (bicampeão de Copas do Mundo), Moacir Barbosa e Castilho são sempre citados entre os tais. No entanto, para os treinadores campeões Zezé Moreira e João Saldanha (este, também, jornalista), o maior de todos, entre “brasucas e gringos”, foi Veludo.

Em 7 de março de 1954, no estádio do Libertad, emAssunção Veldo foi um dos principais responsáveis pela classificação brasileira à Copa do Mundo da Suiça. No jogo contra o Paraguai, pegou tudo e soube controlar o ímpeto de colega que queria briga com a torcida que lhe atirava garrafas. O juiz era tremendamente parcial aos donos da casa. Baltazar fez Brasil 1 x 0, mas Veludo foi o dono do jogo e da vitória que encaminhou a classificação, com mais duas vitórias – 1 x 0 Chile e 4 x 1 Paraguai, este no Brasil.

Nascido no Rio de Janeiro e registrado por Caetano da Silva Nascimento – viveu de 07.08.1930 a 26.10.1979 – Veludo fez nove jogos pela Seleção Brasileira, vencendo todos e só levando três gols. Campeão da Taça Oswaldo Cruz-1955/56 e da Taça do Atlâtico-1956, embora disputando todos os jogos das Eliminatórias da Copa-54, nesta o titular foi Castilho, do seu mesmo time, o Fluminense.

Veludo fechava o gol, mas abria o pescoço por dentro. Dizia: “Bebo quando quero e paro quando quero. Só que, agora, não estou querendo parar”. Poderia ter ido mais longe.

Em 1959, o Botafogo andava mal de goleiros. Então, Didi disse ter alguém que resolveria o problema. E levou um cara com a cara inchada por tanta pinga. Não disse que era o Veludo, mas João Saldanha, que era o treinador, o reconheceu. Deu-lhe a chance e o antes (de ser atleta) estivador foi submetido a um trabalho de recuperação e desintoxicação.

O Botafogo calculava recuperar Veludo em dois meses, mas em só um ele já estava pegando tudo. Com os cartolas não acreditavam que ele ficasse mesmo sem beber, facilitaram tudo quando o Atlético-MG o quis levar. Depois, os alvinegros cariocas foram disputar um amistoso contra o “Galo”, em Belo Horizonte, e Veludo fechou o gol. Foi campeão mineiro, mas não segurou a onda por muito tempo. Voltou a beber e deixou uma história de ídolo das torcidas do Fluminense, Nacional, de Montevideu-URU, Canto do Rio, Santos, Atlético-MG, Madureira e Renascença-MG, seu último time, em 1963, com inicio de carreira em 1949 – a “marvada” foi malvada com ele.

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